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Portugal escapa às ondas de despedimentos nas tech

Os grandes nomes das tech estão a despedir, em alguns casos, entre 10% e 15% da sua força de trabalho. Mais que o desempenho financeiro, sustentam os despedimentos num ambiente económico desfavorável e a enfrentar uma forte pressão dos investidores para cortar custos. Com os Estados Unidos a liderarem esta tabela, Portugal parece, ainda, um pequeno oásis.

A Remote, por exemplo, fundada pelo holandês Job van der Voort e pelo português Marcelo Lebre, anunciou, em Junho passado, um processo de despedimento de uma centena de trabalhadores, incluindo a extinção de 8% dos postos de trabalho em Portugal. «Mais que tudo, acredito que os despedimentos nas tecnológicas resultam, de alguma forma, de um necessário reajustamento no mercado», comentou Raquel Antunes. «Não podem, de forma alguma, dizer que a onda de despedimento chegou a Portugal, mas concordo com o facto de que os investidores estão mais exigentes, estando ainda mais atentos à rentabilidade das empresas onde investem o seu capital», ressalva a recrutadora.

Questionada sobre se estes despedimentos podem, de alguma forma, vir a colmatar a falta de recursos que tem vindo a assolar em particular este mercado nos últimos anos, a especialista diz que, muito provavelmente, não: «Mesmo com toda a actual cultura de trabalho remoto, a Europa não terá acesso ao talento agora despedido».

A Farfetch, empresa de moda, de acordo com alguns testemunhos na plataforma Teamlyzer, contactou colaboradores do departamento de tecnologia para propor um pacote de rescisão que engloba uma indemnização em dinheiro. Também a Talkdesk, um unicórnio português que actua na área de cloud contact center, está a reduzir o quadro de pessoal, com o objectivo de «alinhar recursos com as prioridades da empresa» e com o «contexto económico». Fala-se na saída de até 200 pessoas, dos 2100 funcionários que tem a nível global. Neste caso, apesar de a empresa ser nacional, os despedimentos, uma vez mais, vão afectar sobretudo o mercado norte-americano.

Uma questão de ‘higiene empresarial’
Como será o futuro da empregabilidade nas tech? Ricardo Mendes, consultor de recursos humanos, não tem dúvida de que este irá continuar a ser «um dos mais dinâmicos sectores a captar e reter talentos», assumiu em declarações à businessIT. «É verdade que os despedimentos são em grande número, o que não deixa de assustar. Mas convém relembrar que acontecem maioritariamente no mercado norte-americano, que tem uma postura diferente: é muito mais ágil e rápido a reagir, além de ter uma capacidade muito grande de absorção dos recursos disponíveis». O consultor parece não ter grandes dúvidas de que algumas empresas aproveitaram para, de alguma forma, fazer uma espécie de higienização, «limpando os excessos que naturalmente se vão acumulando». Mas tanto Raquel Antunes como Ricardo Mendes dizem que Portugal é um «pequeno paraíso» no que aos despedimentos diz respeito.