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Portugal escapa às ondas de despedimentos nas tech

Os grandes nomes das tech estão a despedir, em alguns casos, entre 10% e 15% da sua força de trabalho. Mais que o desempenho financeiro, sustentam os despedimentos num ambiente económico desfavorável e a enfrentar uma forte pressão dos investidores para cortar custos. Com os Estados Unidos a liderarem esta tabela, Portugal parece, ainda, um pequeno oásis.

Uma razia em 2022
Vamos a números: após um 2021 fantástico para o crescimento das empresas de tecnologia, 2022 foi um verdadeiro ‘annus horribilis’ para muitas delas, sobretudo pela necessidade de diminuir a ‘burn rate’ – ou seja, a velocidade a que a empresa está a perder dinheiro – e, assim, estender a sua liquidez. Durante 2022, segundo a Layoffs.fyi, mais trabalhadores de tecnologia foram demitidos que em 2020 e 2021 juntos. A 14 de Setembro do ano passado, a Twilio anunciava planos de despedir 11% dos seus trabalhadores, entre oitocentos e novecentos funcionários, numa força de trabalho global de 7800 pessoas. Numa carta publicada no seu blogue, o CEO, Jeff Lawson, adjectivou estes despedimentos de «sábios e necessários». Este foi um dos exemplos de empresas que, durante a pandemia, viram o seu número de efectivos quase duplicar, como resultado de um aumento da procura por serviços na cloud e de uma série de aquisições. Aqui, incluem-se a plataforma de segurança de dados Ionic Security e o fornecedor de serviços de mensagens gratuitas Zipwhip.

Já a empresa de assinaturas electrónicas DocuSign, após ter anunciado em Setembro de 2022 a nomeação do seu novo CEO, comunicava o despedimento de cerca de 9% da sua mão-de-obra. O intuito seria o de apoiar os objectivos de crescimento e rentabilidade, assim como melhorar a margem operacional. Em Janeiro, foi noticiado que a DocuSign tinha 7651 funcionários – previa-se que os cortes afectassem cerca de 670 pessoas.
Em Outubro, poucos meses depois de a Oracle ter comprado a Cerner (empresa especializada em dados de saúde) por 28,3 mil milhões de dólares, e de ter anunciado uma primeira ronda de despedimentos, chegava o anúncio de mais um corte de 201 postos de trabalho, numa tentativa de garantir cerca de mil milhões de dólares em economias de custos.

No mesmo mês, e após ter-se comprometido a quase duplicar o seu orçamento para aumentos salariais, a Microsoft despediu perto de mil funcionários. Esta última vaga aconteceu três meses depois de a Microsoft ter despedido menos de 1% (cerca de 1800) dos seus 180 mil trabalhadores e de ter retirado as listas de empregos em aberto para os seus grupos de cloud Azure e de segurança, escreve a imprensa internacional.
Já na Stripe, uma empresa de pagamentos online, foram despedidas 1100 pessoas em Novembro, o que representa cerca de 14% da sua força de trabalho. O CEO Patrick Collison explicava estes cortes com uma «inflacção teimosa, choques energéticos, taxas de juro mais elevadas, orçamentos de investimento reduzidos e escasso financiamento». Na Amazon, o número foi deveras impressionante: dez mil funcionários, segundo um relatório de 14 de Novembro do The New York Times. Embora os cortes fossem apenas uma pequena fracção da força de trabalho de 1,5 milhões de trabalhadores da Amazon, incluem tanto a tecnologia como o pessoal empresarial, de acordo com o relatório. Os exemplos continuam: a Alphabet anunciou o despedimento de mais de 6% da sua força de trabalho em todo o mundo; Meta chegou aos 11 mil coortes, o Twitter dispensou 3750 pessoas, a Zendesk cortou 1350 postos e a Salesforce ficou-se pelos 950.

Mantém-se a tendência de despedimentos
Em 2023, a tendência de despedimentos continua, com as reduções da força de trabalho a serem impulsionadas pelos maiores nomes da tecnologia, como Google, SAP, Amazon, Microsoft, Yahoo e Zoom. As startups também anunciaram cortes em todos os sectores, desde as cripto a SaaS corporativo. O raciocínio inerente a estas reduções da força de trabalho continua a ter um roteiro comum: cita o ambiente macro-económico e a necessidade de encontrar disciplina num tumultuoso caminho rumo ao lucro. Apenas este ano, e segundo a Layoffs.fyi, em Janeiro foram despedidas 84 714 pessoas – feitas as contas, o número de demissões neste mês foi sete vezes maior do que o valor de Dezembro de 2022.