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Portugal escapa às ondas de despedimentos nas tech

Os grandes nomes das tech estão a despedir, em alguns casos, entre 10% e 15% da sua força de trabalho. Mais que o desempenho financeiro, sustentam os despedimentos num ambiente económico desfavorável e a enfrentar uma forte pressão dos investidores para cortar custos. Com os Estados Unidos a liderarem esta tabela, Portugal parece, ainda, um pequeno oásis.

As empresas de tecnologia demitiram dezenas de milhares de trabalhadores nos últimos meses, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, um downsizing que os executivos atribuem ao excesso de contratações durante a pandemia. E, na generalidade, fizeram-no de uma forma cruel. Como escreve a revista Wired, «Big tech is really bad at firing people», qualquer coisa como ‘as grandes tecnológicas são realmente más a despedir pessoas’.

Os relatos vêm de todos os lados: a Microsoft organizou uma actuação privada de Sting, em Davos, na noite anterior à demissão de dez mil pessoas; um funcionário da Google descobriu que tinha sido despedido quando a luz do leitor de cartão do lado de fora de seu escritório em Nova York piscou vermelho, em vez de verde; no Twitter, as senhas foram alteradas remotamente e um ecrã cinza denunciava que o Macbook da empresa tinha sido bloqueado. «A disparidade entre os altos gastos das big tech, e a maneira insensível com que dispensaram os seus funcionários, manchou a sua reputação de bons empregadores e lembrou aos colaboradores que as necessidades das empresas estão subordinadas às dos accionistas», lembra a Wired. As demissões foram, na generalidade dos casos, uma surpresa para os funcionários das tech, cuja falta de comunicação agravou a angústia entre os que agora estão desempregados.

Desilusão nas tech
Os gigantes da tecnologia de Silicon Valley afirmam estar a reescrever o manual de como as empresas devem ser geridas. «A Google não é uma empresa convencional. Não pretendemos tornar-nos numa», escreveram os co-fundadores no seu pedido de 2004 para integrar o mercado de acções. Acontece que a Google, assim como os seus rivais tecnológicos, é ‘decepcionantemente convencional’. E a prova mais recente, como escreve a revista Time, está na forma como demite os seus funcionários.

Da Meta à DocuSign e à Twilio, as empresas de tecnologia despediram mais de 275 mil trabalhadores desde o ano passado, de acordo com o Layoffs.fyi, um site que rastreia as demissões na indústria de tecnologia. Muitas, como a Zoom Video Communications Inc. (que cortou cerca de 1300 empregos), foram recompensadas com aumentos significativos no valor das suas acções – aliás, as da Zoom subiram quase 10% no dia do anúncio da demissão. O Twitter envolveu-se recentemente noutra onda de demissões, supostamente 10% da sua equipa.
Kevin J. Delaney, co-fundador da Charter, empresa especializada em potenciar o ambiente de trabalho, escreveu na Time que, além dessa gratificação de curto prazo ao investidor, estes cortes de pessoal «são uma opção errada». O mesmo garante que estas demissões «costumam ser um obstáculo negativo ao desempenho financeiro das empresas ao longo do tempo», não tornando as empresas «mais lucrativas de forma consistente, com o relacionamento»: ou o agora apregoado ‘engajamento’, com os funcionários e o atendimento ao cliente a sofrerem, geralmente, graves consequências. «Também não está claro se, para a maioria das empresas, os cortes são realmente necessários: muitas das que despediram funcionários, incluindo Meta e Microsoft, continuam tremendamente lucrativas».