Em Foco

2023: um ano de crescimento, apesar da incerteza

No ano passado, as empresas de TI esperavam que 2022 fosse de recuperação, depois da pandemia, e de oportunidades derivadas do Plano de Recuperação e Resiliência. E apesar da guerra na Ucrânia e de um clima de incerteza, que se deverá manter em 2023, acabou por ser bastante positivo. É notória alguma apreensão quanto ao futuro, no entanto, o sentimento generalizado dos líderes das tecnológicas é que a crescente transformação digital da economia continuará a promover o crescimento do mercado e os investimentos em tecnologia.

É sabido que 2023 vai ser um ano de recessão e de crise inflacionária a nível mundial e europeu, com as previsões de crescimento do PIB nacional nos 1,5% (Banco de Portugal) e com a OCDE a ter uma perspectiva mais pessimista e a considerar que a economia portuguesa vai crescer apenas 1%. Mas nada disto parece afectar as tecnológicas, já que o paradigma registado entre 2020 e 2022 parece manter-se: apesar de os gastos com TI serem superiores ao crescimento da economia, a maioria dos gestores considera que as suas empresas vão crescer.

Em Setembro, a IDC indicava que o mercado nacional de TI ia subir 3,9% e ultrapassar cinco mil milhões de euros. No entanto, Gabriel Coimbra, group vice president & country manager da IDC Portugal, revela à businessIT que a consultora já reviu esse valor e que «as últimas estimativas apontam para um crescimento de 4,4%». As principais áreas que vão contribuir para este aumento estão «ligadas à terceira plataforma tecnológica», ou seja, cloud, mobile, big data, redes sociais e aos «aceleradores de inovação», que correspondem a tecnologias de IoT, realidade virtual e aumentada, robótica e inteligência artificial. No mercado empresarial, os destaques vão «para o IaaS (31%), AI (25%), SaaS (23%) e software de segurança (11%)»; já no mercado de consumo, para os «wearables e os smartphones», com um «crescimento de 23% e 26% respectivamente», salienta o responsável.

O ano de 2023 será ainda de «incerteza sobre as perspectivas económicas e de negócios», devido ao «contexto geopolítico instável causado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, aos desafios nas cadeias de abastecimento globais e à inflacção» – contudo, a IDC acredita que a tecnologia «será uma das principais alavancas para empresas e organizações, numa economia e sociedade cada vez mais digital». É por isso que, «apesar dos desafios ao nível da escassez de recursos qualificados e do crescente número e complexidade dos ataques cibernéticos, Gabriel Coimbra diz que a consultora acredita que o «crescimento do investimento em TI em Portugal será de 5,7%».

Gabriel Coimbra (IDC)

Investimentos a aumentar
A Dell Technologies teve um ano positivo e, apesar de o ano fiscal terminar depois do final de 2022, as estimativas apontam para um «crescimento de dois dígitos em quase todas as áreas», sublinha Isabel Reis, general manager da empresa, em Portugal. A responsável sublinha que a linha de negócio referente aos «postos de trabalho decresceu», mas que esse facto é «compensado pelo aumento das áreas de computing, backup e storage». Na verdade, Isabel Reis vê uma semelhança entre o que se passou em 2022 e o que vai acontecer este ano, apesar do complexo cenário geopolítico e económico: «A minha perspectiva pessoal e menos optimista que a da IDC: já se notou um decréscimo considerável dos postos de trabalho, em relação ao último ano. Notamos que há um crescimento ao nível de soluções de data center e de computing, já que existe uma grande transformação das tecnologias centralizadas em distribuídas – por isso, vemos um grande acréscimo de investimento por parte das empresas».

Mas a área que deve registar maior crescimento, segundo a directora-geral, é a de soluções de ciber-resiliência: «Os ataques estão a aumentar e as organizações querem estar preparadas para quando isso acontecer, de forma a não afectar a reputação e o negócio. Essa é uma área de mercado que vai crescer bastante».

Isabel Reis (Dell Technologies Portugal)