Reportagem

Web Summit: equipa das startups é o mais valorizado pelos investidores

Durante a Web Summit, falámos com as principais empresas de investimento e capital de risco nacionais para perceber como se preparam para este evento e o que valorizam nas startups em que apostam. A equipa e o problema que estão a tentar resolver são dos aspectos que mais influenciam a escolha na hora de investir.

Lukas Schulze/Web Summit

A Web Summit de 2022 foi, sem margem para dúvida, um sucesso, depois de, no ano passado, ter tido uma assistência mais reduzida devido à pandemia. Com 71 mil participantes, 2296 startups e mais de mil investidores, o evento requer uma grande preparação para quem quer investir e é, muitas vezes, o culminar do trabalho de várias semanas e meses.

A Armilar Venture Partners investe em startups europeias de base tecnológica que explorem produtos/serviços com uma forte componente de dados, digitalização e conectividade, destinados ao mercado global. José Guerreiro de Sousa, partner desta empresa explica que a preparação para a Web Summit é feita «com antecedência, senão não funciona» e esclarece o que fazem: «Em termos de startups, passamos por um processo de identificação das mais interessantes, para serem contactadas pela nossa equipa, durante o evento. Em termos de co-investidores e parceiros, procuramos agendar com antecedência as reuniões». O mesmo é dito pela Bynd Venture Capital, que faz um «processo de triagem exaustivo», tenta «agendar reuniões presenciais» e tem também em atenção «os eventos paralelos», que são «sempre um momento enriquecedor para estabelecer novas ligações e reforçar as relações já existentes», salienta Tomás Penaguião, partner da sociedade gestora de capital de risco ibérica.

A Faber, que investe essencialmente em deep tech, em rondas pre-seed, seed e series A, tem um processo semelhante às restantes empresas de venture capital e Carlos Silva, partner, refere que esta é uma «oportunidade para reunir pessoalmente investidores» e marcar «reuniões one-on-one» com o «objectivo de investir já ou de iniciar uma relação para investir mais tarde». A verdade é que a Web Summit “sabe” que é um local privilegiado para encontros entre startups e os investidores; assim, disponibiliza diversos espaços para que se encontrem e tenham a possibilidade de partilhar ideias, receber mentoria e explicar os seus projectos.

‘Reunir’ é a palavra de ordem
Teresa Fiúza, vice-presidente da Portugal Ventures, destaca que há uma preparação «muito grande por parte de toda a equipa» para «perceber que startups vão estar presentes que se integrem nos verticais de actuação» da entidade, ou seja, «digital e tecnologia, engineering and manufacturing, turismo e life sciences»; outros dos critérios é serem «portuguesas ou estejam na disposição de se mudarem ou tenham uma estrutura relevante no País». A entidade pública marca reuniões com as startups que se destacam e correspondem ao que procuram; já a Indico Capital Partners aproveita, não só para ver as startups inscritas na Web Summit, como as de outros programas, como o «Road 2 Web Summit da Startup Portugal», revela João Laginha Martins, head of platforms da empresa de venture capital. O responsável realça ainda que a Indico tenta «estar presente em todos painéis» para os quais são convidados, como «júri da competição pitch, talks eventos paralelos»; a «troca de «impressões» e o «aprofundamento de relações com outros investidores» são outros dos objectivos.

Teresa Fiúza lembra, ainda que, além dos quatro dias no Parque das Nações, os eventos paralelos «são uma parte importante» da Web Summit, já que permitem «reuniões com a rede de parceiros, quer sejam de ignição, corporate ou capital de risco do mundo inteiro».

Sam Barnes/Web Summit

O que procuram os investidores
Carlos Silva diz que a Faber olha para em primeiro lugar para a «qualidade da equipa» quando vai à procura de stratups para investir na Web Summit. Aliás, todos os investidores são unânimes: este aspecto é o mais importante na área em que actuam, o early stage. Contudo, o responsável salienta também a Faber também procura «equipas técnicas fortes» e valoriza o «mercado em que vai operar», já que devem ser soluções que tenham «possibilidade de ser bem-sucedidas em mercados muitos grandes». A empresa também olha para «a ideia em si, para o modelo de negócio, se os fundadores têm uma ideia do querem atingir e qual a missão de longo prazo».

José Guerreiro de Sousa revela que a Armilar analisa a «dimensão do problema que a startup está a propor resolver, a tecnologia que usam para esse fim e se são os melhores naquilo que fazem»; já a Bynd dá atenção ao «potencial de crescimento, à dimensão do mercado em que as startups estão inseridas, à concorrência e aos factores diferenciadores do projecto».

Estas são também áreas de interesse para a Indico, refere João Laginha Martins, que acrescenta outros elementos que fazem parte da selecção quando a empresa faz um investimento: «Olhamos para a sustentabilidade do modelo de negócio, gostamos de fazer demos e pôr-nos no papel dos consumidores». Na Portugal Ventures, além de todos os outros aspectos já referidos, há ainda uma valiosa ajuda de «peritos externos e especialistas nacionais e estrangeiros» nas diferentes áreas em que as startups actuam, explica Teresa Fiúza.

Os founders, como são designados os fundadores das startups, são «muito importantes no processo de decisão da Portugal Ventures» e dos outros investidores com quem falámos: todos dizem ser uma peça fundamental na hora de decidir se vão ou não investir. A responsável da sociedade de capital de risco pública deixa um conselho a todos os empreendedores: «Sejam resilientes porque o que mais vão ouvir é ‘não’. Estejam muito atentos ao feedback que vos é dado nos pitchs e incorporarem-no para melhorar a solução, o modelo de negócio, a forma de vender e até a apresentação da startup». Segundo a vice-presidente, isso pode ser decisivo, no futuro.

Apoiar e colmatar lacunas
O investimento é um processo longo, constituído por «um período, tipicamente de vários anos» em que a Armilar trabalha com os fundadores: «Queremos ajudar a fazer crescer a startup para, em determinada altura e em conjunto, a vendermos». José Guerreiro de Sousa diz que este é o «objectivo», quando se investe, e explica o processo: «Mais à frente, pode ser preciso desinvestir, com mais valias para os investidores dos fundos. Temos de poder repetir este ciclo virtuoso, de forma sucessiva». O mesmo é dito por Teresa Fiúza: «O nosso objectivo final é sempre fazer um bom exit, mas como gestor e empresa pública, também é preciso suprir falhas de mercado. Existimos precisamente para que isso aconteça, principalmente nas startups em early stage e em fase de growth. Nesta última, ainda não estamos a actuar. Também estamos a trabalhar para colmatar lacunas de mercado a nível regional e para, futuramente, conseguirmos englobar mais sectores como o agrotech e as indústrias criativas, entre outras».

Tomás Penaguião afirma que o objectivo é «apoiar o crescimento/valorização das empresas» e esclarece que nos «mais de dez anos de actividade da Bynd Venture Capital», a empresa conseguiu «apresentar sempre retornos acima da média». Em 2021, a empresa «concluiu cinco operações de desinvestimento, parciais e completas, cujo valor recebido foi entre três e cinquenta vezes o investimento realizado».

Sam Barnes/Web Summit

AWS apoia com tecnologia e mentoria
A Amazon Web Services (AWS) também ajuda várias startups em Portugal, entre as quais a Didimo, a Codacy e a Smartex, e segundo Kellen O’Connor, EMEA managing director de startups da empresa de cloud, o apoio dado é feito com base em «tecnologia de cloud e apoio empresarial, com recursos para inovar», o que significa que as «ideias podem arrancar com apenas alguns cêntimos e que as que são bem sucedidas podem ser rapidamente escaladas sem investimentos fixos arriscados em hardware tecnológico. As que não são bem sucedidas podem ser encerradas, rapidamente e a baixo custo. Quando o custo do fracasso é reduzido, a oportunidade de inovação é elevada».

Este apoio ao ecossistema português materializa-se no programa AWS Activate que «dá acesso a orientação e tempo 1:1 com especialistas AWS, bem como formação web-based, laboratórios self-pasted, apoio ao cliente, e até 100 mil dólares em créditos de serviço AWS» e no AWS EMEA Startup Loft Accelerator, que oferece conhecimentos técnicos e empresariais, formação à medida e orientação. Além disso, a empresa trabalha também com a «comunidade de capital de risco, aceleradoras e incubadoras, o que em Portugal se reflecte na parceria com a Beta-I, Indico Capital Partners e Portugal Ventures.

O objectivo é apoiar os empreendedores «de todas as indústrias em todas as fases do ciclo de vida, desde o seu início até às fases de crescimento global» e as startups interessadas «em inovar, escalar e lançar novos serviços», esclarece o responsável.

A AWS diz ainda que eventos como a Web Summit «permitem conhecer novas startups que podem beneficiar da tecnologia e programas que a AWS oferece, e assim crescer, expandir, aumentar a sua agilidade e inovar mais rapidamente».