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Ransomware: uma ameaça para a economia digital

Nos últimos cinco anos, o ransomware evoluiu para uma indústria de milhões de dólares e tornou-se uma verdadeira ameaça para a economia digital global. Este cenário não foi impulsionado por avanços técnicos em ataques cibernéticos, mas sim pela evolução da forma como os grupos criminosos exploram os sistemas comprometidos para extorquir as vítimas.

Fly dart photographer/Unsplash

O technical manager da Exclusive Networks garante que as organizações nacionais têm vindo a actualizar e adaptar os seus sistemas e procedimentos tendo em conta o número crescente de ciberameaças a que estão expostas, sendo no entanto necessário entender que os desafios também aumentaram. «Praticamente todas as organizações nacionais tiveram de se adaptar a uma realidade diferente e com isso aumentaram a sua exposição ao risco. Considerando que os ataques estão mais sofisticados, e que as organizações estão mais expostas, é essencial continuar a apostar na prevenção e na formação para contrariar com sucesso estas ameaças».

Portugal a duas velocidades
As empresas portuguesas parecem funcionar a duas velocidades: por um lado, existe, de forma geral, mais consciência dos impactos negativos de ciberataques, sobretudo em termos de operação e reputação, havendo mais investimento na protecção do negócio. Por outro, as empresas com menos notoriedade, com menos exposição mediática, ou empresas B2B, sentem que estão menos expostas a este tipo de ataques e continuam a descurar a estratégia de cibersegurança, avisa David Grave, senior cybersecurity consultant da Claranet Portugal. «A realidade é que o cibercrime é oportunista e, muitas vezes, é mais fácil e rentável explorar vulnerabilidades comuns, que se verificam em ambientes organizacionais semelhantes – sejam empresas conhecidas, desconhecidas, B2B ou PME – do que planear e executar um ataque deliberado a uma organização específica».

Neste momento, David Grave diz que a cibersegurança é um tema discutido no C-Level, que já não é visto como um custo. «Existem cada vez mais empresas nacionais a investir activamente na protecção das suas operações, da sua reputação e dos dados – seus e de clientes».

Novos tipos de ransomware
No mais recente Threat Landscape Report da S21sec, foram detectados novos tipos de ransomware no panorama cibercriminal, como o Babuk, Astroteam ou Xing Locker, que estiveram, inclusive, na origem dos incidentes relacionados com o Colonial Pipeline nos EUA ou o ataque ao SEPE em Espanha. «De sublinhar que durante a primeira metade de 2021, o ransomware Conti e Sodinokibi (REvil) foram os mais activos», enfatizou Hugo Nunes, threat intelligence team leader da S21sec Portugal.

Ao longo dos últimos meses, esta empresa foi confirmando uma maior profissionalização e especialização dos ataques ransomware, tendo verificado que organizações criminosas, como DarkSide, REvil e outras, utilizam já um modelo “franchising” de ransomware-as-a-service (RaaS).

«Os seus clientes (os invasores) encarregam-se da penetração nas empresas, enquanto estas organizações são responsáveis por elaborar e fornecer tutoriais e playbooks de ajuda para os ataques, garantir toda a infra-estrutura de apoio para o controlo e a encriptação dos equipamentos das vítimas. Além disso são também responsáveis pela negociação, recolha e redistribuição do resgate em criptomoedas».

Nestas organizações criminosas verificou-se também a existência de áreas de especialização muito similares às que tradicionalmente existem em organizações empresariais, nomeadamente áreas de marketing para a potencialização de angariação de novos clientes para os serviços RaaS, área de IT para apoio à infraestrutura que capacita estes ataques e até uma área comercial disponível 24/7 com funções de comunicação para com as vítimas e negociação do resgate.

«A nível nacional, num contexto empresarial, podemos salientar que o aproveitamento do maior isolamento das pessoas, da necessidade de utilização do digital e a massificação do teletrabalho, provocada pela pandemia, alavancou um acréscimo nos ataques phishing/smishing, infecções por malware e também a exploração de vulnerabilidades técnicas potenciadas pelo trabalho remoto, que em alguns casos finalizaram em ataques bem-sucedidos de ransomware», revela Hugo Nunes.

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