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Os desafios do comércio electrónico

O comércio electrónico é já uma realidade para uma significativa parte da população mundial, mas ainda está longe de se tornar a forma preferencial de comprar, especialmente em Portugal. Fizemos uma caracterização do e-commerce no País e fomos tentar perceber quais são os principais desafios que impedem que as compras online se tornarem no método de compra preferido dos portugueses.

Segurança é fundamental
O tema da segurança e da privacidade é outro dos desafios referidos por todos os executivos como central no e-commerce. Uma loja online gere vários tipos de informações sensíveis dos clientes como dados pessoais, palavra-passe e dados bancários ou de cartões de crédito. É por isso imperativo que as empresas garantam a segurança dos websites, protegendo os dados dos seus clientes. Recentemente a Scamadviser, plataforma dedicada a ajudar utilizadores a verificarem a legitimidade das páginas de Internet, lançou um estudo que refere que um em cada dez websites de e-commerce em Portugal não oferece as devidas protecções de segurança. O País tem uma confiança média de 89% relativo ao comércio electrónico, o que coloca Portugal na 16ª posição entre os países mais seguros da União Europeia.

José Pedro Pinto destaca que os estudos feitos pela Cetelem concluem também que a «segurança e a confiança são efetivamente dos principais factores que parecem estar a refrear a vontade de muitos portugueses para realizar compras online» e explica porquê. «São poucos os portugueses que acreditam na eficaz proteção dos seus dados quando introduzidos nas lojas online, receando a sua partilha sem autorização. São apenas 36%, os que consideram as lojas online seguras e 40% receiam mesmo possíveis situações de fraude». Para ajudar os utilizadores na hora da compra, a ACEPI, em conjunto com a DNS.pt e a DECO disponibilizam o selo Confio para aumentar credibilidade e impulsionar o desenvolvimento nacional e internacional do comércio electrónico português. Este envolve também a parceria com a associação europeia Ecommerce Europe, através da qual é também disponibilizado o Selo Digital Europeu – o Trust Ecommerce Europe.

Alberto López explica nesta matéria vai acontecer uma «profunda transformação digital na Europa que será fundamental para o ecossistema de pagamentos, nomeadamente pela obrigatoriedade da autenticação forte dos clientes (SCA) nos pagamentos digitais que potencialmente trará mais segurança às transacções online mas também pode constituir um entrave ao comércio electrónico (ver caixa).

Quanto à privacidade e dados pessoais, o novo Regulamento Geral para a Proteção de Dados veio trazer «mais confiança aos consumidores», esclarece. No entanto, estar em conformidade com o regulamento, como ficou patente no tema de capa da edição de Julho da businessIT, pode ser um desafio para as empresas, especialmente para as mais pequenas.

PSD2: mudanças que podem afectar (e muito) o e-commerce
A directiva europeia PSD2 vai mudar a forma como pagamos as compras, especialmente online, com obrigação de autenticação dois factores (SCA – strong customer authentication). Este novo conjunto de normas de segurança destina-se a garantir a correcta identificação do utilizador e da compra que pretende realizar, através de dois de três factores de autenticação: algo que o utilizador tem (um cartão bancário ou um telemóvel, por exemplo); algo que o utilizador sabe (um PIN ou uma password); e algo que o utilizador é (a sua impressão digital ou o reconhecimento facial, por exemplo). Alberto López, responsável da Mastercard pela área de cibersegurança e soluções digitais para a Espanha e Portugal, revela que a empresa «espera que 20 a 30% do total de transações (a maioria das quais não fraudulentas) será recusada se as Normas Técnicas de Regulamentação (RTS) da PSD2 forem aplicadas de forma apressada». Isso representa um «número cinco vezes superior à taxa actual de transações recusadas, que pode ter um impacto negativo no consumidor porque pode resultar na desistência da compra e nos comerciantes, porque pode levar a perdas significativas de receita». O responsável alerta ainda para o facto de esta situação ir afectar sobretudo «as pequenas empresas», que são «a espinha dorsal da economia europeia». Alberto López não tem dúvidas que «se existir uma aplicação da SCA sem preparação, tal poderá ter consequências sistémicas para o comércio eletrónico europeu».

A verdade é que as empresas europeias e nacionais não estão prontas para a entrada em vigor da SCA. Segundo um estudo da Mastercard, 75% das empresas europeias com lojas on-line desconhece este novo padrão de segurança e como tal nem os retalhistas nacionais, nem os europeus estão preparados para a sua implementação.

A PSD2 entrou em vigor a 14 de Setembro de 2019 mas a Autoridade Bancária Europeia (ABE) anunciou que as autoridades nacionais podem alargar o prazo de adopção da SCA para dar tempo a que todo o ecossistema de comércio se possa adaptar às novas exigências de autenticação. O Banco de Portugal (BdP) já deu a conhecer que vai alargar o prazo mas ainda não revelou a data definitiva, que deverá estar em concordância com as restantes congéneres europeias. O responsável da Mastercard acredita que é possível que o prazo seja aumentado em «cerca de um ano».

A ACEPI está envolvida na introdução em vigor da PSD2, conforme refere Alexandre Nilo Fonseca, «no âmbito Europeu integrando o Digital Paymemts Working Group da Ecommerce Europe e no âmbito nacional integrando o Fórum para os Sistemas de Pagamento do Banco de Portugal» e irá acompanhar esta evolução e «apoiar as empresas nacionais na mudança», salienta o presidente da associação.