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Talento tech, precisa-se

Futuro

As perspectivas para os próximos anos não são as melhores e as companhias vão certamente encontrar dificuldades acrescidas para conseguir encontrar os talentos tech de que necessitam. Mas uma coisa é certa, todos os intervenientes, desde a academia ao mundo empresarial, estão empenhados em que o gap entre a oferta e a procura diminua.

Quem sabe se todas as iniciativas que estão agora a começar e as que virão num futuro próximo vão permitir realmente que, em Portugal, a falta de profissionais TIC tenha um impacto menor do que previsto e a situação não seja tão dramática quanto a que está em perspectiva.

Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030 – INCoDe.2030

O programa do Governo, aprovado em Março de 2018, concretiza uma estratégia para o desenvolvimento do país que visa garantir a literacia e a inclusão digitais. O INCoDe.2030 quer ainda estimular a especialização em tecnologias e aplicações digitais para a qualificação do emprego e uma economia de maior valor acrescentado, além de produzir novos conhecimentos em cooperação internacional. O programa estrutura-se em cinco eixos essenciais: inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação.

Um dos objectivos é que os especialistas TIC na população activa em Portugal passem de 2,4% (2016) para 5% em 2025, que corresponde ao valor actual da Estónia, e cheguem aos 8% em 2030, o actual valor da Finlândia.

Para que tal aconteça, o número de trabalhadores nas áreas tecnológicas tem de crescer 10% ao ano, ou seja precisamos de adicionar dez a vinte mil novos profissionais TIC por ano. Isto é «algo muito difícil de se conseguir» refere Pedro Guedes de Oliveira, professor emérito da Universidade do Porto e coordenador geral da equipa de Coordenação Técnica do INCoDe.2030. O responsável acredita que o programa só será bem-sucedido se for possível «dotá-lo de uma estrutura operacional» e de «verbas adequadas», além da garantia «um alinhamento estratégico e operacional dos vários agentes públicos envolvidos».

Contratar ou reter talento: o que é mais difícil?

O que dizem sobre este tema os gestores e quem recruta? Fomos saber e a conclusão é que são ambos igualmente difíceis. A consultora Michael Page, especializada em recrutamento, acredita que «contratar e reter talento, na área de IT, representa um desafio tremendo para qualquer organização».

Vasco Teixeira, manager de IT do escritório de Lisboa refere que esse facto é ainda mais verdade para as empresas portuguesas, «por falta de capacidade na captação de investimento, pela pequena dimensão e/ou por falta de processos internos que permitam definir modelos de progressão de carreira dos colaboradores».

A Blip, a Landing.jobs e a Glintt são da mesma opinião: ambas as tarefas são difíceis e em parte estão relacionadas. A verdade é que Glintt acredita que é «graças ao projecto da Academia» que «tanto contratar como reter está ao mesmo nível», Inês Pinto revelou que a Glintt conta «com mais de 150 são jovens-recém graduados, recrutados nos últimos dois anos através desse programa de formação».

«É de menino que se torce o pepino»

A importância da educação dos jovens para atraí-los para carreiras tecnológicas deve acontecer no ensino básico e secundário, refere Pedro Guedes de Oliveira, coordenador do INCoDe.2030. «É preciso trabalhar já no secundário ou estaremos a comprometer o nosso futuro», indica o executivo.

A IBM é uma das empresas mais activas neste domínio e possui dois programas em Portugal, o IBM EX.I.TE. Camp – EXplorar o Interesse pelas Tecnologias e pelas Engenharias e o o IBM Teachers TryScience. O primeiro pretende «sensibilizar as jovens raparigas, entre os onze e os treze anos de idade, para o interesse das CTEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática – e contribuir para um cenário mais equilibrado entre o número de homens e de mulheres que escolhem cursos ligados às engenharias e às tecnologias» refere Lígia Cabeçadas, Human Resources Leader IBM Portugal. A nível nacional, já participaram neste projecto 430 jovens.

Já o IBM Teachers TryScience corresponde a uma plataforma destinada a professores, que agrega planos de aula concebidos para todos os níveis de ensino e que aborda disciplinas das áreas CTEM. Em Portugal, a IBM estima que o Teachers TryScience já envolveu mais de quatrio mil professores e 34 mil estudantes.