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Talento tech, precisa-se

Desenvolvimento económico do país pode estar em causa

É verdade que a falta de recursos nas TI pode atrasar o desenvolvimento económico e tecnológico do País? Efectivamente, sim. No mês passado durante uma conferência, o professor Arlindo de Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico (IST), referiu perentoriamente que sim. Da mesma opinião é o professor Miguel Mira da Silva, também da mesma instituição de ensino, especialista em Transformação Digital. «A situação será dramática no futuro e a verdade é que já há empresas que estão a rejeitar projectos por não terem mão-de-obra para os fazer».

O alerta de José Paiva é no mesmo sentido, «a falta de profissionais em tech está a dificultar imenso o desenvolvimento das empresas pois o custo dos projetos disparou». Além disso está a «adiar a digitalização das empresas e, assim, a torná-las menos competitiva».

Já Rui Serapicos, managing partner da CIONet Portugal, refere que «se as empresas estão a delinear uma estratégia e para essa estratégia precisam de um determinado número de profissionais especializados em TIC e não os conseguem, naturalmente o desenvolvimento dessa empresa não será o mesmo; será, à partida, menor».

A iTGROW, uma iniciativa conjunta entre a Critical Software e o BPI, considera que a falta de recursos humanos qualificados vai ter «naturalmente um impacto no crescimento do sector e na economia do País».

Universidades estão atentas e a trabalhar no desafio

Com a introdução do novo modelo de ensino superior, conhecido por Processo de Bolonha, as universidades só consideram os alunos preparados para iniciar uma actividade profissional após o mestrado.
Quer o IST, quer a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, conseguem formar cerca de 170 a 180 alunos anualmente na área de TIC, o que se tem revelado claramente insuficiente. Mas a verdade é que de acordo com o professor associado do IST, Miguel Mira da Silva, as universidades «não irão conseguir formar muito mais» porque «não é possível aumentar os numerus clausus. No entanto, o docente acredita que as universidades, politécnicos e as escolas formação «podem fazer mais» e que «é possível aumentar o número de pessoas qualificadas na área das tecnologias com «cursos de formação contínua, online e cursos para executivos e pós-graduações».

O professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, João Manuel Paiva Cardoso, vê «com alguma apreensão» a falta de profissionais qualificados de TIC em Portugal mas está «também esperançado em relação aos desafios e oportunidades que isso pode criar em termos do sistema universitário nacional».

Para o director do Departamento de Engenharia Informática (DEI) da FEUP, «a procura por profissionais nacionais qualificados de TIC é reveladora da confiança e percepção de que as empresas nacionais e internacionais têm da qualidade do sistema universitário nacional na formação em TIC».

Mas o docente receia «que não se consiga dar reposta às necessidades, que algumas tecnológicas optem por não ampliar as áreas de intervenção (nomeadamente em I&D) ou evitem a criação de centros de competência no país, e que os padrões de qualidade da formação dos nossos profissionais venham a ser afectados negativamente por aumentos irracionais em termos de número de estudantes em TIC».

O professor João Cardoso considera também «importante que se distinga a natureza dos profissionais que as empresas procuram e o papel das universidades e dos politécnicos em termos da formação das competências procuradas para esses profissionais de TIC».

Segundo Luís Silva, vice-presidente da Porto Tech Hub, «as universidades e os institutos politécnicos do Norte têm respondido com prontidão» para «colmatar o gap de recursos humanos» nas TIC e têm-no feito com «programas mais curtos e desenhados para responder às necessidades das empresas».

Assim, há manifesta preocupação e empenho dos corpos docentes universitários em garantir que as suas instituições possam responder melhor ao desafio da falta de talento tech em Portugal.