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Talento tech, precisa-se

Perspectiva dos CIO

Os Chief Information Officer são uma peça fundamental no que respeita à gestão de talento nas empresas e estes profissionais vêm a situação portuguesa com preocupação conforme explicou à businessIT, Rui Serapicos, managing partner da CIONET Portugal. Segundo o responsável da associação que agrega diversos CIO, em Portugal, a diferença entre a oferta e a procura é «porventura mais alarmante do que noutros países da União Europeia na medida em que ainda existe um elevado nível de desemprego (que ronda os 7,5%), em particular nos jovens». Ao mesmo tempo, «inúmeras empresas e instituições, nomeadamente o caso das PME, que representam uma parte significativa do tecido empresarial, não fazem ainda uma alavancagem adequada das Tecnologias de Informação, existindo, ainda assim, uma diferença significativa entre a procura e a oferta de talentos», ressalva Rui Serapicos.

Para o executivo, «existe um enorme número de profissionais altamente qualificados no mercado português com competências desenquadradas do sector das TIC». A conversão das competências em ciências, em engenharia e nas matemáticas deste talento para o sector das tecnologias «iria tanto colmatar a lacuna do lado da oferta como reduzir os níveis de desemprego do País, alavancando o sector empresarial e a economia nacional».

Atrair talento, formação e programas de reconversão profissional devem ser as apostas

‘Formação’ e ‘reconversão’ parecem ser as palavras de ordem em relação à resolução da situação de falta de talento tech nas empresas. Todos os intervenientes que ouvimos falam disso e consideram que, além de atrair profissionais do estrangeiro, isto nunca será muito fácil em relação às discrepâncias salariais existentes entre Portugal e o resto da Europa ou os Estados Unidos.

Susana Soares refere que «a reconversão é essencial e a atracção contínua de recursos também». O professor Miguel Mira da Silva indica mesmo que a «grande revolução» que ainda está por fazer é nas próprias empresas: «Algumas já têm academias mas é preciso fazer mais» aponta. O docente dá como exemplos a EDP, Novabase, a Glintt e a Critical Software.

«Estar à espera que seja o Estado ou o Governo a resolver a situação não faz sentido porque não vai acontecer. As empresas têm um problema e têm de pensar numa solução. Em vez de despedirem as pessoas menos jovens, as empresas deviam reconvertê-las profissionalmente em informáticos e aí o Técnico pode ajudar», conclui Mira da Silva.

Na FEUP, que tem «mantendo e promovendo sempre os elevados níveis de qualidade», o DEI tem vindo a «reforçar as actividades científicas em colaboração com empresas e a criar novos cursos de Mestrado que focam áreas e competências com necessidades reconhecidas pelo tecido industrial e empresarial nacional e internacional, como é exemplo o Mestrado em Engenharia de Software (MESW)», refere o professor João Cardoso.
O docente acredita que, apesar das restrições orçamentais, a Faculdade de Engenharia «tem dado passos importantes na criação de novos cursos de reconversão profissional na área de TIC». Um exemplo recente é o curso de formação em cibersegurança com envolvimento de empresas. A universidade tem «também cursos de formação intensivos como por exemplo o curso de ‘Testes de Software’ e a participação de docentes do DEI em cursos na Porto Business School», conclui.

Atenta a realidade está também a Rumos. De acordo com Marlene Almeida, directora da unidade de formação da empresa, esta «procura sempre adequar a sua oferta formativa e preparar os seus formadores das ferramentas necessárias para conseguir disponibilizar formação actualizada». Através das parcerias técnicas de informática que mantem com os principais fabricantes tecnológicos a nível mundial e através da oferta formativa desenhada pela Rumos, «os programas de formação pretendem não só dar resposta às necessidades atuais, como antecipar futuros desafios que se coloquem».

Casos de Sucesso

A verdade é que acções como a Acertar o Rumo da iTGROW e o SWitCH do Porto Tech Hub ou os exemplos da Academia Glintt, Academia de Código, Rumos ou Le Wagon têm demonstrado o quando a formação e reconversão profissional são importantes e como podem ser vitais para colmatar as necessidades das empresas de profissionais com competências TIC.

A iTGROW vocacionada para a qualificação informática forma e prepara para a vida profissional na área das TI os recém-diplomados, mediante programas de formação e treino de competências on-the-job. «A empresa tem cerca de 280 jovens envolvidos nos seus programas de treino e formação, sendo que 20% deles advém precisamente de programas de reconversão profissional que ajudámos a construir, em parceira com escolas superiores de referência em Portugal», afirma a directora da iniciativa.

A entidade é responsável pelo programa Acertar o Rumo, que existe desde 2013 e que já inseriu no mercado de trabalho «mais de 115 profissionais», que hoje desempenham funções como «programadores informáticos em várias empresas», invertendo a situação de desemprego ou de insatisfação profissional em que se encontravam na altura em que decidiram fazer esta aposta.

Catarina Fonseca revela que o sucesso deste programa se deve a três factores principais: «Os formandos estão muito motivados e têm as características adequadas à reconversão profissional para a área de TI, a componente lectiva é muitíssimo exigente e de grande qualidade, ministrada pela Universidade de Coimbra e totalmente alinhada com as necessidades do mercado e, finalmente, o estágio remunerado». Isto faz, assim, com que esta seja «uma oportunidade efectiva de inserção no mercado de trabalho e de desenvolvimento de competências em contexto de posto de trabalho».

Luís Silva, vice-presidente da Porto Tech Hub, refere que o SWitCH surgiu «da necessidade óbvia das empresas associadas» da organização «em recrutar recursos com competência na área de Tecnologias de Informação». Assim «o know how dos elementos da associação empresarial, junto com a componente prática definida pelo corpo docente do ISEP em conjunto com estas mesmas empresas, ajudou a definir um programa virado à resposta mais imediata para o sector empresarial». A ideia surge ainda da perceção de que este tipo de formação tem a «capacidade de combate ao desemprego em áreas com menos procura, através da requalificação efetiva para a área das TI», acrescenta o vice-presidente da Porto Tech Hub.

«O programa é aberto a todas as pessoas que pretendam, de facto, fazer uma mudança relativamente à sua área de formação inicial e tenham interesse em integrar esta área das TI. Não há limite de idades, não há restrição nas áreas de formação nem em relação à situação de emprego em que a pessoa que se encontre atualmente. O principal requisito é que os candidatos já tenham o grau de licenciados», conclui Luís Silva.