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Talento tech, precisa-se

A visão das empresas do mercado de trabalho

Mas como é que empresas tecnológicas vêm o mercado de trabalho de TIC em Portugal? Conforme verificámos, as companhias, independentemente, da sua dimensão estão preocupadas mas ao mesmo tempo atentas às oportunidades e algumas já estão a preparar-se para o futuro.

Susana Soares, directora de Marketing da Fujitsu Portugal, refere que o País «tem condições para assegurar uma geração altamente qualificada e preparada para dominar e liderar as tendências de futuro das TI, como a Inteligência Artificial, Blockchain, Robótica, Machine Learning ou Realidade Aumentada». No entanto, Susana Soares lembra que o número de recursos «não é suficiente» e o ritmo a que se formam pessoas nestas áreas também «não irá, a curto ou médio prazo, colmatar a procura» até porque a «formação crítica para o desempenho é feita ‘on the job’ e em situações reais».

Já Lígia Cabeçadas, Human Resources leader da IBM Portugal, refere que «a acelerada transformação» que vivemos «cria um gap de skills, tornando essencial investir em novos talentos e novas competências para antecipar e equilibrar as necessidades das empresas e responder às exigências das novas profissões». Este gap está a «acontecer em todo o mundo, e Portugal não é excepção», avisa Lígia Cabeçadas.

A responsável da IBM Portugal refere mesmo que «o desajuste entre oferta e procura tem estado a acelerar» e acrescenta que o País tem «pela frente um enorme desafio» no que diz respeito à qualificação nas áreas de CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas) com «especial predominância nas engenharias e em áreas tecnológicas emergentes como a computação cognitiva ou a Internet das Coisas».

Mas a IBM acredita que «Portugal reúne condições únicas para estar na linha da frente desta transformação». A executiva refere que existe um «bom Ensino Superior» e que há jovens com «muitas aptidões e que falam diferentes línguas». Contudo, Lígia Cabeçadas acredita que «é essencial investir nestes novos talentos e desenvolver as competências do futuro».

A Blip, sediada no Porto, acrescenta que o mercado de trabalho das TIC está a «crescer muito e rápido», o que é «extremamente gratificante para quem trabalha na área e bastante positivo para o crescimento do País» mas lembra que também é preciso «ter os pés bem assentes na terra». Nuno Ferreira, da equipa de leadership da empresa, alerta: «No dia em perdermos as maiores vantagens competitivas que o País traz, deixamos também de ser interessantes de um ponto de vista de investimento estrangeiro. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, essa vantagem competitiva não é apenas custo mais baixo, é também o talento que temos e a nossa cultura do querer fazer bem».

Já Luís Silva, vice-presidente da Porto Tech Hub, que aglomera catorze empresas de tecnologia do Porto, falou à businessIT da situação do mercado de trabalho das TIC em Portugal e nessa cidade. «Portugal tem trabalhado bem a captação de novas empresas na área da tecnologia e o respetivo marketing territorial» e que «a curva de crescimento da cidade do Porto tem sido bastante exponencial». O executivo refere que «esta crescente fixação de empresas na área do Porto é por isso mesmo bastante positiva, já que vem agitar o mercado e criar um espírito tecnológico na cidade, que de outra forma seria bastante difícil».

Empresas com maior dificuldade em recrutar

Das empresas que contactámos é transversal a todas que o recrutamento de profissionais de TIC está mais difícil e por isso mesmo as empresas apostam em serem diferentes já que a questão salarial já não é o único parâmetro que os millenials consideram na hora de escolher um emprego.

Nuno Ferreira, da Blip, refere que «está mais difícil para todas as empresas». O mesmo sublinha que «é um facto que, neste momento, não existem pessoas suficientes no mercado para o número de vagas disponíveis, nem haverão nos próximos anos». Isto faz com que as empresas tenham, cada vez mais, de se «focar em retenção, evolução de carreira e ao mesmo tempo ir adaptando as estratégias de recrutamento». Nuno Ferreira fiz que isto não é algo que não tenha sido feito antes mas «merece maior foco agora», até porque, por outro lado sabe-se que, apesar dessa pressão, a Blip não «quer cometer erros que comprometam a visão de futuro que temos para a empresa». Para isso oferecem «desafio tecnológico» e uma «cultura informal e de proximidade entre as pessoas».
O executivo indica que «não é simplesmente não usar fato e gravata, o ter massagens ou bilhar no escritório». Para  Nuno Ferreira é uma questão de «mentalidade em que as pessoas que aqui trabalham sabem que podem gerir o seu tempo da forma que melhor entenderem desde que cumpram aquilo que é esperado deles».

Já na Glintt, que está neste momento a «contratar profissionais das áreas de Engenharia Informática, Sistemas e Tecnologias de Informação, Bioengenharia, Engenharia Biomédica, Gestão e Ciências Farmacêuticas», o projeto Academia Glintt é a grande mais-valia.

«Para a Glintt dar uma oportunidade aos jovens recém-licenciados, é uma aposta ganha. Uma aposta que se concretiza em ideias diferentes e inovadoras, que resultam em grande medida da discussão e trabalho intergeracional. Este pensamento foi o mote para a criação da Academia Glintt, uma iniciativa de captação de talento que contribui ativamente para a formação de profissionais, conferindo-lhes ferramentas essenciais para construírem uma carreira no setor. E é esta a atitude que nos diferencia», diz Inês Pinto, responsável de RH da Glintt. Para a BI4ALL, «apesar da crescente competitividade do mercado», o facto de serem «especialista e líderes na área de business intelligence «tem ajudado bastante a atrair talento».

A Fujitsu Portugal, que conta com 1900 pessoas de sessenta nacionalidades, tem sentido mais dificuldades em contratar em «alguns sectores». A directora de marketing da empresa indica que «é mais visível a escassez de recursos qualificados em áreas que estão agora a ganhar uma maior relevância. Temáticas como a Inteligência Artificial, IoT, RPA (Robotic Process Automation) ou Blockchain são alguns dos exemplos de áreas onde o recrutamento é mais difícil».

Susana Soares indica que o mercado «é extremamente competitivo» e que os novos profissionais mais qualificados olham para as organizações tendo por base uma série de critérios que os faz escolher uma empresa em detrimento de outra. «Não é apenas a folha salarial que define a escolha do local de trabalho. Temos de saber cativar e reter talentos pelos valores que a empresa representa e pela valorização que garantimos aos nossos colaboradores através da formação contínua e das perspectivas reais de crescimento interno que são oferecidas», acrescenta a directora de marketing.