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Talento tech, precisa-se

A inovação e a transformação digital que está a ocorrer em toda a sociedade alterou o mercado de trabalho que necessita agora, mais que nunca de talentos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

O grande desafio que se coloca a nível nacional, mas também europeu e mundial, é o de que os profissionais que se formam na área das tecnologias não chegarem para as vagas existentes nas empresas. O que pensam os diferentes agentes sobre a escassez de recursos qualificados nas TI em Portugal? Ouvimos diversos intervenientes sobre esta matéria e é unânime que algo terá de ser feito sob pena de atrasarmos o desenvolvimento económico e tecnológico do País.

Segundo o relatório da OCDE Digital Economy Outlook 2017, os empregos nas TIC ocupam o segundo lugar no ranking das dez profissões em que é mais difícil preencher as vagas, especialmente na Europa.
Isto é confirmado também pelo ManpowerGroup no seu inquérito Talent Shortage 2018. O relatório conclui que, a nível mundial, a dificuldade em recrutar na área das tecnologias cresceu 5%. Assim, 45% das empresas dizem que têm dificuldade em encontrar talento tech de que necessitam em comparação com 40% registados em 2016; este é o valor mais alto desde que existe este inquérito, ou seja, desde 2006.

Isto demonstra bem as dificuldades que o mercado enfrenta, mas há diferenças sobretudo a nível regional. Entre os países com maiores dificuldades estão a Alemanha, Hungria, Polónia (todos com 51%), Eslováquia (54%), a Grécia (61%), a Turquia (66%), Hong Kong (76%), Taiwan (78%), a Roménia (81%) e o Japão (89%). Portugal situa-se perto da média mundial mas isso não são boas notícias: 46% das empresas nacionais indicam que tem dificuldades em encontrar mão-de-obra qualificada de TI. E as previsões para 2020 não são animadoras, de acordo com a consultora alemã empírica vão existir mais de 700 mil vagas por preencher na área nas TI, só na Europa.

Vasco Teixeira, manager de IT do escritório da Michael Page de Lisboa indica que o sector das TIC «deverá continuar a crescer, como aliás se tem verificado nos últimos anos» e que «as áreas de Inteligência Artificial, Big Data & Data Science, Internet of Things, Cloud Computing vão continuar a ser os grandes catalisadores deste mercado».

O cenário português

Os dados do Eurostat referem que existem em Portugal cerca de 120 mil de trabalhadores especialistas TIC em Portugal o que representa que o nosso país ocupa o décimo sexto lugar nos vinte e oito da União Europeia (UE).
Para termos uma ideia, o maior mercado é o do Reino Unido com cerca de 1,6 milhões de trabalhadores, seguido pela Alemanha com 1,2 milhões e a França com quase um milhão. Os profissionais TIC no nosso país representam 2,4% da força de trabalho quando a média da UE é de 3,7%. Já no Reino Unido representam 5,4%.

A Landing.jobs, startup que tem uma plataforma especializada em carreiras na área das tecnologias, refere que a maioria do talento tech a trabalhar no mercado nacional são sobretudo full-stack developers, back-end developers e gestores de projecto ou produto.

José Paiva, CEO da Landing.jobs, refere que evolução nos últimos anos no País foi «muito condicionada pela emigração de grande parte dos números de trabalhadores qualificados para o estrangeiro aquando da crise económica de 2012-2014» – desde aí, Portugal não conseguiu recuperar.
Segundo o executivo, a questão também está nos «salários baixos» e no «forte crescimento do remote working» que está a tornar «elástico» o mercado de trabalho e a «trazer problemas acrescidos» às empresas que têm para recrutar profissionais da área.

A par disto há ainda a chegada de grande players tecnológicos a Portugal mas também de empresas mais pequenas e startups que criam centros tech em território nacional. O responsável da Landing.jobs refere que há imensas PME a vir para território nacional e a criar equipas de cinco a dez pessoas, o que também está a contribuir para a actual falta de talento tech.A isto não é alheio a chegada da Web Summit, que veio trazer grande visibilidade ao País, sobretudo no que diz respeito às TIC.

Mas nem tudo são más notícias e Portugal tem conseguido atrair algum talento tech de fora. O Brasil é quem mais tem contribuído para suprir a falta de recursos de TI em Portugal. Segundo José Paiva, são já cerca de dois mil profissionais brasileiros a entrar no mercado nacional todos os anos. O executivo acredita que esta deve ser uma das apostas para suprir as necessidades do mercado de trabalho das TIC.