A transversalidade da Inteligência Artificial
Se houve assunto que não faltou nesta Web Summit foi a inteligência artificial (IA), a começar logo na sessão de abertura. A convite da startup portuguesa Feedzai, o professor Stephen Hawking esteve presente, através de vídeo, na Altice Arena, onde falou sobre as potencialidades – mas também os riscos – da IA.
Hawking destacou o papel da IA na sociedade, mas também realçou a importância da ética e controlo na hora do desenvolvimento de IA. «Temos de estar cientes dos perigos, identifica-los e utilizar as melhores práticas e estar preparados para as consequências, de forma antecipada», disse Stephen Hawking.
No segundo dia da Web Summit – e o primeiro da conferência – houve duas figuras a roubar os holofotes e nem sequer eram humanas. Sophia e Einstein, ambos robôs criados pela Hanson Robotics, estiveram no palco da Web Summit, num debate sobre a inteligência artificial, acompanhados por Ben Goertze, CEO e director de projecto da Hanson Robotics.
Num mercado onde as estatísticas apontam para um negócio que pode vir a representar 2,6 biliões de euros até 2025, a possibilidade de investimento é grande. Além das alfinetadas à possibilidade de ficar com os postos de trabalho dos humanos, como referiu Sophia, a novidade da Hanson Robotics está numa rede. Chama-se Singularity e quer formar uma plataforma que permite criar um mercado livre para tecnologias que utilizem IA.
Qualquer pessoa que crie módulos de IA pode utilizar esta plataforma para monetizar o seu trabalho, numa plataforma que Ben Goertze descreve como «descentralizada, com blockchain». As primeiras novidades desta rede serão conhecidas no dia 29 de Novembro.
Mas antes de Sophia e companhia – uma das conversas que mais público levou à Altice Arena – já Max Tegmark, do Future of Life Institute – perguntava o que pode acontecer quando as máquinas ultrapassarem os humanos. Actualmente, já há robôs a ser melhores do que nós a jogar Jeopardy ou xadrez, por exemplo. E Tegmark diz que «isso é só a ponta do iceberg da Inteligência Artificial».
A visão da Comissária Europeia para a Concorrência
Com o título ‘Clearing the path for innovation’, Margrethe Vestager, Comissária Europeia para a Concorrência, foi clara na intervenção: «A tecnologia é que tem de servir a sociedade – e não ao contrário», explicou, reforçando que é necessário que existam regras no que toca à concorrência, para que este tipo de mercados funcione.
«O sucesso é uma coisa boa, porque inspira os outros», explicou Margrethe Vestager, reforçando que «o sucesso é mais importante hoje do que alguma vez foi». Sem poupar nos recados às gigantes da tecnologia, como a Google ou Apple (às quais já aplicou multas pesadas), Vestager explicou que é importante a forma como os negócios tratam as pessoas: «Alguém aqui queria ver os resultados de pesquisa do seu negócio a aparecer na página quatro dos resultados?», interrogou Vestager, exemplificando a forma como o Google altera os resultados de pesquisa, para mostrar primeiro resultados que sejam favoráveis ao seu negócio.
«É-nos pedido que coloquemos a nossa confiança num algoritmo, por exemplo», dizia a Comissária, acrescentando ainda que «a maior responsabilidade na questão da confiança está ligada ao público e ao consumidor». Se o Big Data, por exemplo, se «tornar numa questão para a concorrência, vamos estar lá para resolver», adiantou.
Quando a Uber se junta à NASA
Na Web Summit, há uma abordagem a todos os pontos de negócio onde a tecnologia possa estar presente. E, como já se percebe, tudo caminha para que os negócios disruptivos surjam graças à tecnologia. Entre desporto, criatividade, finanças e muito mais, a tecnologia tornou-se transversal – inclusivamente nos transportes, como já se sabe.
A Intel aproveitou para mostrar o seu carro autónomo, que, claro está, utiliza inteligência artificial e dados para se mover. Mas há ainda quem ache que o caminho da mobilidade também se pode fazer pelo ar. A Uber, por exemplo, escolheu a Web Summit para anunciar um novo projecto, o UberAIR.
A empresa anunciou ainda a colaboração com a NASA, que permite a gestão de tráfego aéreo nas cidades. Com este protocolo, Jeff Holden indicou que será possível «o desenvolvimento de novos conceitos de gestão de tráfego não tripulado e sistemas aéreos não tripulados». De acordo com o vídeo apresentado – que, por enquanto, mostra uma versão romantizada do que poderá ser o acto de chamar um pequeno helicóptero da Uber, para deslocações a baixas altitude – as viagens seriam feitas com outros passageiros, numa espécie de uberPool dos ares. Holden, CPO da Uber, explicou que os primeiros voos de demonstração do UberAIR estarão disponíveis em cidades norte-americanas, como Los Angeles, em 2020.
Para o ano há mais
Ainda a edição deste ano dava os primeiros passos, já existiam oportunidades para comprar o bilhete para a próxima edição, que se realizará de 5 a 8 de Novembro de 2018. O acordo entre a Web Summit e o governo português inclui a realização de três edições em Lisboa (até ao fecho desta edição Paddy Cosgrave ainda não se tinha pronunciado sobre o prolongamento do contrato). Resta saber se a organização está disposta a estender a permanência da conferência em Lisboa, além do tempo acordado.