Além Fronteiras

Huawei ‘cisma’ em querer ser número 1 em vendas

Huawei Munique

A Huawei é já a segunda marca que mais equipamentos vende no mundo, ultrapassando na tabela a norte-americana Apple. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.

A empresa de tecnologia chinesa Huawei alcançou o topo de vendas de smartphones na China e agora quer bater a Apple e a Samsung globalmente e de forma sustentada, sobretudo vendendo para os clientes mais ricos. Ou seja, o foco do gigante tecnológico são claramente os países desenvolvidos, mais propensos a ter uma melhor e mais estável economia e um poder de consumo e de compra mais forte.

Além disto, o discurso dos últimos dois anos da Huawei tem assentado na transmissão de valores como inovação, design e aposta na experiência do utilizador, sobretudo nos produtos de topo. Foi assim com o P9 e o P10 com as suas câmaras Leica, já para não falar na gama mais, digamos, profissional, os Mate, cujo número 10, dotado de Inteligência Artificial, foi apresentado em Munique e está já em pré-venda no território nacional.

Mas voltemos à marca, mais que ao produto. A Huawei tornou-se grande em casa e expandiu-se ambiciosamente numa busca por se tornar uma marca global. Agora, é o segundo maior fabricante de smartphones do mundo, pelo menos segundo algumas consultoras, o que representa deter 11,3% do mercado.

Mas os lucros ficam cada vez mais difíceis e, neste capítulo, a empresa está claramente atrás da Samsung e da Apple. Senão vejamos: segundo a Strategy Analytics, e trabalhando com dados do primeiro trimestre de 2017, no qual a Huawei ainda era o terceiro na lista dos que mais vendia, a Samsung, tendo 22,8% de quota de mercado, arrecadou 12,9% dos lucros da indústria de smartphones. Um campeonato ganho de forma destacada pela Apple, que com 14,9% de quota amealha… 83,4% dos lucros. A Huawei, no primeiro trimestre, tinha então 9,8% de market share, o que lhe valeu 3,5% dos lucros globais do sector.

De resto, isto é um clássico nesta indústria: a gama mais alta é onde o lucro é conseguido, na gama média as margens são reduzidas e as gamas de entrada são quase apenas uma presença no mercado. Resumindo: claramente a Huawei quer bater a Samsung e a Apple e tornar-se no maior fabricante mundial de smartphones, mas obviamente por volume. Aliás, foi sempre esta a mensagem que passaram ao mercado.

Em Munique, aos jornalistas portugueses, Richard Yu, CEO da Huawei Consumer Business Group, diz que não há propriamente uma agenda definida para atingir o topo da tabela, reforçando que o mais importante é a marca ser reconhecida como inovadora e capaz e dar ao cliente uma melhor experiência de utilização.

 

Presença nos EUA é obrigatória

Os especialistas alertam que a empresa não está a ter os resultados esperados em mercados-chave como a Indonésia e a Índia. E mesmo nos Estados Unidos, o negócio é incerto. À CNBC News, um analista da Forrester dizia que a marca não é conhecida e difícil de pronunciar. Mas os EUA são imperdíveis, enquanto mercado.

E analistas da Canalys dizem mesmo que somente ao obter uma presença sólida por terras do ‘uncle Sam’ a Huawei poderá ter a hipótese de reivindicar a sua coroa no mercado global de smartphones.

Vamos a números: o negócio de consumo da Huawei no primeiro semestre deste ano aumentou 36,2% para os 105,4 bilhões de yuans (cerca de 13,4 mil milhões de euros), com o envio de smartphones a aumentar em 20,6%, para as 73 milhões de unidades. No comunicado que apresentava os resultados, a empresa diz esperar manter o ritmo para o segundo semestre, despachando entre 140 a 150 milhões de telemóveis no final deste ano.

Pouco mais dos 139 milhões conseguidos no ano passado. Portanto, ainda há um longo caminho a seguir, especialmente se a divisão de Richard Yu, CEO da Huawei Consumer Business Group, quiser atingir o proclamado objectivo de 100 mil milhões de dólares de receitas em 2020. Para chegar lá, a Huawei continuará a dar prioridade aos clientes de topo em mercados como a Europa e o Japão, onde o negócio está bem lançado.

Os envios na Europa aumentaram 18% no primeiro semestre, liderados pela Itália. «Uma clara evidência que apostamos na Europa é o facto de os lançamentos mundiais dos nossos equipamentos serem aqui realizados».

Mate 10: A nova estrela da companhia

Em Munique, o novo Huawei Mate 10 Pro foi apresentado como o primeiro smartphone alimentado por Inteligência Artificial (IA). Basicamente, o equipamento deverá entender os comportamentos dos utilizadores e gerir de forma dinâmica e inteligente os recursos móveis, atendendo a todos os requisitos necessários para aquilo a que a marca chama de «próxima Era de smartphones». O mais recente modelo da gama Mate vem equipado com o Kirin 970 – «um catalisador que traz novas experiências de processamento neural e inteligência para smartphones», diz a empresa.

Huawei Mate 10

Outra característica da tal IA é o reconhecimento e captura de imagem em tempo real, permitindo identificar diferentes tipos de cenários e objetos. Ao fazê-lo, ajusta automaticamente a cor, o contraste, o brilho e a exposição para produzir a melhor fotografia possível em cada situação. O smartphone vem com uma abertura de f / 1.6 para ambas as lentes.

Outra característica é a possibilidade de executar o Microsoft Translator. O software IA Accelerated Translator permite tradução instantânea, mesmo sem ligação à internet.  A bateria é uma agradável surpresa neste equipamento, mesmo face a outros da marca a que a businessIT já tinha tido acesso. Com a economia de energia da IA e o Huawei SuperCharge, o a bateria de 4000 mAh permite um dia inteiro de uso relativamente intenso.

Outro aspecto bastante apreciado na apresentação em Munique foi o recurso de projecção que transforma o smartphone num PC, cinema ou consola de jogos. E de forma, pelo menos aparentemente, fácil. O Mate Pro (em Portugal vão estar disponíveis as versões Pro e o Lite) é igualmente apresentado como o primeiro smartphone com cartões SIM primários e secundários que suportam vinte bandas de frequência LTE e chamadas VoLTE de alta resolução. O preço do equipamento Pro é de 880 euros e o Lite 400 euros.