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O poder da humanidade aumentada

Embora o termo possa ser relativamente novo, o conceito não é. As empresas sempre procuraram o poder da humanidade aumentada para melhorar a experiência do cliente, como o caso do Spotify que está ligado à frequência cardíaca do ouvinte para escolher a música para acalmar a mente. Isto é só o começo.

thisisengineering /Unsplash

Os projectos em Portugal
Em Portugal, o conceito já desperta interesse há algum tempo, sobretudo na área académica e de investigação. São várias as bolsas disponíveis para o estudo desta área, nomeadamente com apoios do COMPETE 2020, o que tem permitido às universidades e instituições potenciarem as suas áreas de I&D.

No ano passado, por exemplo, a Altice Lab viu aprovado um projecto de humanidade aumentada no âmbito do Programa Portugal 2020. Este projecto assenta, essencialmente, em três desafios principais, nomeadamente a melhoria da eficiência dos processos industriais, bem como a correspondente redução de emissões, o desenvolvimento e adequação dos processos produtivos, de acordo com as características da população activa e a preparação dos recursos humanos para uma nova realidade industrial (indústria 4.0).

Para dar resposta aos desafios, através das tecnologias a serem desenvolvidas, bem como pelo impacto positivo na produtividade das indústrias, o projecto visa o desenvolvimento de produtos, processos e serviços em cinco áreas tecnológicas principais, que no seu conjunto desenvolverão tecnologias de apoio a trabalhadores que operem em ambientes industriais: ergonomia e robótica; big data; conectividade, IoT e 5G; visão artificial e RA/RV e talentos e contribuição para a sustentabilidade e atractividade da indústria. Este projecto tem 23 parceiros envolvidos, maioritariamente da região centro de Portugal.

As limitações da Humanidade Aumentada
Como outras formas de tecnologia, a implementação da humanidade aumentada apresenta desafios. Este tendência tem o potencial de causar preconceitos e discriminação no local de trabalho, uma vez que, em teoria, os humanos ‘aumentados’ têm vantagem sobre os restantes. Indivíduos avançados, por exemplo, podem realizar as suas tarefas de forma mais rápida que os que não utilizam dispositivos para melhorar o seu desempenho. Ao mesmo tempo, os indivíduos que não dependem de tecnologias de humanidade aumentada podem discriminar aqueles que precisam de “reforços” para compensar as deficiências.

A humanidade aumentada também pode ter impacto no processo de recrutamento ou promoção, diz Mariana Alves. Os profissionais de recursos humanos podem desenvolver uma preferência por ‘indivíduos aumentados’, pois podem fazer mais que os seus colegas ‘não-aumentados’. «A contratação de gestores e líderes, por outro lado, também pode preferir o candidato ‘real’ habilidoso, em vez de um avançado». Assim, diz a especialista, uma nova força de trabalho ou políticas de contratação podem ter de ser introduzidas em organizações com a humanidade aumentada em mente.

«Uma vida produtiva é uma vida feliz e as inovações de hoje provaram a sua capacidade para ajudar nesta tarefa. É inegável que as tecnologias da humanidade aumentada agregam valor aos comportamentos humanos. Algum dia veremos as linhas entre a IA e as capacidades humanas a ficarem totalmente difusas? Nunca saberemos, mas não é difícil aceitar essa ideia, dado o potencial dos dispositivos modernos de contribuir positivamente para nossas vidas».

Os avanços de HA começaram a revolucionar as vidas humanas, definindo o que os especialistas apelidam de ‘novo normal’. No final de contas, os humanos têm uma coisa que jamais poderia ser replicada por um sistema artificial: empatia. «Também podemos adicionar pensamento criativo complexo e não estruturado ou habilidades de raciocínio avançado à lista de coisas que os computadores nunca seriam capazes de fazer». Ou seja, diz Mariana Alves que, uma vez mais, a humanidade aumentada não é uma forma de «retirar postos de trabalho», mas antes «potenciar as forças de trabalho».