Reportagem

A transformação digital é para ser surfada

Congresso APDC 2017

Ao longo de dois dias, o 27.º congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) juntou alguns dos maiores players do mercado português.

A transformação digital continua a ser um tema incontornável – e também um assunto que dá pano para mangas. Todos os anos, a APDC organiza o Digital Business Congress, onde é tempo de discutir de que forma a tecnologia pode mudar tudo: desde negócios a formas de trabalhar, sem esquecer as cidades inteligentes ou até a forma como comunicamos.

Afinal, como disse Salvador de Mello, presidente da Mello Saúde, este processo de transformação digital é quase uma onda: «E não é possível parar a onda com a mão, há que surfá-la». Mas será que Portugal já pegou na prancha e se fez à onda?

Sérgio do Monte Lee, partner e TMT leader da Deloitte, explicava que, de acordo com a generalidade das pessoas, o país está atrasado em relação à transformação digital. «Mas isso é um conceito de mount stupid, quando há uma predisposição para se falar sobre um tema sem grande conhecimento de causa; Portugal está muito bem no processo de transformação digital».

O responsável reconhecia que o início da viragem para o digital teve percalços, mas que o país se está a conseguir modernizar e acompanhar o processo de transformação internacional.

«Tal como a revolução industrial combinou duas tecnologias, a revolução digital também fica marcada por isso: o telefone e computador», dizia Sérgio do Monte Lee. Destacando a conectividade e o crescimento exponencial da tecnologia, o responsável apontava ainda outra potencialidade da conectividade: «É super igualitária».

Afinal, durante a revolução industrial, Portugal teve constrangimentos; em 2017, com o aumento da conectividade, as barreiras são esbatidas e o acesso é democratizado.

 

E quando o consumidor já não vai em cantigas?

Foi justamente sobre acesso e democratização que se falou no painel ‘A Economia do Digital em Portugal’, que contou com a presença de empresas como a EDP, Unilever, CGD e a José de Mello Saúde. Para o CEO da Unilever, António Casanova, a tecnologia veio trazer várias alterações aos modelos de negócios das empresas: surgiu o e-commerce, a forma de anunciar também se alterou e há ainda outro ponto que o CEO classificou de «assustador».

«Temos de nos preparar para este mundo onde temos milhares de pessoas a falar connosco e a querer saber coisas sobre os produtos – e isso é aterrador», explicava o CEO da Unilever. Agora, com a disponibilidade das comunicações, a comunicação deixou de ser unilateral, com a faca e o queijo do lado das empresas.

As marcas, em particular, tiveram de aprender a responder às questões de um público cada vez mais informado e sem receio de fazer perguntas, inclusivamente com o impulso das redes sociais.

No campo da saúde, a tecnologia não tem permitido só avanços na área ou formas de termos um acesso mais facilitado a diversos indicadores – também trouxe novos players para o mercado. «Empresas como a Apple ou a Google têm de ser levadas a sério, encaradas como futuras concorrentes», referiu o presidente da José de Mello Saúde.

 

«A transformação digital é o maior desafio que todos os países enfrentam»

Assim começou a intervenção de Manuel Caldeira Cabral, Ministro da Economia, relativamente ao tema da transformação digital, que pode ser encarado pelas organizações com uma atitude passiva ou reactiva. «Decidimos ser reactivos e proactivos», principiava, mencionando os três programas ligados à área da tecnologia, com destaque para o Startup Portugal.

«As startups não eram normalmente vistas no processo de internacionalização – e Portugal é hoje uma óptima oportunidade para crescimento destas empresas», explicou o Ministro da Economia. Como fontes fortes do país, Manuel Caldeira Cabral destacou «as infraestruturas tecnológicos, o espaço barato… mas o que temos mais é talento».

 

A eterna questão do talento

Sempre que se fala em talento, surgem quase automaticamente duas questões: como o procurar e como fazer a retenção desse talento num mercado cada vez mais competitivo – ainda para mais, num país que viu sair muita da sua população qualificada. Num painel composto pelos ‘novos negócios’ (OutSystems e Uniplaces) e pelos ‘velhos negócios’ (Randstad Portugal e Caixa Económica Montepio Geral), conforme apelidou o moderador Ricardo Florêncio, falou-se justamente sobre a ‘Transformação Digital na Organização’.

De acordo com Remco Brouwer, responsável pelo keynote inicial, «o mercado de recrutamento é muito fragmentado, numa era de constante mudança digital». E há muito que empresas como a Randstad, com largos anos de actividade, perceberam a necessidade de se «mexerem».

«O mercado está a ser alvo de disrupção, muito à conta das startups», explicava Remco Brouwer, sem esquecer também plataformas como o LinkedIn ou a Google, que também conta com um motor de busca para trabalhos.

Para José Morgado, da Caixa Económica, a questão do talento e da sua retenção é vista de outra forma: «preocupa-me é ter equipas bem preparadas», explicou.

E também que ter em conta que se os tempos mudam, também as vontades mudam: para o presidente da Caixa Económica, «os líderes têm de iniciar a mudança, têm o papel de remover barreira, mas há também que dar espaço ao erro e à inovação».

 

A importância da iniciativa do sector público

Ao longo de várias sessões, ficou no ar um ponto transversal à questão da transformação digital: o sector público pode impulsionar a transformação. Para Henrique Martins, presidente do Conselho de Administração dos SPMS, «o sector público pode ter um papel importante na questão da transformação digital».

Como exemplo, o responsável mostrou os números relativos à emissão de atestados médicos electrónicos: até Setembro, tinham sido emitidos entre 58 a 60 mil atestados médicos, emitidos e enviados eletronicamente. Mas esta não é a única iniciativa do Estado que aposta na tecnologia: aplicações como o MySNS Carteira permitem consultar boletins de vacinas, alergias, receitas, receber notificações ou consultar guias de tratamento.

Fast Yubuy venceu o concurso Startups powered by APDC

Este ano, a APDC organizou também uma iniciativa para startups, que tiveram oportunidade de fazer pitches sobre o seu conceito e de marcar presença no espaço de exposição do congresso. Estiveram a concurso onze projectos, de um total de 36 candidaturas feitas.

A Fast Yubuy foi anunciada como a vencedora do concurso, com a sua plataforma que permite fazer compras a partir da televisão, recorrendo às habituais box das operadoras – com o t-commerce.