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Os desafios, os riscos e a facilidade de ‘comprar agora e pagar depois’

O conceito BNPL, do inglês ‘buy now, pay later’, traz uma ideia simples: adiar o pagamento das compras. Em que consiste esta fórmula, que vantagens oferece e que implementação está a ter em Portugal? E, sobretudo, quais são os riscos?

snowing/Freepik

Antes de começarmos pela explicação do conceito, comecemos pelo interesse económico que desperta: os gastos dos consumidores que utilizam as plataformas BNPL atingirá 437 mil milhões de dólares em 2027. A concretizarem-se as previsões da Juniper Research, o valor das transacções pagas desta forma multiplicar-se-á por quatro; já este ano, chegou aos 112 mil milhões de dólares.

Agora sim. Que conceito é este? Segundo a Easypay, o BNPL permite a qualquer pessoa fazer compras online e pagar em prestações, com ou sem juros. «Na prática, são pagamentos online fraccionados ou parcelados, que podem ir de um mês a um ano e que permitem aos consumidores atrasarem o pagamento ou distribuírem o custo das compras». A possibilidade de pagar compras a prestações não é propriamente nova: há vários anos que os retalhistas permitem aos clientes pagar bens, sobretudo de valores mais elevados, em prestações. A grande novidade, diz a Easypay, é que o BNPL «transportou este conceito para a era digital, permitindo a quem tenha um negócio baseado em e-commerce oferecer pagamentos a prestações para qualquer produto, por mais barato que seja, online».

O processo difere um pouco de empresa para empresa, e de marca para marca, mas, tipicamente, o conceito é o mesmo: o consumidor selecciona, no site da loja, a opção de pagamento com BNPL. Depois, segue-se uma avaliação de crédito habitualmente automatizada e, se o consumidor for “aprovado”, faz o primeiro pagamento parcial da compra. Os pagamentos posteriores serão feitos em parcelamentos, por exemplo, mensal ou trimestralmente, consoante a modalidade escolhida. «Quer isto dizer que o consumidor não precisa ser cliente de qualquer instituição financeira».

Afterpay out, Klarna in
Mas, será assim tão simples? Resolvemos experimentar. Fomos ao site da Afterpay perceber em que loja online poderíamos adquirir um produto e pagar através deste sistema. A primeira sugestão dada, para Portugal, foi a New Balance – pareceu-nos bem, até porque uns ténis são sempre bem-vindos. Escolhemos o produto mas depois… não vimos qualquer referência à Afterpay na altura do pagamento. Para que não houvesse dúvidas, pesquisámos um pouco mais e, no próprio site desta financeira, explicava-se que bastava seleccionar ‘Afterpay at checkout as your payment method’. Não conseguimos descobrir. E, como consumidores actuais que somos, desistimos.

Passámos para outra marca e fomos até ao site da Adidas. Realmente, aqui, o processo não poderia ter sido mais descomplicado. Elegemos o produto e, logo ao lado das características, a ‘bold’, aparece um chamativo ‘Paga em 3 prestações sem juros de €43,33’, neste caso com a Klarna. Ou seja, este prestador de serviços financeiros facilitava-nos a compra de uns ténis de 130 euros sem qualquer encargo para o cliente. Avançámos com a compra, escolhendo como método de pagamento a opção BNPL: se houve alguma avaliação da nossa performance financeira, foi realmente automatizada e instantânea. A primeira prestação do produto saiu do cartão de crédito no acto da compra, ficando agendado para os seguintes meses as restantes parcelas.