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Os desafios, os riscos e a facilidade de ‘comprar agora e pagar depois’

O conceito BNPL, do inglês ‘buy now, pay later’, traz uma ideia simples: adiar o pagamento das compras. Em que consiste esta fórmula, que vantagens oferece e que implementação está a ter em Portugal? E, sobretudo, quais são os riscos?

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A Deloitte traz outra figura para cima da mesa, o do regulador. A empresa admite que os produtos BNPL continuem a ganhar interesse entre consumidores e comerciantes, atraindo a atenção dos reguladores que supervisionam a segurança do consumidor nos mercados financeiros. «Os players do mercado de BNPL – fintechs, lendtechs, paytechs, bem como os comerciantes – estão a tentar cooperar para fornecer as soluções mais inovadoras, perante os desafios regulatórios, de um lado, e das expectativas do consumidor, do outro. A este grupo querem juntar-se os banco que, apesar de terem mais barreiras à implementação de produtos financeiros, têm mais experiência e uma maior possibilidade de os escalar», prevê a Deloitte.

BNPL utilizado por apenas 8% dos portugueses
Mais um relatório, mais dados: a Minsait Payments, que sustenta que este mercado de sistemas de pagamento, cresceu significativamente em 2021 e deverá atingir um valor de transacções globais de 680 mil milhões de dólares até 2025. «O BNPL é disponibilizado em retalhistas físicos e online e permite financiar as compras, sem cartão de crédito, com um número concreto de prestações. Esta opção ainda mostra baixos níveis de conhecimento e utilização na Europa, com excepção do Reino Unido, onde atinge 69% da população em termos de conhecimento, enquanto a sua utilização se estende a 29%», diz a Minsait.

Em Portugal, segundo esta empresa, o conhecimento e a utilização deste método de pagamento cai para 29% e 8%, respectivamente, em linha com os resultados de outros países europeus, como Espanha e Itália. «A concorrência em torno destes serviços BNPL está a intensificar-se. Cada vez mais, as grandes empresas de tecnologia, plataformas de comércio electrónico e fintechs estão a incorporá-los na sua proposta de valor, avisa a empresa. Um dos exemplos é a Apple: a marca liderada por Tim Cook anunciou recentemente a «ntegração da nova funcionalidade Pay Later na sua carteira digital, «juntando-se a outras empresas como a PayPal e a Amazon USA, que permitem aos seus clientes fazer estes pagamentos flexíveis», lembra a Minsait. A mesma empresa sustenta que a diferenciação, ainda limitada, entre as empresas que prestam estes serviços, cujo modelo se baseia essencialmente na capacidade de parcelar os pagamentos por igual e na possibilidade de pagar mais tarde, está a levar muitas delas a tentar diferenciar-se, entrando em novos sectores, como as viagens, os seguros, os cuidados de saúde ou o comércio B2B. Algumas estão a ir mais longe e começam a explorar a compatibilidade da tecnologia blockchain e das criptomoedas com o BNPL.

Segundo a Minsait, face a esta expansão e ao seu subsequente impacto nos pagamentos e empréstimos tradicionais, as instituições financeiras estão perante uma encruzilhada estratégica: ou se defendem de outro desafio colocado pelas fintech ou entram neste novo espaço competitivo.