Outro dos desafios que as empresas portuguesas vão ter é a implementação de programas focados na ética da utilização dos dados e na inteligência artificial. «Não obstante os princípios por trás deste desafio se encontrarem bem definidos há alguns anos, a sua operacionalização tem um impacto similar ao do governo dos dados. No entanto, vejo isto como uma oportunidade para implementação de ambos os desafios devido às suas sinergias».
Data trust suportado por contratos
Para a IBM, um data trust pode ser definido como «um administrador (que pode ser uma entidade, estrutura ou plataforma) que faz a gestão de dados, cuja propriedade é de outros». Esta gestão inclui o processo de recolha, processamento, acesso e utilização destes dados e, por isso, tem de ter frameworks legais e éticos bem definidos, que obedeçam a princípios de segurança, transparência, governo e qualidade, entre outros. «Um data trust é suportado por contratos que definem regras e dão autoridade a este administrador para tomar decisões sobre a utilização que pode ser dada àqueles dados, que vêm tipicamente de fontes partilhadas», menciona a empresa.
A título ilustrativo, Cristina Lobo Matias, data & AI service line leader da IBM Consulting Portugal, mencionou uma biblioteca virtual, com livros de diversos autores, onde o gestor tem a responsabilidade de dar acesso aos conteúdos à população e, ao mesmo tempo, salvaguardar os direitos dos seus autores; em contrapartida, a população que queira aceder a esta informação tem de estar registada e aceitar os termos e condições para a sua utilização.
Sendo este o conceito de um data trust, e na perspectiva da realidade empresarial da IBM, por analogia, «podemos pensar que funções e princípios similares são implementados e garantidos por grupos de trabalho que existem nas empresas e que garantem a gestão de dados e de informação para posterior utilização das áreas de negócio – por exemplo, uma equipa de governo pertencente, tipicamente, ao data officer».
Acesso a dados fidedignos
Um data trust terá, assim, como finalidade, permitir o acesso a dados fidedignos que podem ser usados para produzir informação e extrair conhecimento dos mesmos, que são essenciais para a transformação das organizações. «Não existe uma regra ou procedimento definido para a criação de um data trust, mas há pilares a que terá seguramente de obedecer», diz Cristina Lobo Matias. «Se quisermos criar analogias nas empresas, o que se pretende é separar os utilizadores e consumidores dos dados daqueles que os controlam e gerem. Isto é importante. porque as duas partes são essenciais para uma boa tomada de decisão. Com papéis diferentes, quem controla os dados estará focado na sua privacidade, qualidade, nível de completude, transparência, ausência de redundâncias ou enviesamento, identificação clara de owners e numa constante actualização dos dados». Por outro lado, a especialista aponta que os consumidores dos dados se vão focar nas análises e aplicação das ciências de dados, usando estas informações credíveis, de qualidade, que serão a «base para a tomada de decisão com impacto direto na modernização, inovação e crescimento das empresas».