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Data trust: um longo caminho para a confiança dos dados

O conceito de ‘data trust’ promete relançar a economia global de dados, tornando-a responsável e focada na privacidade. Se, antes, o objectivo era tirar o máximo partido dos dados, agora os especialistas falam, sobretudo, na qualidade e na fiabilidade das informações recolhidas. Empresas como a Oracle, o SAS ou a IBM são unânimes em afirmar que há, ainda, um longo caminho a percorrer.

Pietro Jeng/Unsplash

Tomada de decisão consciente e coerente
Partindo do pressuposto que todas as decisões tomadas por uma empresa têm como base dados gerados por si ou com recurso a terceiros, a importância do conceito de ‘data trust’, é crucial para garantir uma tomada de decisão consciente e coerente, baseada em factos e não em desinformação: «De salientar ainda o impacto que as garantias dadas pelo data trust sobre a fiabilidade e veracidade dos dados partilhados por terceiros têm, ao permitir que o processo de tomada de decisão seja mais ágil e assertivo», diz José Fonseca.

O senior system engineer do SAS menciona que várias iniciativas têm vindo a ser tomadas pelas organizações nacionais ao longo dos últimos anos, com o intuito de tirar o máximo partido dos dados; contudo, são poucos os projectos que se iniciam com a preocupação da qualidade dos dados. «Muitas das preocupações prendem-se com a correcção inicial da cada uma das fontes de dados, individualmente. Para que os projectos de qualidade de dados tenham o impacto desejado, deverão ser implementados processos de monitorização e avaliação constantes.

Aliás, para José Fonseca, Portugal está a mudar o rumo, muito devido à necessidade de implementar princípios regulatórios como o BCBS239 e o RGPD, o que originou a tomada de consciência por grande parte dos executivos das empresas – isto fomentou o surgimento de cargos como data protection officer (DPO) e chef data officer (CDO). Outro dos aspectos importantes na mudança de atitude tem sido «o entrave que a remediação tardia da qualidade de dados tem no ciclo analítico», podendo este ser responsável por «até 80% do tempo necessário para a criação de um modelo», o que por sua vez também «tem impacto na tomada de decisões», explica o responsável.

O desafio está no governo dos dados
Na opinião de José Fonseca, o maior desafio que as empresas portuguesas enfrentam neste contexto está relacionado com o «governo dos dados», em especial porque a sua implementação abrange todas as áreas e a forma como as organizações vêem e trabalham os seus dados. «Estes projectos são, devido à sua abrangência, transformacionais, pelo que o apoio a nível executivo é obrigatório. Somente com este nível de apoio é possível uma implementação com sucesso, devido ao impacto nas pessoas, nos processos e na tecnologia utilizada, mas também no tempo de execução».

Os projectos de governo de dados são, na verdade, projectos que só atingem o seu pleno potencial quando existir a participação de toda a organização e uma plena consciência da sua importância, lembra José Fonseca: «Este desafio, por parte das empresas portuguesas, irá ser reforçado, provavelmente, nos próximos meses, por directivas ou regulamentos da Comunidade Europeia, considerado os objectivos descritos na Estratégia Europeia para os Dados. Apesar do grande impacto inicial que estas iniciativas têm para as empresas, o valor de retorno para as mesmas é grande ao permitir-lhes fazer parte da economia dos dados».