Gonçalo Caseiro diz que os modelos de linguagem, a IA generativa, a aprendizagem das máquinas com dados estão a causar impactos no mundo empresarial já hoje, ainda sem a computação quântica: «Mais tarde, serão eles próprios a sofrer o impacto da computação quântica, permitindo ir além do alcance dos computadores “tradicionais”. Será possível fornecer soluções mais rápidas e mais eficientes para problemas de análise de dados (previsão, classificação, etc.). Mas ainda existe muita investigação antes do seu potencial ser colocado à disposição de todos». Ou seja, parece não haver muitas dúvidas de que, apesar de ainda no início, a utilização de IA já tem impactos imediatos em várias áreas de negócio, poupando horas de trabalho. Aliás, o investimento em inteligência artificial no mundo empresarial superou os 176 mil milhões dólares, em 2021, segundo dados do Our World in Data. Também em Portugal, o Governo vai canalizar 77 milhões de euros, com fundos PRR para projectos de IA e existem ainda outros mecanismos, já em vigor, para a aposta nesta área: «É muito importante o sector público acelerar estes investimentos para acompanhar o privado na implementação de nova tecnologia, para uma melhor optimização e simplificação dos seus serviços», lembra Gonçalo Caseiro. O especialista confirma ainda que esta tecnologia já está a ser usada em bancos para detectar fraudes, no retalho e em diversos mercados, como na indústria automóvel, e na saúde. No entanto, Gonçalo Caseiro acrescenta que a massificação «ainda não aconteceu» e que não nos devemos «deixar deslumbrar pelos modelos de linguagem que agora são populares». Por outro lado, diz ser particularmente importante garantir uma utilização ética e responsável, uma vez que esta tecnologia pode ter um «grande impacto a nível social e a nível de segurança e protecção de dados».
Expandir a capacidade de computação
A abordagem de Cristina Lobo Matias, senior managing consultant – data & AI, da IBM Consulting Portugal, é semelhante à de Gonçalo Caseiro. Para esta responsável, a computação quântica surge para dar resposta a problemas complexos considerados impraticáveis ou impossíveis de endereçar através da computação tradicional que conhecemos: «A inteligência artificial quântica vem expandir a capacidade de computação e cria, com isso, novas oportunidades com impacto muito positivo no progresso e nas nossas vidas, pois consegue processar grandes volumes de dados de uma maneira muito mais rápida e precisa». Cristina Lobo Matias dá um exemplo: «Estudos indicam que, para o tamanho dos números usados na criptografia de chave pública-privada actual, a computação convencional levaria triliões de anos enquanto a quântica, no futuro, poderia levar minutos».
Assim, a consultora diz ser fácil imaginar que a computação quântica represente um risco para os protocolos clássicos de criptografia, pois os futuros computadores quânticos podem ser capazes de quebrar algumas das soluções de criptografia existentes: «A ameaça pode existir e é por isso que devemos estar preparados. Pensar que a capacidade quântica pode ser uma ameaça à segurança, sem pensar que será também uma forte aliada para garantir a nossa segurança, é estarmos a pôr os pesos só num dos lados da balança». É por isso que, para dar resposta aos desafios de segurança desta nova era quântica, empresas como a IBM estão a «desenvolver novos algoritmos criptográficos que protegem os sistemas contra ameaças actuais e futuras».
Cristina Lobo Matias também acredita que a inteligência artificial, potenciada pela computação quântica, pode ter um impacto significativo no mundo empresarial, pois permite acelerar investigação e desenvolvimento, aumentar a eficiência e a precisão de processos empresariais e fornecer soluções inovadoras para desafios complexos: «Esta evolução irá, certamente, mudar o mundo empresarial, onde será sempre importante haver uma consciencialização do potencial e benefícios da quântica e a IA, e na forma de minimizar os potenciais riscos existentes».