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Kaspersky NEXT: humanidade aumentada tem de ser segura

O evento da empresa dedicado ao futuro da tecnologia foi, este ano, sobre a tendência da humanidade aumentada. Ficou claro que há muito a fazer no campo da segurança e privacidade e que é urgente começar a pensar nestes aspectos.

Seja por questões de saúde ou por escolha, o uso de próteses biónicas ou de tecnologia dentro do corpo é cada vez mais uma realidade. Atenta a esta situação, a Kaspersky fez um estudo sobre o futuro e tem dedicado alguns eventos à humanidade aumentada, tal como a businessIT, que já deu foco ao tema.

No NEXT, Hannes Sjoblad (CEO da DSruptive e professor na Singularity University Nordic), que tem de um microchip na mão que lhe permite abrir a portas e pagar alguns serviços, explicou como vê a humanidade aumentada: «Acho que estamos apenas no início desta tecnologia e do que pode fazer pelas pessoas. A minha visão a de que não é apenas para alguns, mas realmente uma solução para as massas». Sjoblad disse também que integrar tecnologia no corpo de pessoas saudáveis deve «acrescentar valor significativo» e não pode ser apenas algo que as pessoas «fazem por diversão».

A artista pop Viktoria Modesta (que tem uma perna biónica) e a modelo Tilly Lockey ( dois braços biónicos) falaram das experiências com a tecnologia e de como o facto lhes trouxe uma sensação de que as deficiências podem ser fraquezas, mas vistas como «poderes». Ambas contaram ainda o trabalho que fazem com as empresas que desenvolveram os seus membros para que estes sejam exactamente aquilo de que precisam e façam o que querem.

Segurança é fundamental
Tendo em consideração que os humanos aumentados estão intimamente ligados ao uso de tecnologia, muita dela com conectividade, a segurança e a privacidade são aspectos de extrema importância, já que têm o potencial de serem alvo de ataques cibernéticos.

Bertolt Meyer, professor catedrático de psicologia na Chemnitz University of Technology e que tem também uma mão biónica, esclareceu que a mesma está ligada a uma app no smartphone e que, por isso, em teoria, seria possível alguém «hackear a prótese». O docente considerou que a segurança é «vital» e que é requerido «um nível de segurança que os consumidores domésticos usualmente não têm».

A Kaspersky é uma das empresas que está «preocupada» com a segurança da tecnologia relativa à humanidade aumentada e trabalha nessa área «há algum tempo», referiu Marco Preuss, director da equipa de análise e investigação global GReAT da empresa para a Europa. O responsável salientou a importância de aprender com o passado: «Se pensarmos nos computadores, no início ninguém se importava com a segurança e vimos infecções em massa. Depois vieram os smartphones e outros dispositivos móveis – a história repetiu-se e, em seguida, aconteceu o mesmo com a IoT. Por isso, com estas tecnologias que fazem parte do corpo humano, ou estão dentro dele, é ainda mais importante tratar do tema da segurança antes de entrarem para o mercado».

O director afirmou que uma das áreas em que trabalham é na «imunidade», uma tecnologia que não é inatacável, mas cujos gastos para fazer os ataques sejam tão altos que «não justificam os eventuais proveitos que se possam ter com esse hack». Assim, há que pensar na «segurança em primeiro lugar e como uma funcionalidade essencial» – é exactamente isso que a empresa de origem russa está a fazer, assim como «aprofundar a protecção ao nível de hardware», explicou.

Privacidade também tem de ser considerada
Mas não se trata apenas de segurança, «é também sobre direitos e privacidade», disse Hannes Sjoblad, que falou como utilizador e fornecedor de tecnologia de humanidade aumentada.

O responsável alertou para vários factores que é preciso considerar: «Será que as empresas deverão ter o direito de forçar, por exemplo, actualizações para um implante que se encontra dentro do meu corpo? Deve o utilizador poder ou não consentir, já que se trata da sua própria segurança e também do seu corpo? Não são perguntas fáceis de responder».

O CEO salientou que a «cibersegurança é crítica» e que «tem de amadurecer, assim como os protocolos de segurança que este tipo de tecnologia requer». Contudo, Hannes Sjoblad revela que há uma base para guiar esta abordagem: «Felizmente, podemos aprender muito com os wearables, para os quais existe um sistema bem estabelecido de protecção de dados e direitos de privacidade e que são aplicáveis a esta tecnologia. Estou convicto de que a indústria vai crescer e de que irá lidar com os problemas à medida que eles aparecerem».

Colaboração entre partes
A segurança da humanidade aumentada terá de ter soluções próprias, mas David Jacoby, evangelista e investigador sénior no departamento de segurança da Kaspersky, lembra que a principal questão é a «relação entre os humanos e a tecnologia»; para isso, «é preciso legislação» e «trabalhar em conjunto com as pessoas que de facto usam a tecnologia».

Já Marcos Preuss destacou que «ainda há muito a aprender e desenvolver para conseguir proteger as tecnologias de humanidade aumentada» e que é necessária a «participação não só dos fabricantes e das empresas de segurança, mas também da sociedade, dos governos e dos reguladores para que seja um futuro promissor».

David Jacoby, que trabalha há vários anos com a União Europeia (UE) ao nível dos produtos de IoT, acrescentou que «tem de haver uma base de segurança» e um «trabalho de sinergia entre a comunidade de biohacking, os legisladores e os fabricantes», sendo que estes últimos podem «realmente acelerar o processo».

Uma questão de ética
Sobre a necessidade de mais legislação, Bertolt Meyer disse porque é que é preciso fazer mais: «Uma coisa são terapias e dispositivos médicos, em que ninguém tem objecções éticas. Ninguém é contra que a Viktoria tenha uma perna biónica ou eu e a Tilly tenhamos braços biónicos. Quando falamos de colocar tecnologia no corpo para aumentar capacidades, isto já não é considerado normal e por isso temos de discutir em sociedade». O professor falou da necessidade de haver regras claras para quem, por exemplo, quiser cortar uma perna saudável para por um membro biónico ou sobre os interesses comerciais das empresas que produzem a tecnologia – é mais «rentável desenvolver para mercados maiores, do que para nichos de pessoas que tem uma deficiência ou doença: «Há muito dinheiro em jogo» neste mercado, «o que trará cada vez mais considerações éticas», concluiu Bertolt Meyer.

Hannes Sjoblad terminou dizendo que há que ter sempre como foco o que é a humanidade aumentada e não apenas a tecnologia: «Trata-se de criar um futuro muito melhor para todos neste planeta, novas oportunidades, novas formas de melhorar a nossa saúde e de expressão. Não devemos esquecer os potenciais e maravilhosos aspectos positivos da aplicação destas tecnologias, só porque estamos preocupados com o facto de alguém poder abusar delas».