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Os desafios de uma saúde (cada vez mais) digital

As organizações de saúde, públicas e privadas, continuam a lutar para responder à pandemia da COVID-19 e adaptar as suas operações para cumprir outros aspectos da sua missão de assistência. No entanto, há que começar a definir e preparar o futuro deste sector no meio de incertezas económicas, reguladoras e sociais. Como será o panorama pós-COVID-19?

Tom Claes/Unsplash

Entretanto, na mesa redonda organizada pela Scottsdale Institute, os participantes chegaram a um acordo: a nova agenda de saúde digital precisa de se concentrar em três áreas abrangentes – desenvolver cuidados virtuais, lidar com o impacto financeiro da pandemia e adoptar as lições aprendidas com a gestão da crise.

Os participantes na mesa admitiram que o volume de consultas de telessaúde «aumentou dramaticamente» à medida que os pacientes procuraram, muito mais em período de confinamento e pandemia, obter atendimento em ambulatório de forma segura. Muitos médicos viram o volume das suas visitas de telessaúde crescer por um factor de 50 a 175. «Esse aumento ocorreu num período muito curto – geralmente em dias ou, no máximo, semanas. Os fornecedores construíram rapidamente uma “ponte” temporária com ferramentas digitais e soluções alternativas operacionais que não são robustas o suficiente para sustentar este nível de uso permanentemente».

Virtual é novo normal
Corroborando esta ideia, Edgar Silva diz que o atendimento virtual faz, agora, parte do “novo normal”, pelo que os sistemas de saúde devem construir uma ponte resistente e permanente que inclua estruturas e processos organizacionais, financeiros e clínicos. «O sistema de saúde precisará de integrar, desde tecnologia de telessaúde ao registo electrónico de saúde, definir protocolos clínicos para visitas de telessaúde adequadas, obter reembolso para visitas e renovar os processos de prática médica e hospitalar de apoio».

Um dos exemplos dados pelo profissional são as salas de espera virtuais. «À medida que os sistemas de saúde implementam uma abordagem permanente à telessaúde, devem reconhecê-la como um componente de duas estratégias digitais de saúde mais amplas: garantir que o atendimento seja prestado no ambiente certo e criar uma óptima experiência para o paciente através de uma ‘porta digital’». Ou seja, o atendimento virtual tem a capacidade de ajudar no avanço dos esforços para gerir o atendimento ao paciente numa série de configurações. «A monitorização remota pode transferir grande parte da gestão de doenças crónicas para casa. A telessaúde pode permitir o acesso a consultas especializadas para um paciente numa casa de repouso sem ter que transportar o paciente para o centro de saúde, por exemplo».

A experiência do paciente
A pandemia aumentou a dependência de tecnologias digitais para muitas das actividades diárias dos consumidores. As pessoas trabalham em casa coladas ao Zoom e os mantimentos chegam pelas lojas online – a Amazon passou a ser a nossa melhor aliada. «A questão é que os consumidores esperam que as suas experiências de saúde digital sejam igualmente eficazes e fáceis de usar», explica Amadeo Duarte, formador em marketing digital para o sector da saúde, a leccionar em Inglaterra.

«Para responder a essas expectativas, os sistemas de saúde têm de redobrar os seus esforços digitais, permitindo que os pacientes lidem com interacções de rotina, como agendar uma consulta, pagar uma conta, encontrar um médico, renovar um medicamento, encontrar respostas para questões de saúde e navegar no próprio sistema de saúde». O professor diz que há sistemas de saúde a oferecerem nominalmente esses recursos, por meio de portais de paciente com interfaces de utilizador, mas que são de «desempenho irregular» e «devem claramente melhorar».

Para reduzir despesas, o formador defende que os sistemas de saúde devem analisar exaustivamente as oportunidades de aplicar ferramentas digitais para agilizar as operações clínicas e administrativas. «Devem continuar a melhorar a usabilidade do registo electrónico de saúde para reduzir as frustrações dos médicos e garantir que eles insiram as informações correctamente. E devem aprimorar os recursos de análise para compreender os custos de atendimento e a produtividade da equipa».

Durante a pandemia, «muitos sistemas de saúde descobriram deficiências nos recursos analíticos», diz Amadeo Duarte. A qualidade dos dados era irregular, as análises demoravam muito e os modelos preditivos não eram suficientemente abrangentes, explicou. «Os gestores e médicos geralmente não têm uma boa formação no uso dos dados. À medida que se ajustam ao novo normal, os sistemas de saúde irão procurar remediar essas deficiências».