Em Foco

Impressão: um negócio que soube reinventar-se

Com a transformação digital dos negócios e a desmaterialização de processos, o papel tem sido relegado para segundo plano e apenas é usado quando absolutamente necessário. Mas será que isto levou a uma quebra na área da impressão? As empresas do meio recusam esta ideia e garantem que, hoje, o sector se reinventou e é muito mais que a simples produção de documentos em papel.

Jannoon028 / Freepik

O papel da segurança
A segurança é um tema cada vez mais importante para as organizações e a impressão não é alheia a este facto ainda para mais numa altura em que a segurança no ‘endpoint’ e ‘by design’ começam a ser obrigatórios e onde a mobilidade permite acessos de diversos locais e a vários dispositivos, aumentando o perímetro de ataque e os pontos de entrada, e como tal, as vulnerabilidades a que as empresas estão sujeitas. Todos os fabricantes com quem falámos têm, por isso, cuidados-extra nesta matéria e diversas funcionalidades e opções nos seus equipamentos para assegurar protecção acrescida.

O responsável da Konica Minolta revela que a empresa cedo percebeu «a importância de manter todos os canais de comunicação das empresas protegidos» e tem «soluções que protegem toda a informação que entra e sai dos equipamentos, como também soluções de cibersegurança de firewall, anti-virus, anti-ransomware, fish threading e mecanismos de auditoria interna» em parceria com a Sophos.

Por seu lado, a Canon tem uma abordagem 360, quer ao «nível do dipositivo, para proteger a rede à qual está ligado, quer ao nível do documento, para impedir que informação sensível seja vista por pessoas. A preocupação é impedir que os problemas «sequer aconteçam». A empresa investiu no desenvolvimento da plataforma Uniflow, que oferece «níveis de segurança muito avançados, tanto a nível dos documentos como dos utilizadores, de forma a prevenir utilizações indevidas e documentos desprotegidos», indica João Fernandes Dias.

«Uma protecção integrada ao nível do dispositivo e que inclui a protecção da rede, do servidor, das aplicações integradas e de outros elementos» é a abordagem da Ricoh, que «trabalha lado a lado com os clientes para proteger a infraestrutura de impressão e documentação, construída com base nos princípios de segurança e privacidade ‘CIA’: confidencialidade, integridade e disponibilidade».

João Pedro Santos não tem dúvidas de que a HP foi «pioneira na impressão segura» e fala de alguns exemplos: «Criámos o Conselho Consultivo de Segurança, que funciona para identificar ameaças em evolução de uma forma cada vez mais complexa no contexto de impressão. Temos o portfólio mais robusto e avançado de segurança de impressão tanto a nível de produto como de serviços e soluções».

O responsável destaca o «serviço de segurança ao nível do BIOS» e esclarece que «são, por enquanto, o único fabricante que inclui detecção de intrusão e monitorização de tráfego em tempo real onde perante algo estranho ou anormal o equipamento executa um ‘self-healing’ voltando a um estado previamente identificado como seguro». A segurança na impressão «é claramente uma área que se destaca na oferta da HP», conclui.

O que se espera do futuro
As perspectivas para o futuro são animadoras, segundo as empresas do sector, que vêem a estabilidade da indústria, o potencial de inovação e o crescimento do modelo as-a-service como os grandes pilares para os próximos anos.

João Fernandes Dias explica a visão da Canon: «Acreditamos que o futuro nos trará mais oportunidades que nunca – vamos assistir a um mundo superinovador a grande velocidade. A capacidade inovadora (da marca), os bons resultados e a nossa herança só nos podem transmitir uma confiança extraordinária no futuro».

A Ricoh olha para o futuro «com confiança e positivismo», diz o director de marketing da empresa para Espanha e Portugal. Xavier Moreno esclarece ainda que aposta será «ajudar a transformação digital dos clientes com novos produtos e serviços sempre vocacionados para tornar as organizações mais produtivas e eficazes».

Com uma posição e abrangência um pouco diferente no mercado, a Konica Minolta quer ser o «parceiro estratégico de tecnologia e sistemas de informação» e vai privilegiar «a área do Escritório do Futuro» e a «impressão industrial e profissional». A empresa já tem um caminho bem definido como revela Pedro Monteiro: «Em ambas as áreas temos um roadmap de evolução de produtos e serviços que nos permite assumir o futuro com optimismo e com a certeza de que estamos a aportar valor ao mercado».

Na Brother, a convicção é a de que os serviços serão o futuro: «Vamos assistir à democratização dos MPS que até agora acontecia apenas nas grandes empresas. Esta tendência está a começar a passar para as pequenas e médias empresas e vai passar ainda mais» nos próximos anos.

O impacto da COVID-19
Apesar do optimismo demonstrado pelos fabricantes, a COVID-19 vai trazer impactos negativos, se bem que poderão não ser assim tão duradouros. De acordo com as projecções da IDC, as quebras podem variar entre 8% a 20%, nos EUA, em 2020, dependendo de cenários mais e menos optimistas, mas não se devem prolongar muito no tempo; o mercado «deve voltar aos números registados anteriormente ainda em 2021», refere Robert Palmer, research vice president da área de imaging, printing and document solutions da IDC. Já em Portugal, Gabriel Coimbra, group vice president e director geral da IDC Portugal, diz que a previsão de crescimento era de aproximadamente 2-3%» e que no «pós-COVID, a previsão é de uma quebra de 6%». Isto mostra o comportamento expectável do mercado em todo o mundo, mas estes valores poderão ainda ser mais negativos já que «vão ser extremamente influenciados pela duração dos confinamentos» e a possibilidade de uma «segunda vaga», esclarece Robert Palmer.

E não nos deixemos enganar pelos números de vendas das impressoras nas primeiras semanas em que o mundo se começou a isolar e que em Portugal, de acordo com a Gfk, cresceram 231%, porque como explica João Fradinho, «está a existir uma deslocalização da impressão das empresas para casa», mas com um alerta: «A impressão parou nas empresas e o que se imprime em casa poderá não ser a mesma coisa». João Pedro Santos partilha a mesma opinião: «No contexto da impressão, uma parte do impacto negativo no segmento de Office e Graphics é mitigado pelo crescimento do segmento Home». O responsável acredita que áreas como «MPS, sustentabilidade, segurança e mobilidade terão uma aceleração brusca» e deixa um alerta: «As empresas do sector mais bem preparadas serão aquelas que irão sobreviver. As que dependem inteiramente ou em grande parte do segmento Office terão um período bastante complicado». Isto é alicerçado também pelos dados da Quocirca, que revela no seu estudo ‘COVID-19: Accelerating Print Industry Transformation’, que, em Abril, só 5% das empresas não alteraram os seus volumes de impressão e que quase sete em cada dez teve quebras muito significativas na quantidade de documentos impressos.

Outro problema é a falta de produtos já que «as fábricas estão a produzir menos» e mesmo nos locais onde já estão abertas, «produção é mais baixa e mais cara porque as linhas de produção têm menos pessoas, por causa da distância de segurança», refere o country manager da Brother. Mas a IDC revela que esta também poderá ser um momento de inovação e novas soluções.