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Impressão: um negócio que soube reinventar-se

Com a transformação digital dos negócios e a desmaterialização de processos, o papel tem sido relegado para segundo plano e apenas é usado quando absolutamente necessário. Mas será que isto levou a uma quebra na área da impressão? As empresas do meio recusam esta ideia e garantem que, hoje, o sector se reinventou e é muito mais que a simples produção de documentos em papel.

Jannoon028 / Freepik

Processo de reinvenção
A impressão tem evoluído nos últimos anos e é por esse motivo já não é só papel. As empresas oferecem, actualmente, um conjunto de serviços às empresas e aos utilizadores domésticos que não consiste apenas num equipamento. Esta evolução frisada pela Ricoh é também partilhada por outros fabricantes. «Em pouco tempo, passámos de simples multifuncionais para dispositivos muito avançados e totalmente integrados nas redes, com a cloud e processos documentais de tal forma avançados que se tornaram o epicentro documental da empresa», salienta João Fernandes Dias, DS product strategy marketing manager Canon Spain & Portugal.

De reinvenção fala também a HP: o rápido aumento da mobilidade, a aceleração da digitalização e a mudança para a economia “como serviço” obrigaram todos os fabricantes a rever as suas estratégias nos segmentos mais tradicionais, nomeadamente o home e o office printing». João Pedro Santos, category manager office printing solutions da empresa, esclarece mesmo que o «mercado tem vindo a ajustar-se» e que por exemplo «o crescente impacto dos consumíveis clonados e contrafeitos, obrigaram as marcas a acelerar o modelo como serviço», uma das grandes mudanças que tem vindo a acontecer no sector.

Já «nos segmentos industriais e grande formato, observam-se também mudanças nos conceitos. O offset perde espaço, ano após ano, para o mercado de impressão digital e as tecnologias de LED tendem a desaparecer devido aos custos energéticos associados». O responsável afirma que a «reinvenção para a HP não foi mais + que uma evolução natural». Assim, o destaque foi para o desenvolvimento de «soluções que aumentassem a relevância (das impressoras e MFP) no local de trabalho cada vez mais digital e serviços que se adaptassem às necessidades do cliente».

Pedro Monteiro, deputy managing director da Konica Minolta, explica também que a reinvenção do negócio vem das necessidades do mercado: «À medida que acompanhamos a transformação digital das empresas, também os mercados de impressão continuam a avançar em direcção à tecnologia digital». Isto revela-se na oferta Escritório do Futuro, que integra uma solução de impressão e IT Services: «O nosso objectivo é oferecer um serviço 360 que vá ao encontro com a maior parte das necessidades de uma empresa, desde aquilo que são as ferramentas de posto de trabalho, ferramentas de centro de dados, bem como a integração de dados de suporte à decisão e segurança. Isto inclui a gestão documental, automatização de processos, gestão de infraestrutura, cloud e segurança». A estratégia da Konica Minolta demonstra bem como as empresas de impressão não são hoje só sobre imprimir em papel, mas sim uma variedade ampla de serviços, centrados na impressão e no digital.

Estabilidade e adaptação
Em relação às alterações verificadas no mercado, João Fradinho, country-manager da Brother Portugal, explica que considera que o sector está estável, apesar de existirem algumas mudanças nos hábitos: «Hoje toda a gente está a digitalizar e é verdade que aquilo que se digitaliza, na maior parte das vezes, não se imprime, mas também é verdade que, ao termos mais informação, também há mais oportunidades para se imprimir e uma coisa substitui a outra. Assim, o que estamos a ver é que os níveis de impressão se estão a manter e não tem havido variações significativas ao longo dos últimos anos».

O responsável da Ricoh tem quase a mesma linha de pensamento tem: «O mercado de impressão para escritório é maduro, com uma longa história, mas em constante evolução. Os equipamentos de impressão estão a adaptar-se às necessidades e às novas formas de trabalhar e continuarão a fazê-lo».

Evolução dos modelos de negócio
Actualmente a impressão destinada ao mercado empresarial é a mais importante no negócio de Brother, que há alguns anos era mais ligada ao doméstico. Hoje, o home market corresponde a 5% do negócio e o empresarial a 70%, uma forma de adaptação e evolução conforme explicou João Fradinho: «Praticamente não temos soluções para o mercado doméstico, que assenta essencialmente em tecnologia de jacto de tinta abaixo dos 79 euros. Isto no passado não era verdade, mas hoje temos pouca penetração no mercado doméstico e muita representação no mercado de micro e pequenas empresas. São equipamentos que se vendem no mercado de consumo, mas com destino profissional – pode ser um contabilista ou advogado que trabalha em casa. Toda a nossa impressão se dirige ao mercado profissional desde micro e PME a grandes empresas».

Impressão como serviço
O ‘as-a-service’ já existe em todos os sectores das TI e a área de impressão não é excepção; por isso, os modelos baseados em serviços continuam a crescer. João Pedro Santos deu exemplo disso mesmo em relação aos tinteiros «no qual foram pioneiros». A verdade é que há desses exemplos em todos os fabricantes. Na Epson, «o peso dos serviços está a aumentar e deve-se principalmente à transformação progressiva num modelo cada vez mais orientado para B2B. No plano Print365, para serviços de impressão para PME, alcançámos um crescimento de 81% nos últimos dois anos, colocando a Epson Ibérica como a segunda empresa que mais contribui para este negócio da Epson na Europa», revela Óscar Visuña. No caso da Ricoh, a empresa «está a crescer em office services, onde as soluções de colaboração, TI e gestão documental são enquadradas» e o mesmo se passa na Konica Minolta, cuja «estratégia é investir continuamente em novas áreas de negócio e tecnologias, de forma a garantir novas propostas de valor para o mercado», explica Pedro Monteiro.

Impressão industrial cada vez mais relevante
O segmento industrial vale aproximadamente dez mil milhões de euros, revela a HP, e a sua crescente importância no negócio das empresas de impressão está bem espalhado na atenção cada vez maior que está a ser dada a esta área por todas as fabricantes com quem falámos. João Pedro Santos, diz que «faz parte das prioridades da HP para o futuro da empresa» e que, por isso, capta uma «parte muito significativa do investimento em investigação e desenvolvimento».

A área de impressão em têxteis assume também nos últimos anos um lugar de destaque, com o mercado global a valer, em 2019, cerca de mil milhões de euros. Nesse âmbito, a HP introduziu novos produtos, como o HP Stitch, mas também uma oferta específica de managed print services (MPS) para o sector.

Xavier Moreno salienta que uma das estratégias de desenvolvimento da Ricoh é mesmo «a expansão do conceito de impressão em todas as áreas possíveis, além do papel» e, por isso, tem «um departamento de Commercial & Industrial Printing para oferecer o melhor serviço nos mercados já consolidados de impressão profissional e desenvolver tecnologias que possibilitem novas formas de impressão, quase sempre próximas ou incorporadas a outros processos industriais». O responsável dá alguns exemplos do que a empresa está a proporcionar com a sua tecnologia, como a impressão em camiões ou aviões ou de células que compõem tecidos vivos que podem ser usados na medicina regenerativa.