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Impressão: um negócio que soube reinventar-se

Com a transformação digital dos negócios e a desmaterialização de processos, o papel tem sido relegado para segundo plano e apenas é usado quando absolutamente necessário. Mas será que isto levou a uma quebra na área da impressão? As empresas do meio recusam esta ideia e garantem que, hoje, o sector se reinventou e é muito mais que a simples produção de documentos em papel.

Jannoon028 / Freepik

Hoje, é commumente aceite que estamos na quarta revolução industrial, em que o digital nos traz um conjunto de novas possibilidades e onde o papel, em especial e por motivos de sustentabilidade ambiental, é um inimigo.

É de esperar que num mundo cada vez mais livre de papel, um sector tão tradicional como a impressão fosse um dos mais afectados, mas a verdade é que há também mais informação – as principais empresas fabricantes de impressoras têm sabido adaptar-se às mudanças e oferecem mais que um simples equipamento para imprimir.

Visão do mercado
O mercado de impressão é muito amplo e tem diversos segmentos, sendo o 3D, a sua mais recente estrela. Mas, quando falamos de impressoras e multifuncionais (MFP) usadas nas empresas e pelos consumidores, designados no mercado por ‘periféricos de cópia impressa’ (hardcopy peripheral ou HCP), estamos a referirmo-nos a uma área mais tradicional que representou, em 2019, mais de 94 milhões de unidades vendidas em todo o mundo e quase 50 mil milhões de euros.

Segundo a IDC, no último trimestre de 2019, os valores de vendas foram de 11 mil milhões de euros e cerca de 25 milhões de unidades. Mas, se os últimos dados disponibilizados pela consultora no segmento que inclui impressoras de formatos A2 até A4 mostram um crescimento de 0,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, em termos de valor, mostram também um declínio de 5,4% em termos de unidades.

Na Europa Ocidental, o cenário não é muito diferente e as vendas baixaram 1,25 milhões de unidades em 2019, ou seja, 6,3% em relação a 2018. Tudo isto mostra uma «mudança dos hábitos de impressão em casa e nos negócios» e que poderá levar a «mais inovação, novas fontes de receitas ligadas a outros negócios não core e aquisições», explica Phil Sargeant, program director do Western European imaging, hardware devices, and document solutions group da IDC.

No que diz respeito a aquisições, esta é mesmo uma tendência bem exemplificada pela tentativa da Xerox de comprar a HP, algo que está a ser “cozinhado” há vários meses, mas que até momento não aconteceu.

Mas como não só de impressoras de formatos A2 até A4 e multifuncionais vive a impressão, se tivermos em conta o segmento industrial, profissional e de publicidade impressa, segundo a empresa de estudos de mercado Smithers, a impressão vai crescer 1,3% ano-a-ano, de 748 mil milhões, em 2019, para 758 mil milhões em 2022. Este número não é alheio às mudanças que têm acontecido no sector, já que o crescimento do mercado será conduzido pela área de impressão de embalagens e etiquetas, uma área mais industrial, e não derivada da impressão mais tradicional. No entanto, a COVID-19 veio baralhar momentaneamente estas contas – vamos falar disto mais à frente.

O que é, hoje, a impressão?
Falámos com empresas cujo core é a impressão e outras em que a impressão é uma área de extrema importância, mas que têm um portfólio bem mais diversificado e operam em outros segmentos que vão da computação à videovigilância ou à fotografia.

«A impressão é muito mais que produzir documentos em papel», diz Sandra Andrade, marketing & communication manager da Xerox Portugal, que revela que empresa «construiu o portfólio de soluções e serviços capaz de unir os dois mundos: o do papel e o do digital, integrando de modo eficiente todos os fluxos documentais». A Xerox vê a impressão como algo abrangente e tem como foco «ir muito além da impressão, mas baseando-se nessa tecnologia, para contribuir para a mudança de paradigma da forma como o trabalho é feito».

Já para a Epson, a «impressão continua a ser uma ferramenta essencial para empresas, trabalhadores independentes e todos aqueles trabalham em casa» refere Óscar Visuña, head of business sales da Epson Ibérica. A Ricoh também partilha da visão de que a impressão é essencial para as organizações, mas que «precisa de se adaptar aos novos desafios de formas de trabalho e às novas circunstâncias laborais e sociais que possam surgir», refere Xavier Moreno, director de marketing Ricoh España y Portugal. É talvez por isso que o responsável diz que, além da área tradicional de impressão e de digitalização, há também os «serviços de gestão de impressão e digitalização em cloud, colaboração e infraestrutura de TI», um chapéu bem diferente do que se espera de uma empresa que têm como core business a impressão.