Reportagem

Building the Future: como a tecnologia pode ajudar a “activar” Portugal

A segunda edição do evento organizado pela Microsoft Portugal no âmbito da iniciativa ‘Ativar Portugal’ mostrou como a economia digital é essencial para construir o futuro do País.

O Building the Future reuniu especialistas, startups e empresas no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, para mostrar como a transformação digital é uma inevitabilidade, se Portugal quer ser um País competitivo, e explicar de que forma a tecnologia é parte do futuro. O evento, que contou com mais de 4500 participantes, iniciou com a intervenção de Laila Pawlak, a co-fundadora e CEO da SingularityU Nordic que destacou que a tecnologia «deve ajudar as pessoas».

A responsável deu exemplos de tecnologia criada pelos animais, como os ninhos e diques, e pelos humanos, como a iBeer, uma app que permite fingir beber cerveja, para evidenciar que por vezes se está a desenvolver tecnologia que não é importante. «Então e se fizéssemos como os castores e construíssemos tecnologia que tivesse um impacto positivo na espécie?», sugeriu. A responsável disse que «a lista de to-do e as preocupações das empresas devem ser os dezassetes objectivos de desenvolvimento sustentável da ONU» e revelou porquê. Segundo dados do Fórum Económico, «pessoas confiam mais nas empresas do que nos governos» por isso, «olham para os negócios e para a tecnologia como uma forma de resolver os seus problemas e os do mundo».

Mudança nos negócios
A empreendedora salientou que o poder da tecnologia é exponencial e que está a mudar as empresas, alterando ou diversificando o sector da actividade, como aconteceu com a Amazon, e trazendo novos modelos de negócio. «Já não existem negócios B2B ou B2C mas sim B2IE (empresas individuais), B2I (para cada indivíduo) e B2A (assistentes)» e que estas serão as «novas formas de comunicar e fazer negócio». Outro dos factores ao qual as empresas têm de estar atentas é que a «concorrência está diferente». Laila Pawlak referiu como os carros eléctricos são, na verdade, um concorrente da Red Bull, já que «as pessoas deixam de ir às estações de serviço, locais que correspondem a 1/3 das vendas» da bebida energética.

Tudo isto deve ser considerado para fazer «a transformação do hardware e do software para o humanware e assim, «termos melhores empresas e sociedades». A CEO deixou um repto aos presentes: «O futuro que estamos a criar depende dos desafios que ousarmos enfrentar hoje. Desafio-vos a não serem uns meros espectadores».

O desafio da digitalização
O principal responsável por definir a estratégia de transformação digital em Portugal, Pedro Siza Vieira, ministro da economia e da transição digital, marcou presença no Building the Future e avançou que a apresentação da mesma está «para breve». O Ministro esclareceu que esse plano será «assente em três pilares: estado, pessoas e empresas». E é exactamente no último que está o maior risco: «Se as pessoas não estiverem mobilizadas não conseguiremos. Devemos trabalhar juntos para que ninguém fique para trás na transformação digital».

O membro do Governo alertou para a questão da «baixa literacia digital» e de como é necessário ultrapassar isso «se Portugal quiser aproveitar a transformação digital como motor de desenvolvimento inclusivo do País e aproveitar as novas tecnologias para progredir para uma sociedade mais próspera».

Pedro Siza Vieira afirmou que a «educação será chave para esse processo» e que há que «transformar a escola, assegurar a conectividade e levar a tecnologia para a sala de aula e métodos de trabalho». Por outro lado, há que dar novas competências à população activa para que se atinja «a meta de ter 8% da força de trabalho nas TIC em 2030». E o ministro explicou como: «Temos de trabalhar com as empresas no sentido de requalificar as pessoas».

Como serão os negócios do futuro
Business 5.0 foi o tema da apresentação de John Straw, senior advisor da McKinsey & Company que revelou que a inteligência artificial (IA) vai estar no centro das empresas do futuro. O consultor disse que estas «organizações serão geridas por IA de ponta-a-ponta e sem trabalhadores» e vão conjugar «internet das coisas, big data, API e smart contracts». Nas empresas 5.0, a «inteligência artificial vai tomar as decisões»; «os chatbots vão ser o user interface e impossíveis de distinguir em relação aos agentes humanos» e «a IA será criativa». Este último aspecto é algo que «não se pensava ser possível até há bem pouco tempo», mas do qual já há exemplos: uma IA que escreveu 850 artigos no The Washington Post e outra que fez um argumento de um filme. Por último, os negócios vão usar cada vez «mais camadas de dados», «robôs com IA para substituir os operadores humanos» e «sensores em tudo que vão mudar os modelos de negócios», dando o exemplo de bananas com sensores comestíveis que permitem evitar desperdícios e vão revolucionar a forma como se come e planta e comercializa essa fruta.

IA pode ser boa para Portugal
John Straw disse que os empregos do futuro vão estar na área de machine learning e isso poderá ser uma oportunidade para países como Portugal. De acordo com o responsável da McKinsey, EUA e China estão numa guerra para ver qual dos dois vai ser a primeira superpotência de IA. Na opinião do consultor poderá ser o país asiático a ganhar porque tem uma «fábrica de dados para machine learning» que emprega cerca de «trezentos mil colaboradores». O senior advisor salientou que «Portugal poderá transformar-se numa fábrica de dados para toda a Europa» de forma a que o velho continente «possa competir com os americanos e chineses» e uma oportunidade única para o País.

Toda esta utilização da IA coloca a problemática da ética, da qual falou o Padre Paolo Benanti da Pontificia Università Gregoriana de Roma. O docente considerou que são necessários «algor-ethics», ou seja, que a ética esteja integrada nos algoritmos para que seja compreendida pelas máquinas e que estes têm de ser construídos de raiz já que «a ética não é algo que possa ser introduzido mais tarde». O padre referiu ainda «os humanos vão ser sempre necessários na IA» já que são as pessoas que têm de «ensinar os valores, como a igualdade, às máquinas».

Como activar Portugal
No encerramento do segundo dia do evento, Paula Panarra, diretora-geral da Microsoft Portugal, agradeceu aos parceiros que fizeram com que o evento fosse possível e ajudaram a «activar Portugal». A responsável esclareceu que o objectivo foi «pensar o futuro e definir como é que as organizações podem ajudar a construir uma economia mais competitiva em Portugal». Paula Panarra resumiu as «quatros grandes ideias» que ficaram dos debates e keynotes: «A intensidade da utilização da tecnologia e se é ou não verdade que todas as empresas são tecnológicas; a importância da economia inclusiva, em que o crescimento económico só vai acontecer se todos forem incluídos; a segurança da tecnologia que se usa; e como é possível assegurar que o futuro é sustentável». A directora-geral terminou com o anúncio de que a Microsoft vai «ser carbono negativa» daqui a dez anos e que, até 2050, vai «eliminar a pegada de carbono que produziu desde que foi fundada».