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A era da multicloud

Já havia a cloud privada, a cloud híbrida e agora temos a multicloud, na qual as empresas lidam com vários fornecedores de nuvem. Os especialistas dizem que esta é uma abordagem mais madura à cloud. Quais os desafios e que complexidade existe em lidar com múltiplos providers?

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Riscos de integridade
Uma coisa parece certa: quer fornecedores, quer analistas garantem que cada vez mais organizações vão adoptar uma estratégia multicloud para acelerar os seus objectivos de transformação digital, apregoando haver claras vantagens empresariais em adoptar uma abordagem deste género. No entanto, também assumem que lidar com múltiplos fornecedores tem o potencial de criar silos cloud dispersos, cada qual exigindo uma perspectiva de segurança individual. Isto aumenta a complexidade da gestão de qualquer postura de cibersegurança corporativa para além de introduzir possíveis inconsistências na aplicação de controlos de segurança e causar uma falta de visibilidade, ou uma visibilidade deficiente, a uma plataforma dinâmica de ameaças híbridas.

A Fujitsu, por exemplo, defende, num documento, que estes desafios de segurança, a par do desenvolvimento de ataques avançados por parte de cibercriminosos, apresentam um risco cada vez maior para a integridade financeira e para a reputação de qualquer negócio. Diz a empresa que tal contribuirá para a ascensão do que denominam de multicloud segura – uma estrutura de segurança integrada capaz de garantir segurança de forma consistente num ambiente múltiplos serviços e fornecedores de nuvem. Esta estrutura, diz a Fujitsu, é apoiada por ferramentas de segurança, automatização e orquestração independentes da cloud e altamente integradas, de modo a fornecer uma visão holística da postura de cibersegurança corporativa, maior visibilidade de segurança e uma aplicação flexível de controlos de segurança relevantes.

Alexandre Janeiro, arquitecto de soluções multicloud da Fujitsu, diz que as razões pelas quais as empresas avançam para a multicloud prenderem-se com a capacidade, a utilização de diferentes funcionalidades ou serviços, a questão da localização geográfica, da jurisdição dos dados ou até mesmo da resiliência dos workloads e flexibilidade na escolha dos fornecedores. «Temos assistido a um interesse por parte das grandes empresas, de resto tipicamente os clientes com os quais a Fujitsu opera, numa estratégia balanceada da cloud privada com os múltiplos serviços de cloud pública. E estamos só a falar do IasS. Mas quando falamos de PaaS e, sobretudo, SaaS, a complexidade aumenta. A capacidade de escolha é enorme, o ecossistema está em constante evolução» e para nós tudo isto.

Tal como outros fornecedores já tinham comentado, também Alexandre Janeiro diz que a maioria dos clientes já têm, de uma forma ou outra, ambiente multicloud. «É um mercado que tem vindo a amadurecer, mas ainda existem alguns desafios na adopção e arquitectura de estratégias multicloud». Alguns desses desafios serão a escassez de conhecimentos e recursos especializados em determinados domínios tecnológicos, o desafio da segurança e a gestão das identidades, para aliem da inevitável questão da portabilidade dos ambientes.

A abrangência da multicloud
As estratégias multicloud estão a tornar-se cada vez mais comuns em organizações que operam em várias regiões geográficas. De acordo com uma nova pesquisa da Gartner, essas empresas acham que um fornecedor de infra-estrutura de nuvem pública não pode facilmente colmatar as suas necessidades e, portanto, optar por trabalhar com vários fornecedores é a melhor opção. Aliás, de acordo com uma pesquisa desta consultora entre os utilizadores de nuvem pública, 81% dos entrevistados está a trabalhar com dois ou mais fornecedores de cloud. De acordo com a Gartner, uma das principais razões pelas quais as empresas escolhem uma estratégia multicloud ao invés de escolher um fornecedor único é devido ao facto de os mega-vendedores estarem a dominar o mercado e, portanto, atender às necessidades específicas de um negócio requer a combinação dos serviços de vários fornecedores. A consultora estima que, hoje, os 10 maiores provedores de nuvem pública comandem metade do mercado total, situação que se manterá pelo menos até 2023.

Quando se trata de entender a razão pela qual as empresas optam por adoptar uma estratégia multicloud, de acordo com a Gartner resume-se predominantemente a terceirização, arquitectura e governança.

Apesar de todos os desafios potenciais, de acordo com a Gartner, os benefícios das estratégias com várias nuvens são significativos, incluindo melhor recuperação de desastres e migração mais fácil para alguns dados e aplicações.