A japonesa Fujitsu anunciou uma nova estrutura global para ajudar a organização a lidar com as oportunidades que rodeiam a transformação digital. O impacto será mais forte na Europa.
A presença de Tatsuya Tanaka, presidente da Fujitsu, na conferência de imprensa já fazia adivinhar que não seria apenas para falar da ‘Co-criação para o Sucesso’, o tema eleito pela empresa japonesa para o seu fórum europeu anual, realizado em Munique. Ou para falar de novos produtos e serviços que iria lançar para o mercado. Já acompanhamos a empresa há uns anos e o discurso do presidente é normalmente (apenas) proferido na keynote, perante a extensa audiência de parceiros e clientes. Tatsuya Tanaka clarificou os jornalistas sobre aquilo que o presidente apelidou de «uma drástica reforma estrutural para melhorar as margens de lucro» da empresa.
Ou seja, basicamente, a Fujitsu anunciou uma nova estrutura global para ajudar a organização a lidar com as oportunidades que rodeiam a transformação digital. «Temos de colocar em prática medidas para fortalecer o negócio», disse Tatsuya Tanaka. O plano para aumentar o lucro com serviços conectados, juntamente com o fazer crescer a Fujitsu como uma empresa orientada a serviços, fracassou em relação às margens operacionais e ao volume de vendas fora do Japão, explicou o presidente. «O mercado está a mudar drasticamente e isso apresenta uma série de oportunidades», acrescentou Tanaka
Entre as mudanças operacionais está a globalização do desenvolvimento de produtos, que começou com o centro de excelência de inteligência artificial localizado em Vancouver, no Canadá.
Foco nas parcerias
«A Fujitsu também vai romper com a síndrome do ‘não inventado aqui’», disse o presidente. «Antes, a nossa prioridade era desenvolver todos os nossos produtos. Ainda faremos isso até certo ponto, mas acreditamos que é mais importante combinar os produtos que desenvolvemos com outros fortes de parceiros em todo o mundo. Isso permitir-nos-á agregar valor».
Uma terceira prioridade é a oferta de serviços que possam ser rapidamente desenvolvidos para responder às exigências dos mercados. «Estrategicamente, localizaremos centros de serviços e pesquisa e desenvolvimento (R&D) em diferentes regiões», explicou Tanaka. «O objectivo, aqui, é fornecer rapidamente serviços que atendam às diversas necessidades dos mercados em todo o mundo».
Foco nas pessoas
Desenvolver talentos globais é o quarto imperativo, mencionou. «Reconhecer o valor do capital humano é fundamental e vamos intensificar os nossos esforços para dotar os funcionários com as capacidades certas para que possam realizar o seu trabalho de forma eficaz». Embora os funcionários existentes sejam reimplantados no negócio de integração de serviços, a Fujitsu também fará parcerias com empresas de serviços externos para atingir as suas metas.
«O Enterprise Agile será implementado em todas as operações de serviços e a formação será implementada em todo o mundo, começando com dez mil funcionários na região EMEA», explicou Tanaka. «Também estamos a promover o uso de tecnologias digitais para automatizar e elevar a sofisticação das operações».
Objectivo: mais 7,8 milhões de euros
A empresa espera que estas mudanças operacionais resultem numa diferença de dez milhões de ienes, cerca de 7,8 milhões de euros, no próximo exercício financeiro. As mudanças serão lançadas no Japão, e internacionalmente, com um foco maior em centros de entrega global, centros de excelência e parcerias globais. «Aumentaremos a competitividade dos nossos produtos, principalmente na cloud», revelou Tanaka. A Fujitsu estabeleceu uma parceria com a Microsoft e a VMware, treinando milhares de membros da sua equipa e parceiros como engenheiros certificados.
«Estamo-nos a concentrar no campo de TI híbrida e, ao mesmo tempo, a trabalhar na expansão da nossa gama de aplicações que são executadas na nuvem, incluindo AI e IoT. Também vamos fortalecer a estrutura de governo para garantir uma prestação de serviços globalmente uniforme. Isso permite-nos concentrar os nossos recursos de gestão nas áreas em que somos especialistas, ao mesmo tempo em que expandimos nossos negócios globais».
Menos produto, mais serviço
Parte da reorganização global verá o foco afastar-se do negócio de produto, uma acção materializada no fecho da fábrica de Augsburgo, na Alemanha, algo que, de resto, já tinha sido anunciado no final do mês de Outubro. Esta acção de fechar a fábrica de computadores pessoais e laptops, aquele que era o seu último centro de produção de hardware na Europa, vai ter impacto em 1800 empregos.
A empresa japonesa diz que vai tentar transferir parte do pessoal da fábrica da cidade bávara para o seu crescente braço de serviços, mas não descartou demissões. As conversas serão realizadas com os sindicatos num esforço para concordar com os termos de rescisão. O fecho está previsto para 2020, afectando directamente 1500 postos de trabalho, além de outros 300 na Alemanha. As operações de produção de computadores pessoais serão, agora, concentradas no Japão.
No Fujitsu Forum Munique a empresa destacou como a sua abordagem de co-criação está a impulsionar o sucesso dos clientes ao inspirar a inovação.
Equipa de gestão reduzida
A Fujitsu também irá reduzir a sua equipa de gestão em países onde não há uma forte base de clientes, resultando numa revisão de aproximadamente metade dos seus escritórios globais. Em Portugal, a Fujitsu acredita que a estrutura não será afectada já que a empresa está em Portugal há 40 anos e «tem uma base fortíssima de clientes».
A empresa reduzirá ainda os custos indirectos para obter uma melhor competitividade.
Basicamente, a Fujitsu espera que a nova estrutura implementada para promover as iniciativas, a Global Matrix 5.0, ajude a agregar valor aos clientes em todo o mundo.
A corporação japonesa anunciou que vai acelerar as mudanças dos administradores, com directores executivos a renunciarem imediatamente. Tanaka sublinhou que isso ajudará a criar mais agilidade nas estruturas de gestão de topo.
No curto prazo, os grupos de negócios serão consolidados para se concentrarem em soluções de tecnologia, com alguns executivos da Fujitsu a concorrerem simultaneamente como presidentes subsidiários para fortalecer o governo da empresa.
Cerca de cinco mil funcionários no Japão serão realocados, enquanto a estrutura de produção da empresa será revista e a sua formação alterada de acordo com os negócios.
O resultado líquido da reorganização visa uma margem de lucro operacional de 10% para soluções tecnológicas até 2022. «Na nova era da transformação digital, quero que a Fujitsu continue a ser um parceiro de negócios confiável, contribuindo para a criação de uma sociedade próspera», disse Tanaka.
Nuvem híbrida é a aposta
A Fujitsu tem sido muito clara ao criar uma empresa voltada para serviços que prioriza serviços de nuvem híbrida para dar suporte aos seus clientes enquanto estes negoceiam as suas jornadas de transformação digital.
«Não há dúvida de que os líderes de negócios de toda a Europa têm a transformação digital nas suas mentes», disse Duncan Tait, o primeiro não-japonês a integrar a administração da Fujitsu e que agora renuncia ao cargo, ficando apenas como “chefe” da região EMEA.
O PIB está a mover-se rapidamente dos players já estabelecidos para os novos “jogadores”, com a nuvem a impulsionar as expectativas dos clientes e a permitir operarem à velocidade que o consumidor exige. «Um maior número de clientes aproveitará a nuvem pública, e é por isso que estamos comprometidos em liderar a nuvem híbrida e serviços que permitam que os nossos clientes precisamente façam essa transição para nuvem pública», diz Tait. Tal como o presidente, Tanaka, Tait falou da relação «de longa data» com a VMware e a construção de nuvens privadas com esta empresa. «Também estamos a construir o nosso relacionamento com a AWS», acrescentou.
A Azure é outro assunto que a empresa está a levar muito a sério: «A Fujitsu é vista como um dos principais integradores de nuvem. Somos um dos apenas sete integradores globais de nuvem da Microsoft».
Resumo
O Fujitsu Forum deste ano teve imensas novidades, mas que em termos jornalísticos acabaram por ser “ofuscadas” – em espaço e disponibilidade – pela notícia da reestruturação da empresa. Uma opção que, tendo impacto em todo o mundo, tem a Europa como epicentro, deixando um sentimento de que o velho contente – considerado desde sempre como fundamental para a globalização da empresa – não esteve à altura das expectativas dos japoneses.
Entre os jornalistas e alguns analistas que não quiseram ser citados comentava-se que provavelmente esta era uma opção que a empresa já devia ter tomado há um par de anos. E que a reestruturação, apesar de claramente ir ter impacto, não é um passo atrás, mas antes a tomada de impulso para um (mais seguro) passo em frente.