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O mundo inteiro em Lisboa

‘O mundo inteiro cabe em Lisboa’ é o mote do festival de cinema Doclisboa mas mais valia ser do Web Summit; ou, como disse Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, nestes dias a cidade «torna-se a capital do mundo». É que com participantes e empresas de 159 países, este é, sem margem para dúvidas, o evento mais internacional que acontece no País, além de um dos mais conceituados na Europa. Fomos perceber como é que o «maior encontro de empreendedores do mundo», como gosta de lhe chamar o fundador Paddy Cosgrave, tem ajudado os projectos tecnológicos nacionais e internacionais.

Na terceira vez que se realizou em Portugal, o Web Summit contou com cerca de setenta mil participantes e foi visível que o espaço começa a ser realmente diminuto para tantas pessoas e empresas. Este ano, tal como no ano passado, a conferência teve uma abertura auspiciosa com a presença de nomes sonantes como o “pai da Internet” Tim Berners-Lee; Lisa Jackson, VP para o ambiente e causas sociais da Apple; o realizador Darren Aronofsky e António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas.

O britânico que inventou a world wide web (WWW) fez provavelmente uma das intervenções mais interessantes e uma das que mais foi referida por outros speakers no evento.

Um contrato para a web

Tim Berners-Lee começou por falar da sua invenção e de como a Internet deve ser usada de «forma imparcial, para qualquer tipo de informação, em qualquer língua e por qualquer cultura». O físico referiu que a Internet cresceu rapidamente e que gerou «optimismo» e em seguida enumerou alguns dos problemas que considera que estão a acontecer e devem ser resolvidos: notícias falsa, questões de privacidade, abuso na utilização dos dados pessoais, o profiling dos utilizadores, entre outros.

«Estou a falar-vos disto agora porque estamos quase a chegar a 50% da população online», revelou Tim Berners-Lee. «Precisamos de assegurar que as pessoas que estão ligadas à Web têm a Internet que querem e por isso temos de corrigir as questões que existem actualmente e ajudar as outras a ficarem online». Além disso, o speaker lembrou que tem de haver «um contrato para a Web»: foi assim que Tim Berners-Lee anunciou a iniciativa #ForTheWeb. Este contrato com nove pontos pretende proteger e melhorar a Internet e deve ser adoptado por utilizadores, empresas e governos já que «todos são responsáveis por fazer uma Web melhor». O britânico pediu a ajuda de todas as pessoas que estavam presentes para «responsabilizar as empresas e os governos» e para tornar a Interner segura, diversificada, aberta e acessível. E para Tim Berners-Lee, «não é só uma questão de reforçar leis, é uma questão de mudar mentalidades». O físico exemplificou como o RGPD, apesar de ser uma lei europeia, pôs o mundo inteiro a falar de privacidade. E pediu responsabilização aos programadores: «Façam tecnologia que trabalhe para os utilizadores», concluiu.

Outros momentos marcantes

António Mexia, CEO da EDP, subiu ao palco Planet:tech para falar da revolução que a empresa tem feito nos últimos anos. O responsável contou como, há vinte anos, a empresa decidiu investir vinte mil milhões de euros na descarbonização e nas energias renováveis e como isso permitiu que hoje a EDP seja «uma das mais importantes empresas do mundo», com operações em catorze países.

«Uma indústria que quase nada mudou nos últimos cem anos, será irreconhecível daqui a uma década» referiu o CEO. Mas António Mexia considera que esta mudança tem de ocorrer também no seio da empresa, que «é uma mudança cultural» e que «a inovação deve ser aberta». Mas líder da EDP lembrou que que o caminho não pode ser feito sozinho: «Temos de acolher as startups: vamos todos juntos no autocarro ou ficamos debaixo dele».

Já o presidente da Samsung, Young Sohn, foi ao Centre Stage falar de inteligência artificial e de como esta tecnologia vai impulsionar a economia nos próximos anos. O executivo referiu que as maiores empresas agora são tecnológicas e não as petrolíferas, como acontecia há dez anos. «Se os dados são o novo petróleo, a inteligência artificial o motor», avançou. Young Sohn disse ainda que a sociedade «está num ponto de viragem» e que no «meio da tempestade perfeita há muitos mais dados e processamento escalável e barato».

Assim, o responsável da Samsung considera que deve ser dada relevância às questões éticas, que as empresas e os governos não se podem desresponsabilizar disso e esclareceu que «a viagem vai ser muito drástica, muito dura e não haverá respostas óbvias».