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O mundo inteiro em Lisboa

Ritmo elevado

A tecnologia avança a ritmo cada vez mais rápido e as organizações devem estar preparadas para grandes mudanças nos próximos anos. Yves Bernaert, senior managing director da Accenture, subiu ao palco DeepTech para falar disso mesmo. O responsável referiu que os novos sistemas «não devem ter sem fronteiras, incluir o legacy na cloud e ser adaptáveis». Além disso, «os sistemas do futuro devem ser centrados nas pessoas» já que são elas que os vão usar. Em relação ao talento, o executivo foi perentório em afirmar que «é de vital importância» e de que em 2020, «um terço das skills que vão ser necessárias ainda não são consideradas cruciais hoje» e que por isso quem «souber evoluir vai ter vantagens competitivas».
Assim, é preciso investir na «requalificação, novos canais de atracção de talento» e perceber que «tarefas podem ser desempenhas por máquinas e por pessoas». Mas acima de tudo, para que as empresas consigam ser bem-sucedidas é importante, «inovar, escalar e manter esse ciclo» para «não se ficar para trás».

De referir que neste palco estava implementado o Otter.ai, da AISense, uma solução que usa inteligência artificial para fazer transcrição de voz para texto em tempo real e que demonstrou ser muito precisa e rápida.

A importância da concorrência

Uma das intervenções mais aguardadas era a comissária europeia para a concorrência, Margrethe Vestager, que começou a sua keynote sublinhando a importância da conferência: «Este é o local onde se molda o futuro». A segurança foi um dos temas abordados pela comissária que referiu que a tecnologia «tem imenso poder para fazer o bem» mas que «com grandes poderes, vêm grandes riscos». Assim, «não é um ataque à tecnologia estarmos a tentar perceber se esses riscos são reais».

E ficaram recados para as grandes tecnológicas: «Os dados dão-nos um novo entendimento do mundo. Mas quando há uma só empresa que tem acesso a uma grande quantidade de informação torna-se difícil ter competição», uma mensagem claramente para a Google. E acrescentou que «sem competição, os consumidores não são bem servidos».

A comissária reforçou ainda a ideia de que «é preciso de agir em conjunto» e de que uma «tecnologia segura, cria a confiança que vai permitir uma sociedade digital à escala humana em que a tecnologia serve a sociedade e não a si própria».

Margrethe Vestager no Centre Stage. Fotografia: David Fitzgerald/Web Summit

Atenas é a Capital Europeia da Inovação

Este ano a grande vencedora dos iCapital Awards, o prémio atribuído pela Comissão Europeia no âmbito do Horizonte 2020 que destaca a cidade europeia mais inovadora, foi Atenas. A cidade grega derrotou Aarhus (Dinamarca), Hamburgo (Alemanha, Leuven (Bélgica), Toulouse (França) e Umeå (Suécia) e levou para casa um milhão de euros. O projecto responsável por Atenas ter vencido apoia refugiados e cidadãos em dificuldades, ajudando-os a conseguir habitação, desenvolver skills e encontrar emprego.

O prémio foi entregue por Carlos Moedas, comissário europeu da Inovação, ao presidente da Câmara Giorgos Kaminis que indicou que a cidade «mostrou que a inovação também pode ser acessível».

O Web Summit vale a pena?

Em 2018, o Web Summit teve cerca de setenta mil participantes e fomos ouvir a sua opinião sobre o mesmo. Falámos com 21 attendees de cinco nacionalidades: Portugal, Noruega, Canadá, França e Brasil. Na verdade, destes, apenas um pagou o seu próprio bilhete na totalidade, o do Brasil. Deste pequeno grupo de entrevistados, oito eram mulheres e tiveram acesso ao bilhete pelo programa Women in Tech que disponibilizava dois bilhetes por 85 euros, ou seja, 42,50 euros cada. Não admira, assim, que este ano, o evento tenha conseguido ter uma participação de 44% de mulheres. Já os restantes tinham recebido o bilhete através das empresas para as quais trabalham, mas não souberem dizer se foram pagos ou oferecidos pela organização.

Há claramente dois grupos de attendees: os que vêm pela primeira vez e que se mostram deslumbrados com o Web Summit mas também com a cidade (no caso dos estrageiros), e os repetentes que são um pouco mais críticos e referem que é «muito cheio e confuso». Mas é unânime que não há tempo para tudo. Entre quatro pavilhões com centenas de startups cada, a maioria das quais com presença de apenas um dia, e as 25 conferências diferentes disponíveis, é impossível conhecer tudo. Assim, «há que escolher interesses e ir por aí», revelou um dos participantes portugueses, «optar por apenas um palco» referiu uma attendee francesa ou «passar o dia a ver startups» referiu o norueguês com quem falámos.

No entanto, os 21 participantes concordaram num ponto: o Web Summit é «inspirador», vale a pena e é óptimo para «conhecer novas ideias», «fazer networking» e «aprender». Isto é o que também se nota nos jovens que têm bilhete INSPIRE e que este ano foram doze mil.
Todas as manhãs os jornalistas, convidados e speakers passaram ao lado da fila dos jovens entre 16 e 23 anos que tiveram acesso a este tipo de bilhete. Não era difícil perceber a emoção que estava no ar por estarem no Web Summit. E certamente que aquilo que ouviram no palco foi inspirador para que estes sejam os empreendedores portugueses do futuro.