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IDC Directions: 30% da economia portuguesa estará digitalizada em 2021

O maior evento anual da IDC em Portugal falou de como a transformação digital (DX) está a mudar a economia e sobre o uso da inteligência artificial (IA) nas empresas portuguesas.

‘Becoming Digital-Native: Multiplying Innovation in the DX Economy’ foi o tema da edição deste ano do IDC Directions, que se realizou mais uma vez no Centro de Congressos do Estoril.

Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC, revelou que há «claramente um gap entre a digitalização da economia portuguesa e a mundial». A verdade é que a consultora prevê que apenas 30% da economia portuguesa vai estar digitalizada em 2021 em comparação com 50%, a nível mundial.

A digitalização da economia «significa que os processos desde a extração da matéria prima até à compra de produtos e serviços é feito através de meios digitais. Vamos todos usar mais canais digitais e estar mais conectados», referiu o responsável à businessIT.

Assim, no País, «grande parte do valor criado pelos sectores financeiro, telecomunicações e media já é digital» mas há áreas mais ligadas «ao mundo físico, como a indústria e o retalho que ainda incluem muitas transações manuais nos processos, é aqui que vemos o grande gap», explicou o executivo. É por isso que «o grande salto», em termos de transformação digital, terá de ser feito nos «sectores produtivos» para que a «economia portuguesa se consiga digitalizar ao mesmo ritmo da economia global».

IoT vai ser o maior acelerador 

Gabriel Coimbra indicou que as empresas têm de ter «a capacidade de repensar os processos, a experiência do ecossistema e o desenvolvimento de novos produtos e serviços com base nas tecnologias de 3ª Plataforma (cloud, mobile, social media e Big Data) e nos aceleradores de inovação».

O country manager da IDC alertou que nos últimos dez anos desenvolveram-se as tecnologias de «cloud, mobile, redes sociais e houve um crescimento exponencial da informação» e que a partir daí é que existiram as maiores inovações.

«A mobilidade desenvolveu-se de forma rápida em Portugal, mas já a cloud está menos madura, assim têm de existir mais esforços nessa área». Em relação à disrupção, a IoT é apontada pelo executivo como a principal fonte para o desenvolvimento do País: «É uma das áreas críticas para o desenvolvimento da economia portuguesa» e a que «poderá ter maior impacto a curto prazo».

Em relação à maturidade da IoT a nível nacional, o responsável da IDC realçou que «a oferta não depende do nosso mercado já que é uma oferta global» e que a tecnologia «não está ainda madura», no geral, mas que «estamos num processo de crescimento» e que é «preciso haver maturidade de quem compra» essas soluções e «integradores no mercado que consigam endereçar essas soluções já que envolvem mais do que um player e funcionam em ecossistema».

Impacto da DX na economia 

No que se refere à inteligência artificial, Gabriel Coimbra destacou que não é um domínio novo mas que hoje a grande capacidade de processamento e a quantidade de dados estão a transformar a tecnologia em algo muito disruptivo: «aquilo que nós pensávamos que não podia ser automatizado, hoje está a ser possível graças à inteligência artificial».

A IA «acrescenta um factor multiplicador ao mercado» que é capaz de «automatizar grande parte dos processos das organizações» e não só, «também as nossas vidas», acrescentou.

A grande mensagem da apresentação do group vice president da IDC foi que «estamos a entrar no segundo capítulo da 3ª Plataforma».
Isto implica que o «impacto já não é tanto na indústria de IT, como aconteceu nos últimos anos, mas sim a nível económico e transversal» e, por isso, «em todos os sectores». Neste novo movimento, além da IA, o executivo referiu a importância do «crowdsourcing», que ajuda pequenas empresas e startups a conseguirem dinheiro para desenvolverem as suas ideias e a trabalharem em ecossistema, e «o conceito de economia de plataforma», em que tudo «está conectado é feito através de uma «plataforma online», para o sucesso da economia.

De acordo com a IDC, a indústria e o retalho são os sectores que estão mais atrasados na transformação digital em Portugal.

A maturidade da IA em Portugal 

Paula Panarra, diretora geral da Microsoft Portugal, apresentou os resultados de um estudo sobre inteligência artificial realizado pela EY, a pedido da tecnológica, em Portugal. As conclusões da pesquisa, que envolveu 22 empresas portuguesas, revelaram que «18% ainda não iniciou qualquer projecto utilizando IA; que 50% estão ainda em fase de plano e piloto e que, apenas, um terço das empresas já tem algum tipo de processo de IA em produção».

Quanto às áreas que mais utilizam a inovação, a directora geral acrescentou que são as que estão «focadas nos produtos, optimização de operações e aquilo que é a relação com o cliente».

A IA está a ser integrada «na próxima geração dos processos de negócios e nos modelos de negócio em todos os sectores» e assim «as empresas que não estão já a aplicar esta tecnologia aos seus negócios estão fora do jogo», indicou. A executiva revelou algumas empresas portuguesas que são exemplos a seguir no que se refere à implementação de projectos de IA: CTT, EDP e Crédito Agrícola.

A responsável da Microsoft falou também do papel que a sua empresa tem: «o nosso compromisso é o de continuar a permitir a democratização desta tecnologia». E a companhia tem uma visão muito clara: «Acreditamos que a inteligência artificial vem, na verdade, aumentar aquilo que são as capacidades do homem», trazer «mais valor às empresas» e torná-las «mais competitivas», levando ao «crescimento económico» do país. Mas «também criar um mundo melhor», finalizou.

LEGO ajuda a inovar 

Bruno Horta Soares, leading executive advisor da IDC Portugal, foi o moderador de um painel fora do vulgar que contou com Pedro Quintas (Collab), Miguel Fontes (Startup Portugal), Pedro Faustino (Axians) e Daniela Monteiro (Porto Digital).

Os participantes usaram o sistema LEGO Serious Play para demonstrar quais são os factores-chave para que as empresas se tornem digital native. O consultor lançou diversos desafios e através de construções com peças LEGO, os quatro executivos resolveram os problemas propostos e transmitiram as suas ideias: diversidade, visão 360, testar, velocidade e transparência foram algumas dos aspectos referidos.

A mensagem deixada por Bruno Horta Soares foi que: «Não deixamos de brincar quando ficamos velhos, nós ficamos velhos quando deixamos de brincar. É também o que acontece nas organizações, elas ficam mais sérias e mais velhas quando deixam de inovar».