Pela primeira vez, a divisão cloud da Google fez um mega-evento na Europa, em Londres. Juntou os seus melhores casos de estudo com grandes empresas, como a Airbus ou o Carrefour, e lançou uma autêntica operação de charme. De Portugal, viajaram sessenta pessoas para assistir ao Google Cloud Next 2018.
“Todos” conhecemos a Google. “Todos”, pessoalmente, temos ou tivemos uma conta de Gmail, estamos habituados à interface, reconhecemos o logo, além de ser uma marca com uma notável credibilidade e “awareness” no mercado onde actua. Ainda não se falava em cloud e já a Google andava nas nuvens com o tema.
Mas a verdade é que se pensarmos em grandes empresas e na sua viagem de adopção da cloud, a Google não é propriamente o primeiro nome que nos surge. Pois isso pode estar prestes a mudar. Pelo menos, é o que a marca quer. Para isso, resolveu trazer o seu tradicional evento da divisão de cloud que acontece em São Francisco, nos EUA, até Londres, evento esse que teve uma enrome adesão, muito pela curiosidade que a marca suscita. Oito mil pessoas e 125 sessões – muitas delas com sinais à porta a “dizer” «lotação esgotada» – foram os números apresentados na keynote de abertura por Sebastien Marotte, vice-presidente da Google Cloud para a EMEA – Europa, Médio Oriente e África.
Alerta de spoilers: não conseguimos saber quanto vale a Europa no negócio cloud da Google: nem em percentagem e, muito menos, em valor, e também não conseguimos descobrir quanto vale o negócio das grandes empresas no negócio europeu. Ainda tentámos, num encontro mais intimista com o vice-presidente para a EMEA, com cerca de dez jornalistas, mas prontamente nos foi dito que não são divulgados números, sob o olhar atento da assessora que se certificava de que não existia qualquer deslize. A única coisa que conseguimos arrancar a este responsável foi que a Europa «é a zona geográfica que mais está a crescer nesta área [da EMEA], fruto dos investimentos feitos nos últimos anos».
Investimento massivo
Ou seja, o que Sebastien Marotte nos queria dizer é que a Google só está a ter o que plantou. Investiu, teve retorno. Fomos “confirmar”. Em Janeiro deste ano, a empresa anunciava que acrescentaria cinco regiões e construiria três novos cabos submarinos, à medida que expande sua infra-estrutura para clientes na nuvem.
A empresa, que investiu trinta mil milhões de dólares em infra-estrutura nos últimos três anos, apostou em regiões como Holanda e Montreal, no primeiro trimestre de 2018, seguidas por Los Angeles, Finlândia e Hong Kong.
Os cabos submarinos são o Curie (privado, que liga o Chile a Los Angeles), o Havfrue (de consórcio, que liga os EUA à Dinamarca e à Irlanda) e o sistema Hong Kong-Guam Cable (também de consórcio, que interliga grandes centros de comunicação submarinos na Ásia). Convém só referir que os cabos submarinos formam a espinha dorsal da Internet, transportando mais de 90% do tráfego de dados do mundo.
No evento, a empresa anunciou que a BigQuery – plataforma de analítica de grande escala – está agora disponível precisamente na “nova” região de Londres, estando previsto avançar para outros centros de dados da empresa no mercado europeu.
A Google e a IA
Voltemos a Londres e à ‘keynote’ de abertura. A Google disse que os seus recursos de inteligência artificial (IA) e a sua experiência em segurança cibernética diferenciam os seus serviços em cloud da restante concorrência. E cita um estudo de Setembro da Deloitte que diz que por cada euro que as empresas têm investido nesta plataforma de computação na nuvem o retorno tem sido dez vezes maior – a Google Cloud é considerada um dos três principais players em armazenamento em nuvem pública, de acordo com o Magic Quadrant do Gartner 2018, juntamente com a Amazon Web Services e a Microsoft.
Na sua apresentação, Diane Greene, CEO da Google Cloud, salientou que a Inteligência Artificial é «a maior oportunidade de todos» e a segurança cibernética «a maior ameaça». «A Google tem o melhor de ambos», garantiu a CEO, acrescentando que a AI tem sido uma prioridade na companhia desde que foi fundada. «A IA está incutida em tudo o que fazemos. É totalmente incorporada no G Suite, nas nossas aplicações, o que nos dá uma percepção extra de como ajudar os clientes a incorporá-la nas suas próprias ferramentas”.
Relativamente à segurança, Greene disse que este tema está na mira da marca há mais de uma década, com biliões e biliões de utilizadores aos quais prestam um serviço, o que tornou a nuvem da Google segura: «A escala que temos permite-nos oferecer uma experiência inigualável. Na verdade, temos um grupo inteiro que não faz nada além de procurar debilidades e que, depois, nos permite ver o que está a acontecer lá fora. Para dar uma ideia da escala: por minuto, filtramos dez milhões de ataques de spam e phishing; por minuto, derrubamos sete mil URL inseguros. A nossa segurança está embutida em todas as camadas do sistema; a nossa suposição é que qualquer coisa na rede é um risco».
Segundo um estudo da Deloitte, publicado em Setembro e citado no evento, por cada euro que as empresas têm investido na plataforma de computação na nuvem da gigante norte-americana, o retorno tem sido dez vezes maior.
Cloud é uma necessidade
Greene disse ainda que a cloud parece estar no centro de todas as empresas e governos com os quais a Google está a trabalhar e apelidou a computação em nuvem de «revolução» e de uma «necessidade» para qualquer jornada de transformação digital.
«Estamos no início da nuvem já que apenas 10% das cargas de trabalho foram transferidas para a cloud, mas é realmente claro que é esse o principal veículo para a transformação digital. É aí que grande parte das nossas empresas se vai transformar digitalmente». A executiva acredita que a cloud está a tornar-se apenas em «uma forma maneira melhor» de executar as TI.
Seis dezenas de Portugal
Foram sessenta, os clientes, potenciais clientes e parceiros que viajaram de Portugal para Londres. Jorge Reto, responsável pelo negócio luso desta divisão da Google que desde Janeiro marca presença em Portugal, disse à businessIT, sem especificar marcas, que estão presentes empresas da área dos media, retalho, administração pública e utilities. A maioria são potenciais clientes, «sobretudo empresas que estão interessadas em perceber o que a Google faz nesta área de analítica e IA».