Entrevista

«Maioria do nosso volume de negócios já vem da tecnologia em cloud»

Paula Panarra Microsoft Portugal

Tecnologia como um serviço. É essa a grande arma que a Microsoft tem vindo a empunhar nos últimos anos. Hoje, Paula Panarra, directora-geral da Microsoft Portugal, garante que a maioria do negócio já é feito na cloud, quer na área da produtividade, com o Office 365, quer através da plataforma Azure, de public cloud.

Actualmente, como é que podemos definir a Microsoft? 

É uma empresa que tem como missão capacitar todas as pessoas e organizações para alcançarem o seu maior potencial através da utilização da tecnologia.

O core da Microsoft tem vindo a mudar na última década? 

O core sempre foi a tecnologia e a engenharia. Sobretudo, a democratização da tecnologia, é esse o nosso ADN e o que se tem mantido desde o início. Agora, o conceito de ‘democratização’ é que mudou. Quando se começou a democratizar, falávamos de um PC em cada secretária e em cada casa. Hoje, ‘democratizar’ é levar a tecnologia a todas as pessoas e organizações.

O que mudou no mundo da tecnologia que torna essa democratização possível? 

Claramente a tecnologia como um serviço. A mudança estratégica que a Microsoft fez de deixar de vender tecnologia como um bem e passar a vendê-la como um serviço é o exemplo máximo da democratização. Fizemos grandes investimentos em grandes datacenters espalhados em pontos críticos no globo – de resto uma tendência dos players neste mercado. A partir deles, passámos a servir o cliente, seja ele um consumidor, uma pequena ou uma grande empresa. As organizações passaram a ter um serviço em que a tecnologia pode ser de ponta, mas o investimento não, porque paga por utilizador, ou por utilização, por mês. Ou seja, utiliza como um serviço.

A maioria do negócio da Microsoft Portugal vem de que área? 

Temos uma boa presença no mercado português e temos conseguido, ao longo dos anos, ter equipas muito bem-sucedidas, que é algo que nos orgulha porque inclusivamente exportamos talento. Hoje, a maioria do nosso volume de negócios já vem da tecnologia em cloud, nomeadamente no que nos é core. O mundo da produtividade, com o Office 365 e o mundo da plataforma Azur, de public cloud.

No vosso entender, o que é a transformação digital? É uma transformação tecnológica ou, sendo baseada em tecnologia, é uma transformação de processos e cultura? 

Não é puramente tecnológica. Mas é verdade que essa transformação vai ter como principal enabler a tecnologia. É ela que vai permitir dar esse passo. Mas só é possível se for uma decisão estratégica de gestão. A tecnologia, por si só, não é nada. Nem tão pouco a transformação digital é um projecto que se coloque num slide. É um caminho, é uma estratégia.

O que é, então, a transformação digital de um negócio ou de uma organização, nesta era digital? 
Há quatro grandes pilares que compõem o potencial de transformação de uma organização. Por um lado, tudo o que é modernização da forma de trabalhar dentro da organização. Ou seja, a forma como as pessoas colaboram, comunicam, co-editam, constroem em qualquer lugar, a qualquer hora, independentemente do fuso horário.

Por outro lado, temos a optimização das operações, que pode ser desde a optimização pela digitalização, pela automação, pela redução do papel ou mesmo pela organização de processos e tomadas de decisão em tempo real. Tudo isso optimiza os processos existentes.

Um terceiro pilar é a cadeia de valor e a relação com o cliente e/ou fornecedor. E, por fim, a forma como utilizo esta nova era digital para criar novos serviços em cima do meu core business ou mesmo criar novos negócios que assentam nesta nova economia digital.

O que é fundamental em tudo isto? 
Por um lado, tem de haver agilidade tecnológica que dê suporte a estas transformações e que passa precisamente pela tecnologia como um serviço, ou seja, pela cloud. Segundo, temos de assegurar o ponto de vista da segurança e privacidade porque estamos a falar de pontos de exposição cibernéticos e cada vez mais volume de dados para ser tratado e para tirarmos potencial dele.

Esta é uma camada muito importante que tem de acompanhar os processos. Por fim, e definitivamente não em último lugar, tem de ser uma decisão estratégica. É um caminho que tem de ser liderado ao nível do CEO para poder acontecer porque vem acompanhado de uma mudança de cultura, de organização, de processos e mesmo de modelo de negócio.

Paula Panarra Microsoft Portugal

Os CIO já estão sentados à mesa da administração?

Sim, creio que já não há qualquer empresa que não tenha a percepção clara de que o responsável pelos sistemas de informação e da estratégia da tecnologia tem de ter o mesmo nível que qualquer membro do board. É, cada vez mais, um tema de negócio e não um tema de tecnologia.

Vamos agora para o mundo “real”, o mundo das PME, onde não há CEO nem CIO. As pequenas e médias empresas têm um peso grande no vosso negócio, ainda que indirectamente…

Sim, temos um ecossistema de 3600 parceiros em Portugal que faz esse negócio. Ou seja, são as pequenas empresas de tecnologia, que também se tiveram de adaptar o seu negócio e adequar a sua oferta, que são as grandes parceiras das PME portuguesas. Temos parceiros que desenvolvem soluções à medida para as PME, mas usando todo este potencial da tecnologia como um serviço. Por exemplo: parceiros especializados em verticais de restauração, hotelaria, agricultura, etc.

Já caiu por terra aquela ideia de que tudo isto era só para os grandes?

Sim. Recentemente tivemos o privilégio de estar no Esporão que, sendo uma grande marca, é uma pequena empresa que se tornou um excelente exemplo da utilização de todas estas novas tecnologias ao serviço da optimização da fase de produção, da logística e da organização, operando quase já só num modelo de cloud.

É a tal democratização?

Exacto. A democratização da tecnologia que acreditamos ser cada vez mais possível e com muito pouco capital de entrada porque não são sistemas complexos que necessitem de muitas horas de desenvolvimento como acontecia no passado. São sistemas user friendly e fáceis de customizar quase até ao nível do utilizador final.

Na altura de assinar o contrato, porque é que o cliente escolhe a Microsoft?

Penso que temos vários factores que nos diferenciam. Por um lado, o facto de sermos uma solução híbrida, ou seja, as nossas tecnologias foram evoluindo daquilo que era a existência de dentro de casa dos clientes e agora pode ser usada em conjunto com a existência na cloud. Por outro lado, a nossa rede de parceiros. Ter 3600 parceiros competentes, certificados e prontos a abraçarem o mercado em Portugal é a nossa força capilar.

Recentemente foi anunciada uma série de investimentos em Portugal por parte de grandes empresas do sector, como a Amazon ou a Google. Temos “recursos” para alimentar tudo isto?

Ficamos muito contentes com esta tendência, é muito benéfica para a economia portuguesa. Aliás, a Microsoft já investe no País há muito tempo e continua a defender que Portugal é uma boa escolha. Temos capacidade para ter profissionais competentes e qualificados e devemos ficar muito orgulhosos.

Sim, penso que todos temos é de ter atenção à procura que vai explodir para determinado tipo de profissionais e em como adequamos a oferta para estarmos preparados e continuarmos a ser uma excelente escolha.

A Microsoft, por exemplo, fez no início de Dezembro um protocolo com o CCISP, Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, através do qual vamos montar, em vinte instituições, academias Microsoft para reformação e certificação que podem ser para estudantes de outras áreas que não tecnologia para que estes ganhem competências. Ou para que estudantes de tecnologia enriqueçam as suas competências em tecnologias mais avançadas.

Apostas para 2018: em Maio está aí o RGPD…

O que é uma enorme oportunidade, não tem de ser um problema. É uma oportunidade para que as empresas repensem os seus processos, a arquitectura de dados, repensem o que de facto podem fazer para potenciar o negócio e a qualidade dos seus serviços através dos dados que, entretanto, vão recolhendo e trabalhando. Vai ser uma clara oportunidade.