Entrevista

«Queremos manter um crescimento a dois dígitos»

Entrevista a Pedro Freire, director da Jakala Iberia em Portugal.

Nascida em Milão no ano 2000 e focada inicialmente na análise de dados para marketing e CRM, a Jakala transformou-se numa potência global com mais de três mil profissionais. Pedro Freire, director da Jakala Iberia em Portugal, explicou à businessIT quais os planos para o mercado nacional.

Qual a génese da Jakala?

A Jakala nasceu no ano 2000, em Milão, com quatro pessoas. No início, a sua actividade era muito relacionada com a análise de dados dos clientes dos nossos clientes, nomeadamente dados geográficos, de padrões de compra e dados do próprio perfil de cliente. Através destes dados, era proposto um conjunto de soluções com o objectivo de aumentar o valor da marca e o volume de vendas. Ou seja, uma actividade muito focada na área de vendas, marketing, mas também de CRM, de relação com o cliente. Em 2014, a empresa ganhou outro ritmo com a aquisição de empresas adjacentes, com actividades complementares à Jakala. Nesta altura, passámos a ser 250 pessoas. Em 2020, com a aquisição de mais um par de empresas, chegámos aos mil profissionais.

Ainda centrados no mercado italiano?

Sim, a sede é em Milão e o principal mercado ainda era o italiano. Entretanto, deu-se a expansão internacional, com a Jakala a apostar mais forte em clientes fora do país. Trabalhávamos principalmente clientes no sector da moda, da restauração e também do retalho, nomeadamente alimentar. Daí, surge a aquisição da Bmind, que actuava na Península Ibérica – principalmente em Espanha, mas também em Portugal – uma aquisição que permitiu à Jakala ganhar outra dimensão. Depois, continuámos a comprar outras empresas, na Dinamarca, em França, mais algumas em Itália e outra na Península Ibérica. Hoje, somos mais de três mil profissionais, a sede continua a ser em Milão mas temos trinta escritórios espalhados um pouco por todo o Mundo. Estamos muito concentrados na Europa, mas temos escritórios nos Estados Unidos, no México, no Brasil, na China e em Taiwan. Temos um footprint que estamos a tentar que seja cada vez mais global. A América é uma aposta forte, portanto é esperado que cresça a um ritmo acelerado.

Como se definem como empresa, sobretudo após estas aquisições, algumas em áreas que não eram ‘core’ da Jakala?

Definimo-nos como uma consultora de sales, marketing e CRM. E temos um desígnio estratégico de ser líderes na transformação e utilização de dados apoiada em inteligência artificial.

Como é que uma marca desconhecida em Portugal, como a Jakala, se assume no mercado? Que ferramentas têm para combater marcas que já estão implementadas? Como se querem diferenciar?

Temos um posicionamento claro de relação a longo prazo com os nossos clientes. Quando entrámos em Portugal, já vínhamos com um background de parceria com alguns clientes ibéricos com actuação no nosso país. Isso permitiu-nos entrar em Portugal mesmo antes de estabelecermos uma presença física. Por um lado, temos os clientes com quem já conseguimos estabelecer esta relação e com quem temos uma dimensão de negócio considerável ao longo dos anos. Depois, temos outros clientes – que por enquanto ainda representam uma facturação mais pequena – com quem fazemos projectos de pequena dimensão, focados numa solução em particular,  mas com o objectivo de gerar essa relação de confiança e de crescimento mútuo. É assim que temos estado a actuar em Portugal. Em Itália, temos um tecido empresarial algo limitado quando comparado com outros países da Europa. Logo, não temos a ambição de ter um número muito elevado de clientes. Temos, sim, a ambição de ter bons clientes com os quais consigamos gerar esta relação de confiança.

Que clientes têm em carteira para servir de exemplo?

Temos clientes como a Endesa, o Santander ou o Benfica e trabalhado de uma maneira mais intermitente com a Goldenergy. É claro que estamos à procura, ou pelo menos temos feito um esforço comercial, de trabalhar com outros clientes, noutras áreas. Mas estes são os mais importantes, mais significativos e aqueles com quem temos uma relação mais pública.

Qual o cliente-tipo da Jakala em Portugal?

Até agora, têm sido grandes marcas e grandes empresas. No entanto, temos a ambição de chegar a clientes que, no âmbito ibérico seriam de tier 2 ou tier 3, mas que em Portugal não deixam de ser marcas com muito valor e com uma presença importante no mercado. Para a Jakala, não é só importante ter marcas que já estejam muito consolidadas, como por exemplo no sector hoteleiro, com uma maturidade muito grande e com uma presença muito forte, não só em Portugal, mas também a nível internacional. É igualmente muito interessante conversar com clientes diferentes, de empresas emergentes e nem sempre na região de Lisboa. São projectos no interior ou em outras áreas do País com abordagens inovadoras, com ambição internacional e que exportam em grande medida. Marcas com uma visão de experimentação em termos de actividade de marketing –  que é onde actuamos. Projectos que querem andar rápido, que almejam utilizar algumas das ferramentas que estão disponíveis no mercado, sem tanto medo. Este é um posicionamento muito interessante para nós, porque nos permite alavancar a experiência que temos noutros mercados que andam um bocadinho mais rápido, em algumas soluções, e, assim, dar a conhecer a nossa experiência.

Consegue dar-nos um exemplo concreto?

Somos das empresas que têm mais experiência no mercado ibérico em customer data platform (CDP), uma solução de consolidação e activação de dados de marketing. Estamos a falar de consolidação de dados de diferentes fontes e de uma forma de os trabalhar que nos permita ter uma visão única do cliente; por outro lado, a jusante, ter a capacidade de activar esses dados na forma de campanhas em diferentes meios digitais. Uma vez que somos, na Península Ibérica, das empresas que têm mais experiência na definição e na implementação de CDP, interessa-nos ter conversas qualificadas com clientes que tenham uma apetência para este tipo de soluções. Ferramentas que, se calhar, em Portugal, ainda não são muito habituais, mas importantes para um cliente que tenha uma ambição mais internacional ou de andar um bocadinho mais rápido, independentemente de ser uma empresa com uma grande dimensão e com uma capacidade de investimento muito grande.

Que expectativa têm para os próximos anos, no mercado nacional?

Principalmente a de consolidação da relação que temos com os clientes-chave. Desde logo, queremos continuar a fortalecer a relação com as grandes contas, com as quais temos um negócio recorrente. Depois, temos aqueles clientes com quem temos feito projectos de uma dimensão um pouco mais inferior: queremos que se tornem grandes clientes e parceiros a longo prazo. Isso é muito importante para a Jakala e o principal objectivo, em termos de País. Por outro lado, queremos, de uma maneira táctica, conseguir novos clientes que nos permitam ir diversificando o tipo de projectos que fazemos. Por exemplo, projectos que envolvam a utilização de dados geográficos para tomar decisões sobre onde abrir uma nova loja. Ou projectos focados na área de loyalty com campanhas muito concretas e focadas em determinados produto ou segmentos. Em conclusão, queremos elevar os clientes com quem já trabalhamos de uma maneira mais intermitente a clientes a longo prazo. Por outro lado, queremos ir angariando novos clientes onde possamos fazer um trabalho mais inovador, que sirvam para entrar no nosso pipeline.

Quais as valências do escritório de Lisboa?

Na Península Ibérica, trabalhamos em rede ibérica. O escritório de Portugal é composto por profissionais que podem entregar projecto aqui, em Espanha ou, inclusivamente, na América Latina. Por outro lado, temos pessoas portuguesas que não estão em Lisboa. Temos colegas em Barcelona e em Madrid eque tendencialmente, são alocados a projectos em Portugal por motivos culturais, linguísticos e de conhecimento do mercado. Aqui, a equipa é pequena e focada em serviços e em consultoria. Ou seja, as nossas valências são principalmente nas fases de definição, num roadmap de iniciativas mais tácticas. Depois, temos valências pontuais naquelas áreas mais estratégicas para nós, como, por exemplo, marketing automation. Fisicamente, em Portugal, somos quatro pessoas, mas insisto que há portugueses a trabalhar em outros escritórios.

Que papel gostaria que o mercado nacional tivesse no grupo, num par de anos?

A nossa presença em Portugal tem dois grandes objectivos. O primeiro é estratégico, de cobertura do território europeu, até porque o escritório de Portugal está estrategicamente posicionado para trabalhar com alguns países da América Latina, inclusivamente o Brasil, onde se fala português. Ou seja, a nível estratégico, a nossa presença é importante, é requerida e é uma aposta. Depois, contribuímos activamente para os resultados da Jakala ibéria. Também temos a ambição de aumentar a nossa facturação em Portugal, ao mesmo ritmo da Península Ibérica. Ou seja, queremos manter um crescimento a dois dígitos.