Em Foco

Portugal aborda timidamente o Big Data

Big Data

Urge extrair valor dos dados

Para o SAS, é uma evidência que os dados nas empresas portuguesas estão a aumentar a um ritmo acelerado e muito derivado à constante evolução da tecnologia. «Não só os dados estruturados, mas também os dados semi-estruturados ou mesmo não-estruturados, o que representa um enorme desafio para as organizações», esclarece Pedro Dias, senior systems engineer do SAS Portugal.

Recentemente, o Instituto Nacional de Estatística efectuou um inquérito à utilização de TIC que revela que 13% das empresas portuguesas analisaram dados em processos de Big Data, durante o ano de 2015 e que a principal fonte de informação utilizada foram os dados de geo-localização da utilização de dispositivos móveis, bem como a utilização de dados gerados a partir de meios de comunicação digital. «O objectivo é só um: extrair valor dos dados! E julgo que esta ideia as empresas já a têm presente, que é de facto importante conseguir retirar insights da informação que é gerada através dos dados». Pedro Dias garante que, actualmente, já são muitas empresas a incluir o Big Data como elemento tecnológico fundamental da sua estratégia empresarial.

Os dados e as vantagens competitivas

A forma como os dados são explorados geram vantagens competitivas, considera a Microsoft. «Estas vantagens competitivas derivam fundamentalmente da capacidade de processar grandes volumes de informação, que vai muito além das bases de dados tradicionais, suportando diversas fontes de informação não estruturadas, onde as redes sociais são um dos cenários mais conhecidos», explicou à businessIT Manuel Dias, Business Analytics Lead da Microsoft.

A empresa de Redmond assegura que a adopção deste tipo de soluções por parte das empresas começou, numa primeira fase, por projectos e soluções mais técnicas onde a qualidade de dados e a capacidade de processamento foram os grandes drivers. Mas, nos últimos dois anos, esta realidade, segundo Manuel Dias, terá evoluído para soluções cada vez mais escaláveis com cenários mais avançados, que vão desde a análise predictiva, machine learning, análise near real-time, entre muitos outros.

O novo petróleo

Para a Cisco, os dados são «o novo petróleo» e Rui Brás Fernandes, SE Manager, vê claramente um papel fundamental da «Cisco como líder de mercado em soluções de rede e de data center (rede e computação) por forma a garantir que esse volume de dados é transportado e armazenado de uma forma eficiente e garantindo a qualidade e integridade da mesma».

O gestor explicou-nos que se olharmos para o Big Data numa perspetiva mais abrangente e juntando a componente de Analytics e Machine Learning, acrescenta-se à componente do armazenamento de dados, a inteligência e os algoritmos que tornam os dados (Big Data) em algo com sentido para as empresas, indivíduos ou organizações, tornando possível a personalização e diferenciação. «Esta visão alargada do Big Data permite dotar as organizações e indivíduos de uma análise em tempo real e poder actuar de uma forma eficaz em temas tão sensíveis como a gestão operacional de uma organização ou mesmo a segurança física e/ou dos dados, sendo esta análise e atuação em tempo real mais eficaz e rápida quando feita o mais perto do dispositivo ou solução em causa».

O Big Data apresenta o seu maior potencial nas análises em tempo real e ainda mais se a análise se proceder na extremidade da rede, onde os dados conservam o seu valor.

Assim, defende Rui Brás Fernandes, o Big Data apresenta o seu maior potencial nas análises em tempo real e ainda mais se a análise se proceder na extremidade da rede, onde os dados conservam o seu valor. «Por exemplo, numa cidade inteligente, a capacidade de analisar os dados na extremidade da rede, na última parcela, onde começa realmente a computação (Fog Computing), permite avisar os condutores sobre parques de estacionamento gratuitos em tempo real, medir os índices de poluição e informar os cidadãos sobre a rede de transportes».

Outro exemplo dado por Rui Brás Fernandes são os contentores de lixo que notificam os funcionários quando estão cheios. «A análise pode aplicar-se a vários âmbitos, desde a proteção da natureza até à monitorização de toda a cadeia de produção alimentar».

Os dados existem, mas não estão estruturados

As empresas portuguesas estão a compreender a oportunidade que esta vaga da transformação digital pode representar para a sua competitividade, defende a Fujitsu. Susana Soares, directora de marketing da representação nacional, acha que com a digitalização de processos e o superior tratamento de dados que as empresas atualmente possuem, a gestão é mais eficaz e os processos de tomada de decisões são mais céleres, garantindo uma vantagem competitiva face aos concorrentes.

«Na maioria das vezes, os dados já existem, encontram-se dispersos e muitas vezes não estão estruturados. São dados resultantes dos vários sectores das organizações. O Big Data vem agora potenciar a correlação entre eles, permitindo a tomada de decisão suportada num conhecimento mais sustentado e abrangente sobre todo o ciclo de vida da oferta da organização. Por exemplo, a recolha de dados de uma linha de fabrico (com recurso à IoT), relacionando-os com uma componente de logística e até à plataforma de CRM».

Um interesse (apenas) inicial

A experiência da SAP em Portugal é que, numa fase inicial, quando o tema de Big Data chegou às empresas nacionais, estas demonstraram muito interesse e muitas levaram a cabo iniciativas para definirem qual seria a sua estratégia. Mas depois, muitas empresas terão ficado apenas por este interesse inicial. «Foram muito poucas, talvez menos de 20%, as que levaram a cabo iniciativas reais e concretas, iniciando projectos na área de Big Data, transversais às empresas e para suporte das áreas de negócio core ou estratégicas», contou-nos António Nunes, Solution Advisor da SAP Portugal. Apesar de tudo, António Nunes esclarece que com isto não se pretende dizer que as empresas portuguesas não estão a utilizar o Big Data. «No fundo, estão a utilizá-lo em alguns projectos, de forma pontual e, por vezes, indiretca».

O gestor defende que, hoje as empresas já não olham para o Big Data com a necessidade de terem uma estratégia, mas sim como uma das áreas a considerar para a sua transformação digital, para além das áreas de mobilidade ou da cloud. «As empresas deixaram de dar uma atenção individualizada a cada umas destas áreas, com estratégias diferenciadas, para passarem a endereçá-las como partes integrantes da sua estratégia de transformação digital».