Sob o tema Gestão 4.0 com Inovação e Sustentabilidade, o Seminário GS1 Portugal de Supply Chain, que se realizou-se no auditório IAPMEI em Lisboa, mostrou o que a organização está a fazer ao nível da standardização e gestão de dados comerciais para que toda a cadeia de abastecimento fale a mesma linguagem. A organização é responsável pela introdução do código de barras em Portugal e das chaves e códigos de identificação dos produtos que permitem imediatamente saber a origem do produto.
João de Castro Guimarães, director executivo da GS1 Portugal, salientou que a entidade representa mais de «nove mil empresas» e que na base da sua actuação está a «transparência para consumidor» isto apesar de actuarem no segmento B2B. O responsável destacou ainda a «rastreabilidade e a segurança» e explicou qual o papel que a GS1 quer ter: «Queremos ser o parceiro digital dos nossos associados na sustentabilidade, segurança alimentar e cadeia de valor. Queremos acrescentar valor». O director-geral falou das várias iniciativas da entidade como a Verified by GS1, para confirmar a identidade de um produto e até sete atributos do mesmo e que é um bilhete de identidade do produto; o Global Data Model, que pretende uniformizar os atributos core e não core dos produtos, criando um, standard global; e o Lean & Green, um programa global lançado no final de 2019 com objectivo de reduzir o impacto ambiental, que já está implementado em doze países e tem a participação de mais seiscentas empresas.
A nova cadeia de abastecimento
O evento contou com um painel de retalhistas e fabricantes sobre o tema ‘O Novo Paradigma da Supply Chain 4.0’ que mostrou de que forma as tecnologias como a Internet das Coisas, a robótica avançada, a analítica e a big data estão a transformar as cadeias de abastecimento.
A supply chain 4.0 «é altamente disruptiva», disse a Ana Leandro, directora de logística e supply chain da Auchan, que explicou porquê: «Vínhamos de um modelo em que a eficiência era obrigatória e estava assente em cadeias muito estanques e pouco ágeis. As cadeias derivavam de standardização de processos. A eficiência continua a ser fundamental, mas agora com agilidade e mais centrada no consumidor. Neste contexto, a supply chain 4.0 obrigou a mudanças drásticas no modelo de funcionamento e organizacional». Assim, «as equipas têm de ser multidisciplinares e os dados e o analytics são fundamentais», disse.
Já Pedro Nunes, supply chain senior project manager na Sonae MC, explicou que o tema dos dados é central já que «todas as formas de conhecer o consumidor, melhoram a satisfação do cliente, a produtividade da empresa e ajudam a reduzir custos pois as empresas conseguem evitar rupturas de stock, optimizar entregas e encomendas, entre outras operações. A supply chain 4.0 é, assim, «um meio para servir melhor o cliente, que é cada vez mais exigente».
A Central de Cervejas tem mais de quarenta mil clientes e Luís Cabrita, customer service manager da Sociedade Central de Cervejas, alertou para o facto da massificação da tecnologia estar a «transformar as expectivas dos clientes que já não são tão tradicionais». Assim, a empresa tem apostado no digital para «apoiar o negócio» e deu alguns exemplos, como um projecto piloto com IoT em grandes tanques em que a empresa consegue saber quando é necessário fazer a reposição do produto antes do cliente e assim, prestar um melhor serviço.
Novas competências e colaboração
A informação foi referida como «essencial» por José Fradeira, sales director da Vitacress, que explicou que o negócio da empresa «assenta numa previsão das vendas que tem de se aproximar o máximo da realidade já que são bens perecíveis e exige «um planeamento das culturas com grande antecipação».
Aqui, a tecnologia «tem trazido grandes oportunidades na previsão das vendas, nomeadamente a inteligência artificial. Mas todas estas inovações na cadeia de abastecimento exigem novas competências e mudanças culturais «já que há uma transformação brutal (na supply chain) que deriva da tecnologia», referiu Jorg Deubel, director de supply chain da Nestlé Portugal.
Assim, há que «adaptar equipas», «requalificar as pessoas» e apostar «na colaboração», salientou Pedro Nunes. «Há que trabalhar tanto as hard skills como as soft skills», acrescentou. O responsável da Central de Cervejas disse ainda que existe a necessidade de ter «uma mentalidade mais de startup para testar e falhar rapidamente» e implementar com sucesso uma cadeia de abastecimento de nova geração.
Prioridade à sustentabilidade
Sobre sustentabilidade, Jorg Deubel revelou que a empresa assinou um acordo, em conjunto com outras 190 organizações, para atingir a neutralidade carbónica em 2050, mas é um «caminho longo quer em tempo, quer em esforço». Na Nestlé, não é «na cadeia de abastecimento que está a grande pegada ecológica, mas sim nos ingredientes que usam nos produtos, como o leite». É por isso que a empresa terá de «reduzir o uso de proteína animal» e «adaptar, mudar e modernizar as receitas dos produtos». O director esclareceu que a estratégia de sustentabilidade da fabricante passa também por «trabalhar a parte agrícola de quem produz proteína animal». Em Portugal, a Nestlé já não coloca o lixo em aterros, reutilizando as quinhentas toneladas de lixo para a produção de energia e na redução da pegada ecológica». Na Sonae MC, a sustentabilidade é também fundamental já que contribui para o «branding junto do consumidor que é cada vez mais sensível a esse tema». O responsável da empresa disse que a cadeia de abastecimento tem de se reinventar e tem de ir de encontro ao que o cliente quer, já que é essencial não ficar para trás».
O debate contou ainda com uma parte dedicada ao tema do COVID-19 em todos os participantes foram unânimes em dizer que «é um desafio acrescido às cadeias de abastecimento», mas que deve ser enfrentado com «tranquilidade». Os representantes das empresas referiram que «as crises originam oportunidades de colaboração entre retalhistas e fabricantes se a cadeia de abastecimento falhar», o que até já aconteceu na altura da greve dos motoristas de matérias perigosas.
No final, ficou claro que entre os presentes que cada um está num estado de maturidade de supply chain 4.0 diferente, mas que todos caminham para implementá-la já que é uma «peça fundamental para o sucesso e digitalização das empresas», concluiu Ana Leandro.