A quarta edição da C-Days, conferência organizada pelo Centro Nacional de Cibersegurança, decorreu em Coimbra sob a tónica da inclusão, da necessidade da realização de acções de sensibilização e prevenção sobre cibersegurança e de um claro convite: recém-formados, contactem o CNCS que eles têm emprego para vocês.
Pela primeira vez, a conferência de cibersegurança C-Days saiu de Lisboa e rumou a Coimbra, seguindo o princípio da descentralização que «este Governo muito valoriza», anunciava na cerimónia de abertura Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa.
A executiva disse, por videoconferência, que hoje já não vivemos sem as tecnologias, cuja tendência para a omnipresença vai continuar a acelerar. «Adivinhamos um futuro cheio de novas potencialidades, mas também de riscos acrescidos em vários domínios, aos quais a cibersegurança tem que dar cada vez maior atenção». Relembrando «acontecimentos recentes que ilustram estes riscos», a ministra ressalvou a importância que os recursos humanos têm na prevenção de ciberataques. «Tal deve-se à evolução e crescente adesão às redes sociais, potenciada pela utilização de plataformas móveis onde os utilizadores adoptam, por vezes, comportamentos ingénuos, nomeadamente partilhando informações pessoais».
A solução para mitigar este problema passa, segundo Maria Manuel Leitão Marques, pela realização de acções de sensibilização e de acções preventivas sobre cibersegurança «que nos alertem para a necessidade de não adoptar comportamento de risco» no mundo virtual. «Essa tem sido – e vai continuar a ser – uma das principais linhas de actuação do Centro Nacional de Cibersegurança», de resto a entidade responsável pela organização do C-Days.
Cibersegurança é prioridade na UE
António Gameiro Marques, diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança (GNS), entidade que tutela o CNCS, relembrou na sessão de abertura que o tema transversal à conferência é inovar em cibersegurança, de forma inclusiva. «Todos devem participar nessa inovação, no processo que leva a que a nossa sociedade, como um todo, seja mais madura do ponto de vista da cibersegurança».
O responsável relembrou que este tema constitui a quarta prioridade da União Europeia, pelo que «se os centros de saber nacionais souberem explorar as oportunidades poderão ser criadas novas soluções que podem concorrer para a afirmação da nossa comunidade científica, para o incremento da nossa economia digital e, assim, para a nossa riqueza nacional como um todo», para além de contribuírem para o aumento da capacidade da sociedade portuguesa para resistir a ataques perpetrados através do ciberespaço.
Gameiro Marques garante que a questão da segurança digital é, cada vez mais, um espaço de interesse multidisciplinar e de agregação das áreas tecnológicas, jurídicas, sociais e comportamentais. «A tecnologia é o fio condutor mas que a todos une e todos afecta na mesma proporção».
Futuro está na cibersegurança
Ao longo de quatro anos de existência, o Centro Nacional de Cibersegurança, segundo Gameiro Marques, tem procurado, activamente, acrescentar valor à sociedade «segundo um modelo que é inclusivo, colaborativo e subsidiário». A “comprová-lo”, o director mencionou que desde o ano passado foi criado o Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, através de uma resolução do Conselho de Ministros, que é basicamente um board da governação da execução da estratégia, já que esta é transversal ao Estado, ao sector público e privado.
Gameiro Marques admitiu na sessão de abertura que o grande desafio do Centro Nacional de Cibersegurança é conseguir recrutar e reter as pessoas necessárias «ao cumprimento da nossa missão».
Aliás, a procura de profissionais com competências nesta área, quer no sector público, quer no sector privado, excede claramente a oferta que as universidades, os politécnicos e as escolas profissionais conseguem fornecer, diz o director do Gabinete Nacional de Segurança. «Temos, por isso, que ter uma abordagem fora da caixa. Só em Portugal, segundo as estatísticas, faltam quinze mil profissionais na área das TI».
Aliás, a finalizar a sua intervenção, Gameiro Marques convidou todos os recém-formados ou perto de concluírem a sua formação, mesmo que não em áreas tecnológicas mas que tenham gosto neste tema, a contactarem a instituição. «Insistam, enviem currículos, empenhem-se e procurem uma oportunidade numa área que tanto precisa da vossa ajuda. Estamos convictos que vos podemosapresentar uma oferta de valor muito interessante, actual e, sobretudo, com um futuro muito promissor».
Além da sessão de abertura, ao longo de dois dias, 45 conferencistas nacionais e internacionais debateram na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que acolheu a quarta edição do C-Days, questões estratégicas, operacionais e técnicas relacionadas com a cibersegurança, nomeadamente o projecto de legislação que estabelece o regime jurídico da segurança da informação no ciberespaço, que está em debate no Parlamento, as lições aprendidas no recente exercício nacional de cibersegurança, realizado em Maio, e a nova estratégia nacional de segurança do ciberespaço.
Lino Santos à frente do CNCS
O CNCS, que funciona no âmbito do Gabinete Nacional de Segurança, esteve dois meses sem coordenador, após a demissão de Pedro Veiga, a 9 de Maio último, na sequência de discordâncias com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O Governo informou entretanto que precisamente em Julho Lino Santos, coordenador da área de Computação Avançada e Segurança na Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), passaria a coordenar este centro, uma escola que António Gameiro Marques adjectivou e «óptima escolha», lembrando que o profissional esteve na comissão instaladora do CNCS e envolvido na produção da Estratégia Nacional de Segurança no Ciberespaço 1.0.