A história das conservas Ramirez tem 165 anos. Considerada a mais antiga indústria de conservas de peixe do mundo em actividade, é um claro exemplo de como inovar sem perder a identidade.
São 45 milhões de latas por ano que a Ramirez produz, o que lhe dá direito a facturar cerca de trinta milhões de euros. Considerada a mais antiga indústria de conservas de peixe do mundo em laboração é, em simultâneo, apresentada como a mais moderna e ecológica unidade do sector.
Criada em 1853, está hoje em mais de cinquenta mercados com marcas como Ramirez, Cocagne, The Queen of the Coast, Tomé, Al Fares ou La Rose.
Há cerca de dois anos, a Ramirez mudou de casa. As actividades desenvolvidas nas emblemáticas instalações de Leça da Palmeira e Peniche foram transferidas para a ‘Ramirez 1853’, a sua nova unidade industrial em Matosinhos, considerada uma das cinco melhores do sector agro-alimentar mundial.
O investimento anunciado foi de dezoito milhões de euros, materializados na produção de mais de 55 referências, do atum às sardinhas, com passagem pela cavala, bacalhau, lulas, polvo, mexilhões ou filetes de anchova.
Ao saber-fazer e ao vanguardismo a empresa quis agora reforçar um compromisso permanente com a sustentabilidade da pesca, a segurança alimentar e a inovação. E as TI foram fundamentais, explicou-nos Manuela Pereira, directora de Sistemas de Informação da Ramirez.
O desafio de gerir a informação
A nova unidade fabril de Matosinhos conta com equipamentos de última geração associados à era da Indústria 4.0, nomeadamente a robotização de diversos processos. O grande “problema” era mesmo a gestão da informação associada à cadeia de produção.
Isto porque a actividade da Ramirez é particularmente complexa pois depende de múltiplas variáveis em contínua alteração. Ou seja, o sistema a adquirir – a empresa trabalhava sobre um software desenhado à medida que claramente já não tinha capacidade para endereçar a nova era digital – teria de ser altamente customizável.
Após uma abordagem ao mercado, o produto eleito foi o sistema de gestão da produção Primavera Manufacturing, sobretudo pela tal «adaptabilidade às especificidades do negócio», disse Manuela Pereira.
Segundo a empresa, o sistema permitiu conectar máquinas, robôs de última geração, pessoas e processos, agilizando as operações fabris desde a gestão de encomendas, com passagem pelo planeamento e controlo da produção, até à gestão estratégica e financeira. «Esta solução permitiu ainda interligar os dados fabris com o sistema central de gestão, permitindo à Ramirez ter uma visão global do negócio e acompanhar a sua evolução em tempo real».
O software tem de se adaptar à empresa
Não é a empresa que tem de se adaptar ao software, mas o software que tem de se ajustar à empresa, diz Manuela Pereira. Hoje, todo o negócio da Ramirez está suportado nas soluções de gestão da Primavera, nomeadamente gestão da produção, financeira, de recursos humanos e reporting.
Mas a directora dos Sistemas de Informação garante que não vão ficar por aqui. «Ainda estamos a fazer desenvolvimento e há imenso trabalho pela frente, é um processo evolutivo, em constante mutação», nomeadamente na área da produção.
Para 2018, a Ramirez almeja controlar ainda mais as denominadas fichas técnicas dos produtos e os desvios na produção. «Temos fichas técnicas onde colocamos os componentes, as operações pelas quais passa o produto, os centros de trabalho, que colaboradores estão afectos a esses centros…».
A “complicar” tudo isto, o facto de a matéria-prima, o peixe, não ser sempre igual. «Se queremos ter feedback do sistema, a informação que lá colocamos tem de ser credível, pelos que temos de estar permanentemente a analisar médias de tempos e custos para ir ajustando as fichas técnicas».
Falar directamente ao negócio
Acompanhar o custo da produção é outro desafio que a Ramirez tem entre mãos. Manuela Pereira enfatiza o facto de a empresa desde sempre «aliar tradição à inovação», pelo que a administração se mostra particularmente disponível para investir nos SI, desde que devidamente alinhado com o negócio.
«Se conseguirmos acompanhar de forma assertiva os custos da produção, essa informação vai ajudar a administração a tomar decisões estratégicas, como por exemplo avançar para determinados mercados, ou não. E tudo isto tem de ser em tempo útil. Sem ferramentas e plataformas tecnológicas isso seria impossível».
Sintonia informática
E se tempos houve em que a equipa de gestão simplesmente não conseguia falar com o departamento informático, hoje essa realidade é completamente diferente, diz Manuela Pereira.
Primeiro, porque a equipa que lidera o negócio já entende o “idioma tecnologia” e depois porque o departamento de Sistemas de Informação já compreende, ou tende a compreender, o negócio. «Os parceiros tiveram que realmente perceber do nosso negócio. Foram muitas horas a ouvirem-nos.
Foram eles que fizeram uma visão do nosso processo, fruto de várias reuniões. Porque, na verdade, eles não têm de perceber de peixe nem nós de informática. Mas temos de estar disponíveis para ouvir. E estiveram».
O drama das actualizações
Claro que nem tudo é cor-de-rosa. As constantes actualizações requeridas, quer pela Autoridade Tributária, quer pela própria Primavera no sentido de implementar melhorias ao produto acarretam custos.
«Porque mesmo que essas actualizações sejam gratuitas, a verdade é que temos de pagar ao parceiro para as implementar, o que implica custos. E 2017 foi terrível, neste aspecto. A determinada altura conversamos com a Primavera pois os custos estavam a ser muitos – ainda para mais em soluções altamente customizadas – e achamos de devíamos ter alguma compensação. E houve abertura».
Quanto ao investimento realizado em Sistemas de Informação nesta nova unidade, não foi divulgado, mas Manuela Pereira admite ser “considerável» e o objectivo é claro: «Estamos sempre consciente de que queremos mudar e marcar a diferença. A percepção que tenho é a de que, nesta área das conservas, estamos mais à frente ao nível das plataformas tecnológicas que o mercado, não só nacional, mas mesmo mundial».