Reportagem

Noesis: a inteligência artificial é um «processo contínuo» e deve estar em todas as áreas da empresa

No Lisbon Data & AI Forum 2023, a tecnológica nacional revelou como a promessa de transformação da inteligência artificial e a realidade continuam distantes. A Noesis apresentou, ainda, o seu novo assistente de IA generativa: Dave.

Foto: António Saraiva

A sétima edição do evento anual da Noesis teve como tema ‘Leading the Future with Data’ e a maioria das sessões centrou-se na inteligência artificial generativa, a grande tendência tecnológica do ano e que, sem dúvida, sê-lo-á também em 2024. Luís Gonçalves, data analytics & AI director da Noesis, começou por explicar que hoje há uma «explosão do interesse pela inteligência artificial» graças ao ChatGPT e que este é o «tópico central para os CEO», tendo ultrapassado a «preocupação com situação económica e com a guerra».

O cenário actual relativo à implementação desta tecnologia, e a visão que se tem da mesma, foi um dos assuntos abordados por Luís Gonçalves, que esclareceu que já se devia «estar a ver a era do 5.0, por exemplo na indústria, e dos negócios super optimizados». Contudo, segundo o responsável, a realidade é que a IA é «ainda um nice to have e não está nos processos core, nem na estratégia das empresas». Luís Gonçalves disse haver dificuldade em que o negócio perceba os ganhos que a tecnologia pode trazer, por vários motivos – entre estes, está o facto de a «inteligência artificial não ser um processo determinístico» e de «nem sempre as iniciativas se concretizam em projectos produtivos».

Já do ponto de visto das TI, a IA deveria ter originado uma «cultura de dados» e que todos os processos estivessem, «de alguma forma, automatizados», mas que o que acontece é que está a «aumentar a complexidade técnica e de arquitectura», o que «obriga a ter mais recursos, quer de infraestrutura quer humanos». Ao nível das pessoas, a IA já devia «estar a facilitar incrivelmente as tarefas e ajudar a tomar todas as decisões», mas o que se passa é que existe a «preocupação com o facto da tecnologia poder substituir alguns trabalhos e profissões».

Objectivos muito claros
Os desafios existentes para a implementação de uma estratégia de inteligência artificial são vários, entre os quais o «custo e ROI incertos», já que «não se consegue garantir, à partida, que vai dar resultados». Além disso, temos o facto de «ser necessário existirem dados em quantidade, mas também com qualidade»; e de isso «implicar aprendizagem, a existência de falta de talentos e a integração com os sistemas existentes, já que se as iniciativas de IA não estiverem integradas nas dinâmicas de trabalho e nos sistemas, não têm e não trazem tanto valor». Assim, a IA «não pode ser o produto final», mas sim estar no «centro de tudo, em todos os processos e em toda a cadeia de valor», alertou Luís Gonçalves.

O responsável indicou que as «empresas devem avaliar o seu estado de maturidade» em termos de inteligência artificial e determinar uma estratégia para saber «em que sítios é que esta traz valor para a organização, definir objectivos claros, escolher um caso que vai ser o driver da implementação de IA na empresa e ter o sponsorship de topo». A «IA está a transformar as empresas» e «deve ser sempre um projecto contínuo» porque o mercado está em «constante evolução». O data analytics & AI director destacou que a inteligência artificial «não é bala de prata e não vai resolver todos os problemas», mas vai ser uma «grande ajuda para o negócio» e contribuir para «reduzir o fosso entre a visão e a implementação e entre as TI e o negócio».

O assistente de IA generativa Dave
A consultora nacional aproveitou o Lisbon Data & AI Forum 2023 para anunciar o lançamento do Dave, o seu primeiro assistente de compras com IA generativa, cujo objectivo é «revolucionar a experiência de compra», disse Luís Gonçalves.

Em declarações à businessIT, o responsável disse que a solução, com a qual se pode interagir através de linguagem natural, é «capaz de ligar as informações de produtos existentes de um retalhista às suas características» e que, a partir daí, é «capaz de guiar o utilizador para encontrar o que procura e fazer sugestões». Isto, além de «permitir iniciar a compra, adicionar artigos ao carrinho e, até, fazer a integração com o próprio processo de checkout». A ideia do Dave é ser um «personal shopper assistant», realçou Luís Gonçalves. O data analytics & AI director acredita que o Dave vai permitir uma «experiência do cliente diferenciadora», assim como «potenciar as vendas».

Esta é a «primeira solução de IA generativa» da Noesis para o mercado, mas a empresa já estava a trabalhar nesta tecnologia internamente e com vários clientes. Luís Gonçalves deu dois exemplos disso: «Um cliente internacional da área legal que está a desenvolver um serviço para ter a capacidade de pesquisar sobre um tópico e obter documentação/informações sobre decisões passadas e jurisprudência». Dentro da Noesis, o Dave estava a ser usado «para facilitar o onboarding e o acesso ao repositório de conhecimento, dentro dos recursos humanos».

Chegar aos negócios
No painel ‘Generative Business: From Personal Curiosity to Business Scale’, Rui Ramos, advanced data solutions manager do Super Bock Group, explicou que a empresa está a «fazer testes para criar casos de uso e escalar, depois, dentro da organização». O responsável acrescentou que está a ser criado um chabot interno cuja preocupação é «garantir a veracidade da informação que está disponível» para ter a certeza de que as pessoas «não vão tomar decisões com base em pressupostos errados».

Já Luís Chaby, Azure enterprise sales manager da Microsoft Portugal, afirmou que a IA generativa «pode ser uma vantagem competitiva» e que está a trazer uma onda de inovação, já que «nunca houve uma vaga de lançamentos na empresa como a que tem acontecido este ano». A prioridade é «permitir que as organizações possam criar também soluções sem necessidade de grande talento», dado a escassez de competências que existe nesta área. O responsável salientou que as empresas que usam as soluções da tecnológica «têm a segurança de que os dados são usados apenas para treinar os seus modelos e nunca para treinar os modelos fundacionais»; além disso, «não estão acessíveis a terceiros, nem para a própria Microsoft».

O executive director da DSPA, Guilherme Ramos Pereira, referiu que IA generativa é uma «oportunidade fantástica para aumentar a capacitação, a produtividade e a eficiência»; as empresas «têm de ter um papel de evangelização da tecnologia» e «ensinar as pessoas a aproveitar as ferramentas disponíveis». O responsável sublinhou que «falta ainda a capacidade de usar a inteligência artificial para comunicar com as empresas, as pessoas, o mercado; desmitificar os conceitos de IA e data science» e trazer mais talento para estas áreas.