No primeiro grande evento da consultora este ano, que se realizou no Centro Cultural de Belém, Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC Portugal, começou por salientar que a velocidade da mudança é «cada vez mais rápida desde a pandemia» e que, por isso, «as organizações terão de ter uma abordagem mais disruptiva à sua transformação digital». Em 2022, o investimento em TI (4,9%) ficou um pouco abaixo do produto interno bruto nacional (6,7%), mas, este ano, a tendência vai inverter-se, como aconteceu na pandemia, em que as despesas com tecnologia foram superiores ao PIB. Assim, para 2023, a IDC prevê que, em Portugal, o investimento em tecnologia irá «crescer 4,7% e atingir os 5,4 mil milhões de euros». Já quanto ao PIB, deverá ficar pelos 0,7%, «apesar de as estimativas do Governo serem mais optimistas», ressalvou Gabriel Coimbra. O responsável referiu ainda que «apesar, do contexto actual de crise económica e geopolítica, as organizações querem aumentar o investimento na área das TI, para atingir um crescimento sustentado, numa economia cada vez mais digital».
Digital a crescer a dois dígitos
Bruno Horta Soares, leading executive advisor da IDC Portugal, apresentou um resumo do que será necessário as empresas fazerem para se manterem resilientes, usando uma frase de Lewis Carrol, autor de Alice no País das Maravilhas: «Agora que aqui estamos, só para nos mantermos no mesmo lugar, precisamos de nos movimentar». O responsável explicou que as empresas «vão ter de fazer investimentos muitas vezes para sobreviver e não apenas para mudar e crescer». Por isso, e de acordo com o responsável, a consultora prevê que o investimento na tecnologia digital para a transformação do negócio «vai ser oito vezes superior ao crescimento da economia». Isto poderá representar um «aumento de 16,9% de gastos em novas tecnologias», ou seja, «da terceira plataforma (cloud, mobile, big data e redes sociais)», pois apenas estas poderão «ajudar as organizações a manterem-se à tona».
Gabriel Coimbra falou ainda do exemplo nacional, com base num inquérito feito às empresas portuguesas: «2/3 das organizações pretendem aumentar o investimento em transformação digital e 21% vai mesmo investir mais de 10%, que no passado». Sobre as principais áreas de investimento, a cloud «vai continuar a crescer a mais de 20%, existirá também um grande aumento no IoT, cerca de 12% e os gastos com segurança devem aumentar 9% até 2026». Outro segmento de relevância será o da «inteligência artificial, analytics e data», acrescentou o responsável.
A nuvem continua a ser uma das grandes áreas de aposta, não só a nível nacional, como mundial: «Agora que as organizações já estão na cloud, a maior preocupação é com a eficiência», disse Bruno Horta Soares; por isso, as empresas vão apostar em «estratégias de FinOps, porque a cloud é «cada vez mais a ferramenta que serve para alinhar a tecnologia com o negócio».
Aceleração é vital
Depois de falar de resiliência, o leading executive advisor da IDC Portugal classificou a aceleração como ‘fundamental’ para o crescimento dos negócios e, mais uma vez, recorreu a Lewis Caroll para ajudar a explicar o que as organizações têm de fazer: «Se querem avançar, não basta apenas movimentarem-se, têm de avançar duas vezes mais rápido». Bruno Horta Soares salientou ainda a existência de «uma evolução de um modelo de transformação digital para um de digital business» – isto significa que o «peso das receitas dos produtos, serviços e experiências digitais vai aumentar» e que deverá chegar aos «40%, em 2026, quando em 2022 foi de 30%». Um negócio digital pressupõe uma «mudança do modelo de negócio» e a «criação criar novos mercados, como por exemplo o metaverso, para criar mais receitas», indicou.
Em Portugal, também já se vê esta evolução para o digital business, como destacou Gabriel Coimbra. Mas, mesmo assim, «há ainda um atraso» em relação à tendência global. Segundo o responsável, em 2022, «23% das empresas nacionais inquiridas assumiram que mais que 40% das receitas foram provenientes do digital»; as previsões são de que este número aumente para «34% até 2025».
A sustentabilidade foi outro dos temas focados pelos responsáveis da IDC, já que, como explicou Bruno Horta Soares, as políticas ESG são «cada vez mais importantes» e as empresas vão ser «cada vez mais pressionadas a demonstrarem que, por utilização de tecnologia, estão de facto a salvar o Planeta». O country manager da IDC Portugal realçou que esta é a área em que as organizações nacionais estão «mais atrasadas» e mostrou os números que exemplificam isso: 33% vai manter os investimentos em iniciativas digitais e tecnológicas que contribuam para uma maior sustentabilidade; 44% vão aumentar os investimentos entre 1 e 10%; e apenas 20% vão aumentar os gastos em mais de 10%, neste tipo de projecto. Isto contrasta com quase «100% das organizações, a nível global, que vão aumentar os investimentos para serem mais sustentáveis».
Confiança é mais do que segurança
Por último, a IDC falou da confiança, que engloba não só a segurança, mas também o risco, a ética, a confidencialidade e a privacidade, entre outros temas. Bruno Horta Soares lembrou que a confiança é uma «moeda de negócio no contexto digital» e que está, agora, «no nível dos boards das empresas». Os CEO querem saber se estão a «fazer os investimentos certos em segurança e o retorno que isso traz à organização»; o responsável deixou, ainda, um alerta para que as empresas se preparem «para o aumento brutal do ambiente legal e normativo que vai acontecer nos próximos cinco anos, na Europa».
Por outro lado, Gabriel Coimbra sublinhou que, em Portugal, há uma crescente preocupação com a confiança, como se vê pelo aumento previsto de 9% dos investimentos em segurança, assim como no que diz respeito à «soberania digital e dos dados», na altura da escolha do «fornecedor de cloud». Assim, «58% empresas nacionais consideram o tema ‘muito importante’ e 31% vêem-no como ‘importante’».
O leading executive advisor concluiu também que as empresas «precisam de se adaptar ao contexto e terem uma maior flexibilidade, focada no crescimento das organizações, quer na dimensão da resiliência, quer da aceleração». Além disso, também é essencial «ligarem os investimentos digitais, e em tecnologia, com a estratégia do negócio» e perceberem a importância da «confiança» como «moeda do futuro no digital», para conseguirem vingar numa economia instável e cada vez mais competitiva e digital.