Empreendedorismo

Web Summit: o regresso ao verdadeiro networking

A maior conferência tecnológica realizada em Portugal voltou ao formato presencial e foi notório o entusiasmo de startups, attendees (participantes) e investidores. O networking foi considerado por todos como o mais importante neste regresso.

Piaras Ó Mídheach/Web Summit

A Web Summit teve este ano 42 751 participantes de 128 países e a mais alta participação feminina de sempre: 50,5%. Na edição deste ano estiveram presentes 1519 startups, longe das 2150 de 2019 e das 2007 de 2020, e um número de investidores mais reduzido: em 2021 foram 872, quando no ano passado foram 1145 e há dois anos 1221; estes números podem ser explicados pelas restrições impostas pela pandemia e de o online ter facilitado a “presença” de mais participantes, no ano passado.

Paddy Cosgrave, co-fundador da Web Summit, disse, na habitual conferência de imprensa realizada no segundo dia do evento, que existiam «muitos mais investidores, mas com identificação de attendee». Uma coisa foi certa, a Web Summit recuperou a sua capacidade inspiradora e o entusiasmo que tinha anteriormente, em especial, no seu ano de estreia em Portugal, em 2016.

Networking presencial é fundamental
Falámos com algumas startups nacionais e internacionais: foi unânime para todas que o regresso ao formato presencial é essencial para o networking. «Eu acho que a Web Summit de 2020, não existiu», disse João Lopes, co-fundador e COO da Bloq.it: «Todo o «networking, que é o mais importante que aqui existe, remotamente não é a mesma coisa e não funciona». O formato presencial é, para o mesmo responsável, uma «excelente oportunidade para conhecer investidores».

Veronica Orvalho, fundadora da Didimo, é da mesma opinião e concorda com a ideia de João Lopes – o evento físico «facilita as ligações com outras startups, investidores e todo o ecossistema». Lukasz Rzepecki, CEO da startup polaca Wearfits lembra que a conferência presencial «é importante para ter contacto com investidores, outros empreendedores e potenciais clientes» e que o online «não tem o mesmo impacto». O fundador e CEO da Preflet, Shailendra Tomar, salienta que, além das «interacções e da criação de uma rede contactos», a presença no evento teve o objectivo de «procurar investidores», algo em que o online «não funciona tão bem».

Já a CEO da brasileira NeuralMind, Patricia Tavares, diz que a Web Summit é também «importante para conhecer o mercado português» e pensar na «internacionalização». Para a portuguesa Emotai, que mudou um pouco o âmbito durante a pandemia (quer ajudar os colaboradores em teletrabalho a reduzir o stress e melhorar a concentração), «a procura de parceiros para pilotos é mais interessante quando feita de forma presencial», sublinha o CTO, Carlos Moreira. Por outro lado, Afonso Ravasco, COO da Trash4goods, que usa a gamificação para ajudar na reciclagem, considera que a Web Summit “tradicional” traz a «possibilidade de aprender com outras startups e empreendedores e saber como foi a sua jornada».

Muita e boa energia
Milana Dovzhenko, fundadora da startup nacional Bairro, de e-groceries, considera que esta Web Summit foi «importante para mostrar que o mundo não parou durante a pandemia» e que a presença é «importante para validar ideias e conceitos». Vasco Pedro, CEO e co-fundador da scaleup portuguesa de tradução Unbabel, fala de uma «energia contagiante», da «diferença em estabelecer relações em pessoa» e de isso ser «mais eficiente»; Mila Suharev, Co-CEO e CPO da Casafari, refere que este regresso foi importante porque «as pessoas estavam a sentir falta de eventos presenciais»; a responsável afirma que esta foi «de longe a melhor» Web Summit, já que os participantes «não estavam apenas interessados em negócios». Mila Suharev explica ainda que a decisão da startup de vir para Portugal foi em parte devido ao evento: «No primeiro ano, fez-nos perceber que Lisboa era uma cidade global e ajudou-nos a tomar a decisão de vir para cá».

No ano passado, falámos com Jane Hoffer, CEO da GoWithFlow, que nos disse que o online podia ser uma forma «mais eficiente» de netwoking, já que se «pode contactar directamente mais attendees». Contudo, este ano, a responsável reconhece que as «interacções são diferentes» e que «energia do evento, em formato presencial foi electrizante», não fosse a empreendedora líder de uma empresa de mobilidade eléctrica.

Investidores também gostam mais do presencial
Os investidores concordam com as startups no que diz respeito ao ‘networking in person’. Francisco Ferreira Pinto, partner e director executivo da Bynd Venture Capital, afirmou que «o formato presencial é a melhor, se não a única, forma de conseguir fazer network» e que «apesar de consumir mais tempo, permite estabelecer novas relações e novos contactos, algo que, nos eventos online, é muito complicado de operacionalizar e de replicar». Por outro lado, permite «identificar características e skills que podem escapar nas relações remotas» nas equipas e fundadores das startups. Francisco Ferreira Pinto considerou que esta edição da Web Summit «relembrou a todos o que era a vida antes da pandemia».~

Já o director executivo da incubadora Startup Lisboa, Miguel Fontes, diz que nesta edição, «se sentiu particularmente o gosto dos participantes em poderem voltar a estar juntos fisicamente», o que «reforça a convicção de que, por muita tecnologia que se incorpore nas vida das pessoas «nada substitui o factor humano». O responsável destaca também o facto de os temas que mais «entusiasmaram» os participantes serem todos os que se «cruzam directamente com as questões do impacto da tecnologia» nas nossas vidas: «Não nas questões técnicas ou funcionais, mas sim as que se cruzam com temas éticos, sociais ou ambientais».

O contributo para um ecossistema nacional
A evolução do ecossistema português de startups nos últimos anos tem tido o contributo da Web Summit – pelo menos, é essa a opinião de Clara Armand-Delile, CEO da ThirdEyeMedia. A responsável referiu que Portugal «é já há alguns anos considerado um dos países mais atractivos para empreendedores, startups e investidores» e que o talento nacional, aliado ao facto de os portugueses serem fluentes em inglês é «sem dúvida um factor determinante para o desenvolvimento de novas startups ou para incentivar startups existentes a mudarem para Portugal». A Web Summit «veio ampliar tudo isto e mostrar ao mundo o talento e o enorme potencial do País».

João Lopes considera que o evento «está a contribuir para a evolução do ecossistema de startups nacional, porque atrai talento para Portugal e beneficia indirectamente as startups» e que o mesmo acontece com os «investidores». Veronica Orvalho diz que o evento traz «uma grande visibilidade às startups» e Vasco Pedro realça que Lisboa está no centro de uma «perfect storm, no bom sentido para atrair empreendedores» e que a Web Summit é «uma âncora», o que tem «impacto no ecossistema». A experiente Jane Hoffer considera que «ajudou o ecossistema crescer» ao juntar «empresas em diferentes estágios», o que faz «progredir as startups». Já o responsável da Bynd Venture Capital destaca que «é relevante para Portugal e para o ecossistema nacional» porque «gera valor local que não é, de todo, replicável com um evento digital».

2021: um bom ano para as startups
Vasco Pedro explicou que em mais um ano de pandemia, a startup teve um ano de crescimento e está «expandir para os outros casos de uso» após o sucesso em customer service, nomeadamente «na área de marketing, permitindo que uma empresa tenha o seu conteúdo actualizado em trinta línguas diferentes». Outra das apostas em 2021 foi numa ferramenta de avaliação da qualidade de traduções automáticas e que «está  ser adoptada como um standard da indústria» e a Language Operations para simplificar e unificar a comunicação das empresas e «trazer a inteligência de artificial para as pessoas não técnicas, democratizando a tecnologia», salientou o CEO.

Para a GoWithFlo , 2021 foi um ano atípico e Jane Hoffer, a CEO da startup, disse que foi um «desafio», mas que a equipa conseguiu concretizar «a expansão para o Reino Unido e Espanha», que era «um dos objectivos» e que «a parceria com a Galp tem continuado a crescer».

Já Mila Suharev, Co-CEO e CPO da Casafari, destacou o investimento recebido, a integração da solução da startups «em cada vez mais CRM e sistemas dos clientes», além de das «inúmeras parcerias conseguidas, que não estavam à espera». A responsável falou ainda do crescimento da equipa que agora conta com 77 profissionais e do facto de estarem «a contratar e da expansão para a Alemanha», o décimo mercado em que a Casafari está presente. O plano em 2022 é «chegar a toda a Europa» já que a empresa vê que há procura em diversas geografias pelo tipo de solução que oferecem.