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O (controverso) custo da nuvem

O tema não é pacífico e muito menos consensual. A indústria diz que a cloud é a salvação para todos os males, os analistas dizem que os custos podem ser elevados, mas que são opções de negócio. No fim da cadeia estão os clientes, que têm de fazer a triagem de toda esta informação.

A nuvem é uma das mudanças de plataforma mais significativas na história da computação. Esta é uma frase que já não precisa de aspas, uma vez que é uma opinião transversal a toda a indústria. A provar a importância está o facto de esta transformação já ter provocado o gasto de biliões de dólares em TI. E, ao que tudo indica, ainda está no início e a crescer rapidamente numa base de mais de cem mil milhões de gastos anuais em nuvem pública, segundo a Synergy Research Group. Essa mudança, diz a empresa de capital de risco Andreesen Horowitz, é impulsionada por uma proposta de valor incrivelmente poderosa – uma infra-estrutura imediatamente disponível, exactamente na escala necessária para o negócio – gerando eficiências tanto em operações quanto em economia. «A nuvem também ajuda a cultivar a inovação à medida que os recursos da empresa são libertados para se concentrar em novos produtos e no crescimento». Parece perfeito.

No entanto, num artigo intitulado ‘O custo da nuvem: um paradoxo de um bilião de dólares’, assinado por Sarah Wang e Martin Casado, a Andreesen Horowitz defende que à medida que a experiência da indústria com a nuvem amadurece – e vamos tendo acesso a um quadro mais completo do ciclo de vida da nuvem na economia de uma empresa – «fica evidente que, embora a nuvem cumpra claramente a sua promessa no início da jornada, a pressão que coloca nas margens [de lucro] pode começar a superar os benefícios, à medida que a empresa escala e o crescimento desacelera». Como essa mudança acontece mais tarde na vida de uma empresa, a Andreesen Horowitz diz ser difícil reverter o processo, já que é o resultado de anos de desenvolvimento com foco em novos recursos, e não na optimização da infra-estrutura. «Logo, uma reescrita ou a significativa reestruturação necessária para melhorar drasticamente a eficiência pode levar anos e geralmente é considerada um fracasso».

Os custos a longo prazo
Os autores defendem que, actualmente, há uma consciência crescente das implicações de custo de longo prazo da nuvem e dizem que, à medida que o custo da nuvem começa a contribuir significativamente para o custo total da receita (COR) ou custo dos produtos vendidos (COGS), algumas empresas deram o «dramático passo» de ‘repatriar’ a maioria das cargas de trabalho, adoptando uma abordagem híbrida.

As empresas que optaram por esta abordagem «relataram economias de custo significativas: em 2017, a Dropbox detalhou no seu S-1 [primeiro semestre] uma economia acumulada de 75 milhões de dólares nos dois anos anteriores ao IPO devido à revisão da optimização da infra-estrutura, o que implicou o repatriamento de cargas de trabalho da nuvem pública».

No entanto, a Andreesen Horowitz admite que a maioria das empresas acha difícil justificar a remoção das cargas de trabalho da nuvem, dada a magnitude desses esforços e, «francamente, à narrativa do sector dominante, um tanto singular, de que ‘a nuvem é óptima’». E até é, diz a Andreesen Horowitz, mas é preciso «considerar o impacto mais amplo também». Porque o cálculo, quando avaliado em relação à escala de capitalização de mercado potencialmente perdida, parece mudar. «À medida que o crescimento (frequentemente) desacelera com a escala, a eficiência de curto prazo torna-se um ponto determinante do valor nos mercados públicos». Ou seja, os autores acrediram que o custo excessivo da nuvem pesa muito sobre a capitalização de mercado, gerando margens de lucro mais baixas.