David Cearley, distinguished VP analyst & Gartner fellow, começou por explicar que o foco das empresas «devem ser as pessoas» e que estas têm de estar no «centro das preocupações». Dentro deste tema, existem três grandes áreas a merecer atenção das organizações sendo a «experiência total» uma delas. De acordo com o responsável, antes a Gartner falava num conceito de «experiência múltipla», ou seja, a forma como as pessoas «interagem com a organização usando vários canais e dispositivos». Contudo, este ano há uma alteração para «experiência total, que combina essa experiência com a do colaborador e do utilizador para transformar o resultado do negócio». Segundo Cearley, este é um canal «crítico em que tem de se começar a pensar».
Outro dos aspectos ligados ao foco nas pessoas é o que se designa por Internet of Behaviors (IoB) e que consiste em «usar as informações dos utilizadores e a sua pegada digital para influenciar o seu comportamento». Os desafios desta estratégia são «a privacidade e as questões éticas, já que só porque se pode influenciar o comportamento, «não significa que se deva fazê-lo», disse David Cearley. É por isso que é preciso, não só ter leis e regulamentos em «constante evolução», como as empresas «devem ter um framework de privacidade e ética de segurança».
Por último, o vice-presidente falou de usar o poder da computação para melhorar a privacidade, «protegendo os dados enquanto estão a ser utilizados, realizando o processamento e a análise de forma descentralizada e encriptando os dados e algoritmos antes do processamento ou análise». Segundo a Gartner, esta é uma abordagem «criada especificamente para a necessidade crescente de partilhar dados», mas que assegura a manutenção da privacidade.
Operações em e de qualquer lugar
A COVID-19 mudou a forma como se trabalha e acelerou o que a Gartner refere como independência de localização. «As empresas têm de aceitar esta nova realidade: colaboradores, clientes, fornecedores e seus activos tecnológicos, bens e serviços podem estar localizados em qualquer lugar do planeta». Por outro lado, «ter operações em qualquer lugar significa ter um modelo de negócio e uma mentalidade remote first, digital first», esclareceu Cearley. [Text Wrapping Break]Para que tudo isto seja possível, é necessário haver uma infraestrutura de cloud distribuída, em vez de híbrida, uma abordagem «complexa e dispendiosa». O analista explicou que, neste tipo de nuvem, «os serviços estão espalhados por diferentes locais físicos, desde o data center ao edge» e a operação, o governance, a arquitectura, a actualização e a evolução do serviço é da «responsabilidade do fornecedor da cloud pública». Desta forma, as empresas deixam de se preocupar com esses temas e podem dedicar-se ao negócio. O responsável salientou a importância desta previsão: «É o futuro. É uma mudança drástica que vemos como umas das principais tendências dos próximos cinco anos e a que trará as maiores possibilidades às empresas». A cibersegurança foi outra área referida nas tendências para os próximos anos. David Cearley esclareceu que a postura das empresas deve ser de «zero trust» e usando o conceito de ‘malha (mesh) de cibersegurança’, uma arquitectura «distribuída para controlo que é escalável, flexível e fiável».
Negócios movidos por hiperautomação e IA
Por último, Cearley falou do fornecimento de serviços resilientes ou adaptabilidade. «Esta noção de arquitectar os sistemas para entregas adaptativas é crítica para organizações resilientes que se adaptam rapidamente aos desafios». Nesta área há também três tendências: negócios inteligentes compostos, engenharia de inteligência artificial e hiperautomação.
«Os líderes de TI aperceberam-se, com a pandemia, da importância de ter processos de negócio adaptáveis e ambientes tecnológicos optimizados e construídos para serem eficientes. Estar preparado para o desconhecido e ser capaz de responder rapidamente às novas oportunidades é uma proposta de valor significativa. Isto são negócios inteligentes compostos e implicam mudanças de mentalidade importantes para muitas empresas», salientou o analista.
David Cearley esclareceu ainda que, para isso, é preciso existir uma «evolução da inteligência artificial (IA) para lidar com os problemas de manutenção, escalabilidade e governança». A engenharia de IA será importante para «lidar» com essas questões, trazendo «a lógica do DevOps», em vez de funcionar «com base em projectos isolados» e sendo «transversal a toda a organização».
Além disso, há também a necessidade da hiperautomação, em que «tudo o que pode ser automatizado o deve ser, mas de forma coordenada» e «não por ferramentas diferentes que não estão ligadas, como acontece actualmente». David Cearley deixou uma mensagem às empresas: «Estas tendências não estão sozinhas, reforçam-se e sobrepõem-se umas às outras, criando sinergias para trazer valor e inovação no futuro». Mas é preciso atenção e «não tentar fazer tudo de uma só vez» Para o responsável é necessário «fazer as mudanças por fases para garantir que funcionam» e ter em consideração as «implicações culturais e organizacionais».
As nove tendências estratégicas da Gartner
Pessoas no centro
- Até 2024, as organizações que proporcionam uma experiência total vão ter um desempenho superior (+25%) à concorrência nas métricas de satisfação do cliente e colaboradores.
- Até ao final de 2025, mais da metade da população mundial estará sujeita a pelo menos um programa IoB, seja privado, comercial ou governamental.
- Até 2025, 50% das grandes organizações vai implementar soluções de computação para melhorar a privacidade no processamento dos dados em ambientes inseguros e em casos de uso com dados de múltiplas fontes.
Independência na localização
- Durante 2023, 40% das organizações vão oferecer uma mistura de experiências virtuais e físicas, que aumentarão a produtividade dos colaboradores e o alcance do cliente.
- Até 2025, a malha de cibersegurança será usada em mais da metade dos pedidos de controlo de acesso digital.
- Até 2025, mais de 50% das organizações vão usar uma opção de cloud distribuída, permitindo modelos de negócio diferenciadores.
Serviços resilientes
- Até 2023, as organizações que adoptaram uma abordagem composta vão ser 80% mais rápidas na implementação de novos recursos do que a concorrência.
- Durante o ano de 2023, pelo menos 50% dos líderes de TI terão dificuldades em ultrapassar a prova de conceito e tornar os seus projectos preditivos de IA maduros e em produção.
- Até 2024, as organizações reduzirão os custos operacionais em 30% ao combinarem tecnologias de hiperautomação com novos processos operacionais.