O guia salarial da Adecco mostra que existem discrepâncias salariais significativas dentro do sector das tecnologias de informação, dependendo da função, da experiência e do nível de especialização. Bernardo Samuel (na foto), director de recrutamento especializado da Adecco, revela que há uma «tendência contínua de crescimento dos salários» e que, em 2024, podem existir «incrementos médios potencialmente superiores a 10%». Os profissionais com remunerações mais altas são os cloud architect engineer (com valores que podem ultrapassar os 60 mil euros ano para um nível sénior), software engineer (entre os 45 e 65 mil euros); system engineer (entre 47 e 65 mil euros); especialista em cloud e engenheiro de redes (entre 40 e 70 mil euros) e pentester e cybersecurity engineer (entre 50 e 70 mil euros). Já as posições com remunerações mais baixas (para profissionais com um nível de experiência similar) estão nas áreas de infraestrutura e administração de redes e software, como os técnicos de suporte de redes (24 a 30 mil euros); computer scientist (28 a 40 mil euros) e software analyst (32 a 42 mil euros). Bernardo Samuel explica que estas diferenças se devem à «variação de responsabilidade e complexidade associadas a cada função, à procura do mercado e à escassez de talentos em áreas específicas, como cibersegurança e cloud computing».
Sobre as diferenças existentes entre Portugal e a Europa, o director de recrutamento da Adecco esclarece que existem «valores muito similares aos de Espanha» o que «tendo em conta a diferença salarial global entre os dois países, se pode justificar com o investimento das empresas internacionais no talento português». Contudo, Bernardo Samuel alerta para o facto de as empresas nacionais terem «muita dificuldade em acompanhar estes valores o que as obriga a procurar talentos noutros mercados, a apostar em perfis mais juniores ou até a externalizar os serviços».
Trabalho remoto é muito valorizado
Segundo a Adecco, o salário continua a ter um papel preponderante, mas há uma «tendência crescente na valorização de outros benefícios», assim como uma subida gradual da importância da «identificação com a missão e os valores da empresa». Além disso, a flexibilidade de horários e o modelo de trabalho remoto são igualmente reconhecidos pelos trabalhadores. Bernardo Samuel faz um balanço do que se passa no mercado: «Temos vindo a verificar que o regresso a uma frequência presencial mais assídua por parte das empresas é um factor que leva muitos profissionais a desconsiderarem propostas de trabalho. Esta realidade evidencia a importância crescente que a flexibilidade de trabalho assumiu para os profissionais de TI. Face a este cenário, defendemos que as empresas necessitam de reavaliar as suas políticas e de se adaptarem às novas exigências do mercado laboral. A adopção de modelos de trabalho mais flexíveis, que permitam aos colaboradores escolher onde e como querem trabalhar, pode ser uma estratégia chave para atrair e reter talentos na área das TI».
Bernardo Samuel indica ainda que, de acordo com a experiência da Adecco, há uma crescente valorização das competências pessoais (soft skills) no sector, quase ao nível das competências técnicas (hard skills)» e que, entre as mais valorizadas se destacam a «colaboração, espírito de equipa, capacidade de comunicação, adaptabilidade, flexibilidade, capacidade de aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal». Por outro lado, o responsável realça a autonomia como uma «competência fulcral», permitindo aos profissionais «executar as suas tarefas de forma independente e ter a proactividade de procurar informações ou soluções, quando enfrentam desafios».