A Web Summit de 2023 foi marcada pelo tema da inteligência artificial generativa, que foi abordado em quase todas as keynotes e mesas redondas; pela saída de Paddy Cosgrave e a chegada da nova CEO, Katherine Maher; e pela ausência das big tech, assim como do forte ecossistema israelita. Isto não foi propriamente um problema, já que trouxe maior foco às startups que registaram um recorde de 2608 participantes, além de 32 delegações nacionais que vieram mostrar o que de mais inovador se faz nesses países.
O número de attendees diminuiu em cerca de mil e vimos grandes espaços vazios nos pavilhões, dada a ausência dos stands de alguns dos maiores players globais do mundo da tecnologia. Porém, a área da conferência cresceu para 215 mil metros quadrados (a maior de sempre) e o público ganhou em facilidade de deslocação e em locais de descanso. Houve também lugar a novos palcos temáticos, como foi o caso do Policy Makers, e de outro dedicado inteiramente à IA, que geraram grande interesse no público presente. Nesta reportagem damos foco a três dos assuntos abordados na Web Summit: a internet, a IA generativa e o ecossistema nacional de empreendedorismo.
Internet é para todos
Na talk ‘How to stop the internet from unravelling’, Sally Costerton, CEO e interim president da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN) explicou que é «importante reconhecer que os governos precisam de regular a internet» já que este é o «seu papel natural». Ainda assim, é «fundamental que os reguladores compreendam como funciona, efectivamente, a Internet». A responsável salientou que, caso isso não aconteça, há o «risco de a regulamentação, de forma não intencional, prejudicar a infraestrutura» e torná-la «fragmentada». É por isso que qualquer regulamentação que seja «adoptada deve manter a interoperabilidade global da Internet», acrescentou. Andrew Sullivan, CEO e president da Internet Society, concordou com esta ideia e sublinhou que é «necessário fazer uma avaliação do impacto, tal como no ambiente, a fim de se testar se a regulamentação proposta vai afectar a Internet e de que forma».
A CEO da ICANN referiu que, em trinta anos, a «Internet se tornou essencial para todo o mundo» e que «nunca ficou sem funcionar». No entanto, Sally Costerton alertou para o facto de que «não se deve partir do princípio de que estará sempre presente».
Interoperável e global
A Internet é politicamente neutra, salientou Sally Costerton, que revelou como os países estão a tentar usá-la como arma, tendo pedido ao ICANN que faça escolhas, por exemplo no caso da guerra da Ucrânia: «Nunca podemos tomar partido de um lado, porque a Internet não pode ser politizada. Caso contrário, começamos a destruí-la. Se a retirarmos de um sistema centralizado, quebramos a confiança, que é o que torna a Internet sustentável. Esta é uma ameaça real». O responsável da Internet Society lembrou que a Internet é «espantosamente robusta», mas que há uma tentativa para a controlar «por parte das grandes organizações».
Andrew Sullivan afirmou que, se isso acontecer e caso essas entidades passarem a «ter todo o controlo», a «confiança na Internet será afectada». Outro dos temas focados foi o crescente nacionalismo: o CEO destacou que este é tema «bastante arriscado», porque a Internet «foi totalmente concebida para não ter fronteiras». Isto é o que «faz com que seja resiliente», referiu. Por outro lado, Andrew Sullivan disse que os «shutdowns estão a aumentar», ou seja, os bloqueios de países, e que isto «pode ser um problema» para a manutenção de uma Internet global.