Reportagem

Inteligência artificial generativa domina Web Summit

A maior conferência europeia dedicada ao empreendedorismo não se resumiu ao Center Stage, o palco principal: teve diversas áreas pequenas onde foi possível aprender mais sobre tecnologia, inovação e não só. A businessIT foi descobrir o outro lado da Web Summit.

Sam Barnes/Web Summit

O futuro da IA
Alex Kantrowitz, fundador do Big Technology Podcast, partilhou seis previsões sobre inteligência artificial generativa. O responsável disse ter reunido estes prognósticos tecnológicos com base nas conversas que teve com diversos empreendedores, CEO e outros líderes de negócio; este especialista começou por avançar que a OpenAI «vai perder o trono» ou, pelo menos, «deixar de ser a líder de IA generativa que é, actualmente». Alex Kantrowitz explicou que a tecnológica está a «entrar num modelo de comoditização com menos margem de lucro», além de ter de enfrentar uma concorrência de peso, de «lidar com a ameaça do open-source». O fundador do Big Technology Podcast afirmou ainda que a OpenAI «está demasiado próxima da Microsoft».

A segunda previsão de Kantrowitz é a de que será a Amazon a «ganhar a guerra da IA» e transformar-se numa «loja com tudo (‘everything store’) para modelos de inteligência artificial». Por outro lado, a tecnológica sai sempre a ganhar, não importa que modelo seja usado, porque as empresas vão «usar «a capacidade de computação da AWS para treinar os modelos e armazenar os dados». Por último, as tendências indicam que, «depois do texto, vamos interagir com a IA generativa por voz» e a Amazon «tem quinhentos milhões de dispositivos Alexa espalhados pelo mundo, ou seja, já tem o hardware nas casas pronto a ser utilizado».

O “Inverno” pode estar a chegar
Em terceiro lugar, o responsável disse que se vai «passar de casos de uso de IA alargados» para «mais restritos», uma vez que os «LLM [large language models] são ineficazes, já que lidam com o conhecimento do mundo e alucinam com muita informação». Os modelos mais restritos vão ser «eficientes» porque são «treinados para situações específicas e com conhecimento especializado». Outra das previsões está ligada à indústria do gaming: Kantrowitz considera que se vai chegar a um ponto em que os jogos se «vão parecer muito mais com a vida real», o que os «vai tornar espectaculares».

A quinta ideia deixada por Alex Kantrowitz é a de que, em breve, vai acontecer a «maior batalha de direitos de autor do mundo», dado que a OpenAI se comprometeu a «pagar os custos legais de violação de copyright de empresas que usem o GPT e sejam processadas». O responsável considera que «um “Inverno” dos direitos de autor está a chegar» e que a forma como isto se desenrolar «pode determinar se vai existir outro “Inverno” da IA». Por último, Alex Kantrowitz afirmou que a IA generativa «não vai substituir os empregos», mas sim tornar os «colaboradores melhores»: tudo o que os patrões querem é «trabalhadores mais eficientes». O fundador do Big Technology Podcast disse ainda que acredita que «quando uma empresa diz que está a substituir os seus empregados por IA generativa geralmente», o que isso significa é que «está a tentar encontrar desculpas para uma má prestação e uma narrativa positiva».

A próxima década
No palco Venture, teve lugar uma mesa redonda sobre o ecossistema tecnológico nacional e o seu futuro. Miguel Santo Amaro, partner da Shilling e CEO/co-fundador da Coverflex, explicou que, actualmente, há «sete unicórnios nacionais, muito dinheiro de capital de risco de Portugal e investidores internacionais de tier 1, que investiram no País», um panorama que não existia quando fundou a Uniplaces, a sua primeira startup. «É necessário promover a próxima década de empreendedores» para o ecossistema evoluir, disse Miguel Santo Amaro. Sobre os próximos dez anos do mercado, o responsável disse que gostava de ver «melhorada» a questão das stock options melhorada, para compensar os «fundadores e colaboradores das startups que arriscam», em vez de irem para empregos confortáveis. O responsável reforçou ainda uma ideia: deve existir «mais investimento por parte de venture capital em Portugal para que os próximos unicórnios se desenvolvam». Já Humberto Ayres Pereira, lembrou que os engenheiros foram os «heróis da última década»; para o CEO e co-fundador da Rows, é «preciso investir noutras áreas, competências» e transformar «mais pessoas em heróis», para fazer avançar o empreendedorismo nacional.

Por último, Teresa Fiúza, vice-presidente da Portugal Ventures, esclareceu que a sociedade de capital de risco tem «colmatado as falhas de mercado na área de pre-seed» e que a empresa quer ter, do seu lado, «mais parceiros privados nacionais e internacionais» para conseguir «lidar com a outra falha de mercado» que a Portugal Ventures ainda não conseguiu corrigir: a «fase de growth». Teresa Fiúza adiantou a que a entidade pública «gostaria que houvesse condições para as startups portuguesas «só fossem para o estrenageiro se quisessem» e não por «necessidade, como acontece actualmente».