O FutureScape é a conferência anual em que a IDC divulga as previsões feitas pelos seus mais de 1200 analistas em diversas áreas. Bruno Horta Soares, leading executive advisor da IDC Portugal, começou por falar das condições que podem mudar estas previsões feitas todos os anos. Entre as desfavoráveis, que podem impedir o crescimento do mercado das TIC e da economia, estão «a continuação da pandemia», a «situação geopolítica», como a invasão da Ucrânia, e a questão da «falta de competências».
Fazendo uma analogia com os ventos, o responsável falou que podem ser considerados «a favor de Portugal», o «Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)» muito assente na transformação digital; a nível global, temos a «retoma da economia em todo o mundo e a aceleração da inovação e das novas tecnologias». Sobre os desafios, Bruno Horta Soares referiu-se aos mesmos como «ventos cruzados» e mencionou a «transição tecnológica, a importância cada vez maior da sustentabilidade e a importância do ecossistema», que se traduz numa «mudança de cultura nas empresas».
Quanto às previsões globais, o responsável destacou que, até 2025, o investimento em transformação digital terá um «crescimento acumulado de 16,5%» e que vai representar «55% de todo o investimento em TIC até ao final de 2024». O leading executive advisor salientou ainda que «mais de metade das organizações já tem uma estratégia de transformação digital».
Maior maturidade da cloud
Bruno Horta Soares falou também da cloud e de como, em Março de 2020, as organizações de todo o mundo perceberam que a nuvem «não era apenas uma evolução tecnológica, mas uma capacitação para que conseguissem verdadeiramente dar a respostas aos desafios, incertezas e oportunidades», referindo-se à importância da cloud para a sobrevivência de muitas empresas durante a pandemia. O responsável realçou ainda que «não há transformação digital sem cloud».
Neste sentido, outra das previsões da IDC diz respeito à maturidade da cloud nas organizações que tem «foco na modernização aplicacional». Desta forma, até 2024, «a maioria das aplicações de legacy serão modernizadas através da nuvem, para serem mais eficientes, ágeis e resilientes», acrescentou.
Além disso, o advisor da consultora avançou que, até 2025, «60% das organizações implementarão serviços dedicados cloud para lidarem com os requisitos de desempenho, segurança e conformidade».
Portugal não é diferente do mundo
A IDC prevê que, até 2025, 90% das organizações europeias terão falta de recursos de TIC e que «irão faltar mais de 1,15 milhões de profissionais na Europa Ocidental». Esta falta de recursos irá custar cerca de «250 milhões de euros por ano às empresas», revelou Gabriel Coimbra, group vice president & country manager da IDC Portugal. No mercado nacional, a falta de talento situar-se-á em «pelo menos dez mil profissionais até 2025». Ainda assim, o investimento em tecnologia irá aumentar.
Os dados da IDC mostram que o mercado TIC, em Portugal, crescerá 5% ao ano, entre 2021 e 2025, mas apontam para um crescimento de dois dígitos ao nível da terceira plataforma (cloud, mobile, big data e redes sociais) e aceleradores de inovação (IoT, realidade virtual e aumentada, robótica, inteligência artificial), tal como acontecia no ano passado, assim como um «decréscimo de 4% ao ano» no que diz respeito às tecnologias da segunda plataforma (computadores, servidores, redes).
O responsável explicou que, em Portugal, «o crescimento médio do investimento em transformação digital será de 14,5%», o que fará com que a digitalização da economia «represente 50% de todo o investimento em TIC até ao final de 2025». O country manager disse que este valor «é ligeiramente mais baixo que o europeu e mundial», mas mostra que o País «segue a tendência do resto do mundo».
Sobre a área de cloud, Gabriel Coimbra referiu que o «investimento na nuvem pública cresceu 25% em 2020, 22% em 2021» e que ultrapassou os «trezentos milhões de euros» – para 2022, o «aumento previsto é na ordem dos 20%». Por outro lado, a despesa on-premise e em tecnologias de segunda plataforma «tem vindo a perder importância nas organizações nacionais» e representa «apenas 35% da despesa total».
Por outro lado, ao nível do IoT, as despesas relacionadas com os casos de uso relacionados com o 5G vão «ascender a 1,2 mil milhões de euros em 2025», segundo o responsável. Isto corresponde «a um crescimento anual médio de 12,2%».
Despesas com segurança crescem
Os estudos da IDC mostram também que, nos próximos três anos, 33% das PME vão sofrer fortes disrupções derivadas de incidentes de segurança, que irão «causar interrupções nos negócios de pelo menos uma semana por trimestre». Além disso, até 2024, a consultora prevê que «60% das principais empresas europeias aumentarão em 20% os gastos anuais em resiliência cibernética» para protegerem os seus activos. Este aumento irá gerar um investimento adicional de «5,9 mil milhões de euros até 2024». Em Portugal, a IDC prevê que as despesas com cibersegurança ultrapassem os «duzentos milhões de euros em 2022, apenas em tecnologia», disse Gabriel Coimbra.
No que diz respeito às alterações climáticas, em 2023, «60% das organizações europeias irão ter como prioridade investimentos digitais para objectivos relacionadas à sustentabilidade, o que irá gerar mais de cinquenta mil milhões de investimento». Já a nível nacional, os investimentos directos na transição climática «irão representar cerca de 20% do PRR», concluiu o responsável.
Cada vez mais startups nacionais
No estudo ‘Startup & Entrepreneurial Ecosystem Report Portugal 2021’, a IDC identificou mais de duas mil startups em Portugal. Gabriel Coimbra explicou que este valor corresponde «a mais 13% que a média europeia» e que o investimento em startups e scaleups com origem nacional «cresceu mais de 100%» e «ultrapassou os mil milhões de euros em 2021». O responsável sublinhou ainda que «os sete unicórnios com DNA português já valem mais que um terço do PIB português».