Portugal, sobretudo Lisboa, parece ser um verdadeiro ‘petisco’ para as fintechs. Sobretudo pelo facto de, no País, ainda ser possível, mais que captar talento, retê-lo por valores relativamente mais baixos, quando comparados com os praticados em outras cidades da Europa.
Segundo um estudo da Savillis, lançado no final do ano passado, Lisboa era a terceira cidade na qual um programador de software imputava menos custos a uma empresa, perto de 35 mil euros por ano, um valor de quase metade da média europeia, centrado nos 67 mil euros. Esta questão é particularmente relevante, se levarmos em conta que 55% dos custos totais destas empresas dizem respeito aos recursos humanos. «O mercado de pessoas ligadas à área das tecnologias tem vindo a sofrer um claro aumento da procura, sobretudo nas áreas mais relacionadas com o ‘ecossistema’ da cibersegurança», disse à businessIT Miguel Abrantes, consultor de recursos humanos. A par da tecnologia, o ramo da saúde, «para projectos de índole privado, tem igualmente sofrido uma maior procura», uma situação enfatizada, segundo o especialista, por todo um contexto de pandemia.
A análise da Savills conclui que Portugal é atractivo para este tipo de empresas, nomeadamente fintechs, por ter profissionais altamente qualificados no sector das tecnologias da informação e uma crescente (e reconhecida) qualidade do sistema de ensino superior. Claro que, aqui, as condições de vida são igualmente tidas em conta, um capítulo onde Portugal continua a marcar pontos.
Custo por metro quadrado também ajuda
Outro aspecto que coloca Lisboa entre os locais preferidos para a instalação deste tipo de empresas é o facto de estar em quinto lugar da tabela dos países com menor custo por metro quadrado de escritório, atrás de cidades como Bucareste, Praga, Varsóvia ou Atenas. Alexandre Braga, promotor imobiliário, explicou à businessIT que empresas de tecnologias e fintech procuram, sobretudo, «open spaces com áreas generosas, onde a sustentabilidade dos edifícios seja tida em conta e haja alguma centralidade». Muitas vezes, são empresas «compostas por pessoas oriundas de várias geografias, cuja mobilidade se centra na oferta pública, nomeadamente o metro»; aqui, Lisboa «ainda continua a ter alguma oferta».
Aliás, no documento da Savills vem mencionado que o green financing, ou o financiamento de projectos que tenham como objectivo a protecção e sustentabilidade ambiental, tem vindo a impulsionar o mercado fintech na Europa, nomeadamente empreendimentos relacionados com as energias renováveis, prevenção da poluição, conservação da biodiversidade, economia circular ou a utilização sustentável dos recursos.
«Portugal apresenta-se como um destino europeu muito atractivo para o estabelecimento de empresas fintech. O País oferece um full package extremamente interessante, aliando um custo de vida abaixo da média europeia a um clima de estabilidade política e paz social e a uma contínua aposta na conectividade através do desenvolvimento das áreas da inovação e da tecnologia», diz Alexandra Gomes, head of research da consultora, num comunicado da empresa. Só nos primeiros nove meses de 2021, aquando do lançamento do estudo, registou-se um volume de investimento em capital de risco de mais de vinte mil milhões de euros, na Europa – esta é uma realidade potenciada pelo facto de, nos últimos três anos, o volume de consumidores europeus que querem passar a usar exclusivamente serviços bancários digitais subiu de 49% para 62%.
Londres ganha a corrida
No lote das empresas que mais investimento atrai para o segmento fintech, Londres está em primeiro lugar, com um total de dezoito mil milhões de euros, nos últimos cinco anos. Atrás ficam Paris e Berlim, Amesterdão e Dublin, encerrando o top 5. Para este ano, Alexandre Braga diz que a tendência identificada pela consultora deverá manter-se, «até pelo facto de Portugal se apresentar como um País relativamente seguro, agora que a Europa se vê envolta num clima de suspeição constante de guerra».