Reportagem

IDC FutureScape: despesa com TIC vai crescer 0,9% ao ano até 2024

A consultora apresentou as suas principais previsões para o mercado das TIC. A aceleração da transformação digital trazida pela pandemia foi e será o maior “motor”. O mercado nacional vai crescer 0,9% ao ano e chegar perto dos nove mil milhões de euros, em 2024.

O IDC FutureScape é o evento onde a consultora divulga as previsões feitas pelos seus analistas com base em entrevistas a representantes de todo o ecossistema empresarial, entre empresas de diversas dimensões, startups, reguladores, investidores e administração pública. Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC, revelou as principais tendências, a nível global, para os próximos anos e que estão ligadas à transformação digital.

Em 2022, a IDC prevê que «65% do PIB mundial esteja digitalizado», sendo que isso significa «não só produtos e serviços, mas também processos e activos». Por outro lado, em 2023, «mais de dois terços das organizações terão os seus roadmaps de transformação digital alinhados com a sua estratégia de negócio» e a gestão também terá um papel fundamental: «Temos visto uma maturidade enorme ao nível da gestão e por isso, dentro de dois anos, 60% das empresas já terão novos modelos operacionais, mais ágeis inovadores e centrados nos clientes».

Gabriel Coimbra revelou ainda que vai acontecer «um enorme crescimento das plataformas digitais», uma vez que as empresas estão a usar «para posicionarem novos produtos, serviços e modelos de negócio para trazer experiências diferenciadores para clientes e consumidores». Uma «estratégia digital-first» e «uma cultura digital no seio da organização» foram outras das tendências apontadas pelo country manager: «Acreditamos que os processos de transformação digital vão estar cada vez mais alinhados com aquilo que tem que ver com a estratégia de sustentabilidade económica, social e ambiental das organizações. No futuro, as organizações necessitam de ser cada vez mais resilientes, ágeis e capazes de inovar rapidamente, de forma a adaptarem-se numa economia cada vez mais digital».

O impacto da pandemia em Portugal
A IDC criou um framework que descreve cinco fases em que as organizações se podem posicionar durante e no pós-pandemia. Numa primeira etapa, as organizações respondem à situação, depois há contenção de custos, uma altura de resiliência, seguida por uma fase de investimento para conseguirem voltar a crescer e inovar e que no final há uma nova normalidade, em que voltarão a ser competitivas.

Com base nisto, a IDC realizou, em Fevereiro, inquéritos para perceber a situação das empresas nacionais: 18,7% ainda está numa fase de continuidade de negócio; 15,4% está em fase de optimização de custos; 32,5% estão a assegurar a resiliência do negócio; 11,4% a fazer investimentos direccionados para a regressar ao crescimento e 22% já estão preparadas e no caminho daquilo que a IDC designa como a ‘empresa do futuro’.

Gabriel Coimbra explicou como a consultora vê o mercado português: «Há uma enorme simetria no mercado nacional. Se por um lado temos um 1/3 das empresas que já estão em investir em inovação para serem mais ágeis e crescer o negócio, ou seja, estão focadas na nova normalidade; por outro lado temos 1/3 que ainda estão em fase de resposta à crise pandémica e económica, ou seja, focadas na sobrevivência».

Investimentos em TI não param
Numa outra consulta às organizações, feita no final do ano passado, a IDC apurou que, apesar da pandemia, as empresas nacionais querem «manter os seus investimentos» em tecnologia e que isto acontece mesmo «com aquelas que estão ainda nas fases de crise do modelo». As organizações estão a investir em TI para aumentar a resiliência e a competitividade», disse Gabriel Coimbra. Este investimento «tem sido e será canalizado para a transformação digital das organizações», referiu.

Face a isto tudo, a IDC avançou com números que mostram que a despesa com TIC teve um «decréscimo de 1,7%» em Portugal, quando as previsões iniciais apontavam um valor bastante superior quase na ordem dos 5%. De 2021 até 2024, os gastos com TIC devem crescer 0,9% (ao ano) e chegar aos 8 948 milhões de euros. Mas há variações, consoante os segmentos: no hardware, a despesa com IaaS vai aumentar 30%, mas as restantes categorias têm um crescimento reduzido. «Apesar do boom na venda de computadores, esta área vai diminuir no futuro e a despesa com periféricos vai ser negativa até 2024», esclareceu o responsável. Ao nível do software, as aplicações colaborativas e de redes crescem mais de 10% e o CRM também aumenta acima da média. Já nos serviços, serão os de desenvolvimento aplicacional, consultoria de negócio e de TI a crescer mais que a média do mercado.

Dimensão e sector contam
Gabriel Coimbra salientou que, no que diz respeito à despesa com TIC, «há diferenças por sector», mas que «a grande maioria vai aumentar nos próximos anos». A saúde será uma das áreas de actividade que cresce «acima da média», enquanto os transportes/indústria vão «estagnar» e os serviços profissionais (que incluem a hotelaria) vão «decrescer».

Quanto à dimensão, o segmento das micro-empresas (menos de dez colaboradores) é o mais afectado: «É o único em que a despesa com TIC vai decrescer». O investimento em TIC nas restantes organizações cresce até 2024 – as maiores empresas (com mais de mil colaboradores) e as médias, (de 100 a 499) terão um maior aumento da despesa.

Cloud, analítica e segurança
O responsável acrescentou que, nos próximos doze meses, os maiores investimentos serão feitos em tecnologias que fazem parte do que a IDC identifica como a ‘terceira plataforma’ (cloud, mobilidade, social business e big data) e os ‘aceleradores de inovação’.

Assim, a nuvem lidera com o investimento a crescer em todos os segmentos, IaaS, PaaS e SaaS – as receitas de serviços públicos de cloud, em 2019, foram de 195,8 milhões e a IDC estima que cheguem 458,9 milhões dentro de três anos, com um ritmo de crescimento de 16,4% ao ano.

Já no caso do big data e da analítica, que teve uma quebra em 2020, a despesa vai crescer a um ritmo de 4,3% ao ano até 2024, chegando aos 312,8 milhões. A cibersegurança, registará um aumento de 6,3%, chegando aos 219,8 milhões de euros, em 2024. Neste segmento, as despesas com hardware descem e serão reforçadas ao nível da segurança de informação. O IoT será outra das áreas de destaque, disse Gabriel Coimbra, com a despesa nesta área a crescer 12,8%.

O group vice president e country manager da IDC realçou que, em Portugal, ainda há «um longo caminho a percorrer», mas que «a aceleração do último ano» permitiu ao País «dar um salto tecnológico brutal e essa tendência continuará em 2021». Gabriel Coimbra deixou um recado às organizações e aos CEO: «No actual contexto, é preciso visão e coragem para acelerar ainda mais a transformação digital».